quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Pão prá multidão (2ª parte)
Na primeira parte deste "post" especialmente longo, sinto que fui um bocadinho injusto com a padaria Maxim's, mas na verdade ainda não disse tudo o que tinha para dizer, e depois disso prometo que vou ser igualmente injusto para a concorrência. Pode-se dizer como conclusão que a Maxim's é um sucesso porque corresponde ao paladar local. Tem ainda algumas coisinhas que se comem bem, além das sandes de carne assada e os saudosos croissant de amêndoa, ou do pão durante os primeiros 120 minutos depois de sair do forno. Têm uma espécie de "palmier" que por aqui é conhecido por "borboleta", e tem um bolo de mel assim-assim, apesar de ter aspecto (e côr) de bosta de vaca. Por outro lado têm um sanduíche que sai de manhãzinha a que chamam "Golden Treasure" (!), que consiste num pão mole com uma parcela de costeleta panada, dois quartos de salsicha descongelada, uma fatia de alface e maionese, e está sempre fria. Para cada bela há sempre um senão a cheirar mal e cheio de moscas.
E por falar em cheiros, existe uma pastelaria da St. Honoré na Travessa da Sé que tem no ar um aroma a pizza de azeitonas. E de facto vendem-se ali mini-pizzas não só de azeitona, mas também de queijo e fiambre e de ananás e fiambre, vulgo "hawaiana", além de outros salgados e sanduíches interessantes. O problema são os bolos, que parece ser o calcanhar de Aquiles da pastelaria chinesa. É costumeiro receber nos casamentos ou noutras ocasiões festivas cupões que podem ser trocados por meia dúzia de bolos na St. Honoré's. O problema é que aqueles bolos são uma lástima, e mesmo recorrendo ao truque de acumular dois cupões e levar bolos de qualidade superior, estes também não me enchem as medidas. Peço desculpa. Há ainda a padaria New Mario, cuja oferta é semelhante à da St. Honoré's. Simpatizo com a New Mario sobretudo pelo nome. Faz lembrar um dos gémeos italianos heróis dos jogos da Nintendo.
Ainda há poucos anos abriu no NAPE o Caffé Free, que actualmente tem o seu quartel-general na Praia Grande, na esquina da Rua da Sé. O início foi promissor, mas rapidamente a empresa seguiu o rebanho das restantes e adaptou a produção ao gosto local. Eu raramente lá entro, mas da janela consigo visionar pão com cores esquisitas, entre o verde e o roxo, e um tipo de sanduíche semelhante à nossa bola de carne, mas com as devidas distâncias. É como se o Corcunda de Notre-Dame e o sr. Burns dos Simpsons se tivessem juntado para fazer uma bola. Mas deixando de lado a bola e passando aos bolos, o Caffé Free tem uma pastelaria sofrível, o que já não é nada mau. O destaque vai para os bolos de aniversário, e vou mesmo ao ponto de recomendá-los em caso de emergência, tenham todas as outras opções fracassado. O que não entendo bem foi a mudança da estratégia inicial, que aliás esteve na génese do nome da empresa. Quando o Caffé Free abriu, oferecia-se um café grátis ("free", capisce?) na compra de um bolo. Agora nem um bom dia dão de graça.
Mas no meio de tudo isto, não há nada que redima as padarias de Macau? Por incrível que pareça, há! Há mesmo, e chama-se Padaria da Guia, e logo por sorte tenho uma mesmo aqui à mão de semear, na Rua 5 de Outubro. Mas o que tem esta Padaria da Guia que as outras não têm? Muita coisa. Claro que tem a sua quota parte de porcaria, mas eleva-se ao firmamento das padarias do território com os hamburgueres de costeleta de porco, de galinha e de peixe - e tudo isto em pão de hamburguer! Tem ainda o "hot dog" - em pão de hot dog! - e ainda é do melhor que se pode encontrar por aí em material de "hot dog". É uma salsicha aparentemente saudável, entalada no pão indicado para o efeito, e com um fio de ketchup, e outro de maionese. Quem quiser acrescentar mais alguma coisa , pode fazê-lo em casa, e quem não gosta de ketchup ou de maionese, ou de nenhum dos dois, pode limpá-los facilmente da salsicha. A Padaria da Guia é lieralmente o farol que ilumina as padarias em Macau.
Claro que não é possível falar aqui de todas, e deixei de fora o Lord Stow's/Café e Nata, por exemplo, porque julgo não se inserirem no âmbito do tema do artigo. Assim como as padarias portuguesas, muito discretas e tímidas na função de justificar a fama do pão de Portugal, um dos melhores do mundo. Não existe uma padaria portuguesa per si, e o nosso tradicional papo-seco ou pão-de-leite encontra-se exclusivamente em alguns supermercados que vendem produtos nacionais (nacionais de Portugal, entenda-se). O Ou Mun Café teve algum impacto no mercado, entre os consumidores lusos que não dispensam o nosso método. Há outra marca cujo nome deve ser aquele que estou a pensar, mas como não tenho a certeza e não quero aborrecer ninguém, não vou arriscar. Acontece que ouvi dizer que esse pão é fabricado num armazém da Areia Preta, onde residem muitos parentes do sr. rato. Rumores que carecem de fundamento, e portanto serão apenas calúnias. Só para acabar com uma nota positiva.
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