sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: Falco


Johann "Hans" Hölzel nasceu em Viena no ano de 1957, e terá sido o maior nome do mundo da música a sair da capital austríaca depois de Wolfgang Amadeus Mozart - apesar deste último ser natural de Salzburgo. E de facto ambos tiveram uma educação clássica, mas o jovens Hans tinha outras ideias. Aos 5 anos entrou no Conservatório da sua cidade natal, onde se confirmou que tinha um ouvido musical perfeito. Em casa escutava os mesmos sons que qualquer jovem dos anos 60: Elvis Presley, Beatles ou Cliff Richard, entre outros, e decidiu que queria ser uma estrela "rock". Deixou a escola aos 16 anos, trabalhou durante uns tempos numa agência de seguros e alistou-se no exército austríaco como voluntário durante oito meses. Regressou ao Conservatório de Vienna, mas pouco depois viagem até Berlim, onde se juntou a um agrupamento de "jazz-rock", tocando em clubes nocturnos. Voltou ao Conservatório para ser "um músico a sério", e já com um nome artístico: Falco, dedicado ao esquiador da RDA Falko Weißpflog. Decidiu trocar o "k" pelo "c" para tornar o seu nome mais internacional, e mais tarde saberia que tinha acertado em cheio ao tomar essa opção.


Juntou-se à banda "punk-rock" Drahdiwaberl, que durou cinco anos entre 1978 e 1983. Foi com eles que gravou aquele que viria a ser o seu primeiro trabalho conhecido a solo, "Ganz Wien". Um tema inspirado na cena nocturna vienense e no consumo de drogas. Foi aí que conheceu a sua outra paixão além da música: a cocaína. Contudo os excessos não o impediam de se manter focado no lançamento da sua carreira a solo, e em 1981 saía o seu primeiro álbum, "Einzelhaft", ou "Encarcerado", que além de "Ganz Wien" continha ainda o seu primeiro grande êxito, "Der Komissar", que deixou a Europa inteira a dançar nesse ano. "Einzelhaft" incluía ainda outros temas fortes, como "Zuviel Hitze", "Auf der Flucht", "Maschine brennt" ou "Helden von heute", todos incluídos nas várias compilações futuras de Falco. Pode-se dizer que para disco de estreia não estava nada mal, e a fama do cantor ultrapassava as fronteiras dos países de língua alemã - a Alemanha e a Áustria.


O sucessor de "Einzelhaft" chegaria em 1984, com o título "Junge Römer", ou "jovens romanos", que era também um dos temas mais fortes. "Tut-Ench-Amon", "Brilliantin' Brutal'", "Ihre Tochter" ou "No Answer (Hallo Deutschland)" são outras faixas conhecidas, que valeram ao disco o 1º lugar do top na sua Áustria natal, e surpreendentemente o 2º lugar em Espanha. Mesmo assim o sucesso ficou aquém do trabalho de estreia, e foi aí que Falco resolveu mudar de imagem, incluir mais letras em inglês nas suas canções, e contratar uma nova equipa. Foi aí que entraram em cena os irmãos Ferdi e Roland Bolland na produção, e Robert Ponger a ajudar na composição das letras e das músicas. E deitaram logo mãos à obra.


O terceiro álbum, "Falco 3", simplesmente, saíu em 1985, e foi um sucesso enorme na Alemanha e na Áustria nesse ano, e no mundo inteiro no ano seguinte. O single de assinatura tanto do disco como de toda a carreira de Falco foi este "Rock me Amadeus". Aproveitando o sucesso do filme "Amadeus" de Milos Forman, no ano anterior, Falco resolveu fazer a sua própria homenagem ao seu conterrâneo, dando-lhe uma roupagem e um som mais "rock". O que ficou mesmo no ouvido foi o refrão, e não era preciso saber alemão para entoar "Amadeus, Amadeus, oh oh oh Amadeus". Mas o tema era sobretudo em alemão, sim, e entrou para a história como o primeiro (e até agora único) single nessa língua a chegar ao nº 1 do Billboard 200, nos Estados Unidos. Falco, esse, tornou-se numa celebridade mundial. Mozart passava a ter companhia como o músico mais famoso da Áustria.


"Falco 3" era mais do que "Rock me Amadeus", e outro single que fez impacto, sobretudo na Europa, foi "Jeanny", uma história policial sobre um homem que rapta uma adolescente por quem se apaixonou, e que causou grande polémica por demonstrar simpatia com o sequestrador. Muitas estações de radio recusaram-se a tocar o tema. Outros temas de sucesso foram "Vienna Calling", que completa o pódio dos que ficaram como de referência do disco, além do romântico "Munich Girls", do roqueiro "America" - Falco outra vez a piscar o olho ao novo continente - ou o divertido "Tango the Night". O álbum terminava com um regress do cantor aos seus dias do "jazz-rock", com uma versão de "It's all over baby blue", um original de Bob Dylan.


Embalado pelo sucesso do registo anterior, Falco lança em 1986 o seu quarto trabalho, "Emotional", que foi "vítima" na popularidade tardia de "Falco 3" a nível mundial. Pelo meio ficou ainda um dueto com Brigitte Nielsen, modelo e actriz dinamarquesa na altura mais conhecida por ser casada com Sylvester Stallone. "Body next to Body" é ainda hoje considerado um passo discutível na carreira de Falco. O primeiro single de "Emotional", que era relegado para segundo plano pelo "disco que continha o Amadeus", era "The Sound of Musik", destacando-se ainda este "Emotional", que dá o nome ao disco, e a segunda parte da história de "Jeanny", intitulada "Coming Home". Falco tinha aprendido alguns truques comerciais, incluindo temas como "Cowboyz & Indianz" ou "The Kiss of Kathleen Turner", mas "Emotional" chegaria a nº 1 nas incondicionais Alemanha e Áustria, mas teve vendas discretas no resto do mundo.


"Emotional" terá sido o canto do cisne para Falco no que diz respeito aos anos 80. Em 1988 saíu "Wiener Blut" ou "sangue vienense", que passou despercebido nos circuitos internacionais, e em 1990 dá-se uma aproximação à música electrónica com "Data de Groove", que também teve uma recepção fria. Falco recuperaria algum do seu carisma perdido com "Nachtflug" ("vôo nocturno") em 1992, que continha o tema "Titanic", e depois seguiu-se um período negro na vida do cantor, com reflexos na sua carreira. Primeiro descobriu que não era o pai biológico da sua filha, e depois disso começaram a acentuar-se os problemas com o consumo de cocaína. Em 1996, depois de um interregno de quatro anos, sai o single (e nem de propósito) "Mutter, der Mann mit dem Koks ist da" ("Mãe, está aqui o homem da cocaína"), e dois anos depois sai aquele que seria o seu último trabalho de originais "Out of the Dark (Into the Light)". Semanas antes do disco ser colocado nas prateleiras, Falco perdia a vida num acidente de automóvel na Costa Rica. Foi o derradeiro "truque" do homem que alguns consideravam louco, e que por alguns instantes nos anos 80 pensou que era Amadeus.

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