sábado, 1 de março de 2014
Almodovar à portuguesa
Portugal tem finalmente uma resposta ao espanhol Pedro Almodovar: Maria José Silva, uma queijeira do Porto que é também realizadora de cinema, tendo produzido já 12 filmes amadores nos últimos 20 anos. A simpática sexagenária, uma senhora muito "despachada" e sem papas na língua foi convidada do programa "Praça da Alegria", onde falou da sua paixão, que é o cinema, de como escreve, dirige os actores, realiza e produz as suas próprias películas. Para a última delas, "Mulheres Traídas", inspirou-se em cenas da vida real que presenciou na sua mercearia, a Queijaria Amaral, neste caso a história "dum belho", que conheceu "uma noba", meteram "cunbersa" e acabaram na residencial onde ela vivia - desconfio que esta apesar de "noba" já era bem experiente, se é que me faço entender. No video em cima, o "making of" deste novo projecto da queijeira cinéfila, vemos o marido da dona Maria José Silva dizendo que "gosta de ver o que ela faz, e de como as pessoas a apoiam", mas que "não tem é paciência para aquilo dos filmes, que são uma maçada". A senhora explica que "não tira férias há 40 anos", e que todo o dinheiro que poupa "é usado nos filmes" - que são de péssima qualidade, como foi deixado a entender em alguns "clips" apresentados na Praça da Alegria. Isto fica logo patente na qualidade do próprio filme, que mais parece resgatado de um caixote do lixo das traseiras dos estúdios da Tóbis, e a representação é simplesmente patética; chamá-la apenas de "amadora" seria cometer uma desonestidade intelectual. Mas não pensem que com isto estou a desvalorizar o trabalho da senhora, nada disso. Os "actores" que usa são parentes, amigos ou vizinhos, que não recebem um centavo, tal como a própria realizadora, que não pede subsídios ou qualquer tipo de apoio estadual ou de entidades privadas: sai tudo do seu próprio bolso. No fim o resultado é igual ou até melhor que muito do que se faz no cinema português, pesadamente subsidiado com os impostos pagos pelos portugueses. Os nossos realizadores artolas tinham muito que aprender com a senhora Maria José da Silva.
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