quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Os sons dos 80: Cyndi Lauper
Cyndi Lauper: um ícone da moda nos anos 80.
"She's so Unusual" - "ela é tão diferente", foi esse o álbum de estreia de Cyndi Lauper, que dizia tudo da sua imagem de marca. Os trapos coloridos e rasgados que lhe serviam de roupa, o cabelo espetado multicromático, a maquilhagem rebelde, a voz que berrava como se fizesse questão que todos a ouvissem, era esta a Cyndi Lauper que subiu a pulso e só atingiu o estrelato em plenos anos 80, quando já contava com 30 anos de idade, e uma carreira feita por caminhos íngremes. Nascida Cynthia Ann Stephanie Lauper em Nova Iorque, no ano de 1953, Cyndi Lauper era um produto do "melting pot" americano - pai de origem alemã e suíça, mãe italo-americana. Os pais divorciaram-se quando Cindy tinha cinco anos, e a mãe, com quem ficou, voltaria a casar-se, e divorciar-se novamente. Apesar de ter sido educada pelos valores católicos, demonstrava uma rebeldia precoce, e ainda nova começou a tingir os cabelos. Depois de ter passado os anos 70 a cantar por clubes nova-iorquinos, fundou em 1980 o grupo Blue Angel, com o saxofonista John Turi. Separaram-se ao fim de dois anos, mas o seu alcançe vocal único value-lhe um contrato com uma subsidiária da companhia discográfica Epic, e uma oportunidade de gravar um disco a solo.
O resultado foi "She's so Unusual", que de tão original que era em termos de som, estilo e temática foi um sucesso imediato entre o público norte-americano, dominado pela geração MTV. O single com maior êxito foi este "Girls Just Wanna Have Fun", o cartão de visita da cantora, e o hino feminista a que ainda hoje é associada. Além deste foram ainda singles "Time After Time", "She Bop", "All Through the Night", e "Money Changes Everything", todos com entrada no top-30 da Billboard. O próprio álbum chegou ao 4º lugar, e Cyndi Lauper não podia ter tido melhor estreia. Esgotado o "sumo" do disco de estreia, Cindy gravou em 1985 o single "Goonies'R'goos Enough", para o filme "Goonies", produzido por Steven Spielberg, que a tornou directora-musical da banda Sonora do filme. O single foi o seu quinto nº 10, e em meados dos anos 80 Lauper era conhecida por "aquela rapariga esquisita e maluca". E rica, também.
O seu sucesso galopante valeu-lhe uma participação no super-grupo USA for Africa, que em Julho de 1985 gravou o single "We are the World", cujas regalia reverteram para as vítimas da grande fome na Etiópia. Em 1986 Cyndi Lauper grava o seu segundo trabalho de originais, que revela uma maior maturidade, tanto a nível musical como pessoal. "True Colours" eram o nome do álbum e do tema de apresentação, que foi nº 1 no Billboard durante duas semanas, valeu-lhe o Grammy para melhor intérprete feminina nesse ano, vendeu mais de um milhão de cópias, e foi posteriormente gravado por outros artistas, sendo a versão mais famosa a de Phil Collins. O vídeo, que vemos em cima, mostra uma Cyndi Lauper mais taciturna e séria que a desvairada de "Girls just wanna have fun", três anos antes, mas isso não só manteve a sua legião de fãs, como ainda lhe trouxe outros que antes não a levavam a sério.
Os anos 80, tão produtivos para Cyndi Lauper, iam chegando ao fim, e a cantora procurava - estranhamente, diga-se de passagem - assumir uma postura cada vez mais séria. Em 1989 sai o seu terceiro LP, "A Night to Remember", que além do single homónimo continha ainda uma versão de um clássico de Roy Orbinson, "I Drove all Night", que lhe trouxe mais uma nomeação para os Grammys. O novo trabalho teve uma recepção mista da crítica e dos fãs, que não conseguiram encontrar nele um seguimento dos dois registos anteriores. A voz estava lá no seu potencial máximo, mas faltava a irreverência de "She's so Unusual", e ficava por cumprir a promessa de grandeza que "True Colours" prometia.
A carreira de Cyndi Lauper continuou pelos anos 90 até hoje, desde "Hat full of Stars", de 1993, até ao seu último trabalho, "Memphis Blues", de 2010, mas sem conseguir transferir para a modernidade a originalidade que evidenciou nos anos 80. O seu último fôlego terá sido em 1994 com a edição da colectânea "Twelve Deadly Cynds", onde reuniu doze dos seus temas de maior sucesso, e ainda conseguiu reabilitar o clássico "Girls just wanna have fun" numa nova versão. Nesta compilação encontrava-se o tema "The World is Stone", que para mim mostra Cyndi Lauper no seu melhor. O tema é uma adaptação do original francês de 1978 "Le monde est stone", do musical "Starmania", de Tim Rice, e Lauper dá-lhe um encanto especial. Actualmente com 60 anos e longe do estatuto que fez dela uma das grandes "divas" dos anos 80, Cyndi Lauper deve ter saudades do tempo em que era tão diferente - "so unusual".
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