quarta-feira, 17 de abril de 2013

Tratando dos mortos


O convidado do "Cinco para a meia-noite" desta terça-feira foi o dr. José Pinto da Costa, médico-legista e criminologista, responsável pelo Instituto de Medicina Legal do Porto, e professor desta cadeira na Faculdade de Direito da Universidade da invicta. É ainda irmão mais velho do presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, como o nome indica. Pinto da Costa, 79 anos de idade mas ainda em grande forma, já realizou mais de 30 mil autópsias. É obra. Um pequeno cálculo de algibeira permite entender a dimensão deste feito. Digamos que o doutor faz autópsias há 50 anos - estimativa conservadora -, à média de uma por dia (incluíndo Sábados e Domingos) daria qualquer coisa como 18 mil autópsias. Bem longe das 30 mil. Terão havido dias que o dr. Pinto da Costa terá cortado dez cadáveres ou mais. Não haverá no Porto família em que pelo menos um elemento não terá passado pelo bisturi do medico-legista. Imagino uma mãe que leva o seu filho pequeno pela rua ao deparar com o doutor e dizer com orgulho: "Estás a ver filhote? Aquele é o senhor que abriu o avô ao meio". Entre as mais de 30 mil autópsias o dr. Pinto da Costa terá deparado com situações que tirariam o apetite aos mais sádicos: cadáveres desfeitos, em avançado estado de decomposição ou exumados. A sua atitude perante a sua ingrata profissão é fria e descontraída, e diz muito filosoficamente que "a morte não existe: é apenas o fim de uma etapa". É a matéria que se transforma, e nada mais que isso.

No programa de ontem, apresentado por Zé Pedro Vasconcelos, Pinto da Costa foi a estrela, divertindo a audiência no estúdio e em casa, e satisfazendo algumas curiosidades, mesmo as mais tétricas, sobre a ciência do pós-mortem. Por exemplo, fiquei finalmente a saber porque é que mesmo não se avistando uma mosca a milhas, as putas aparecem onde há um animal morto: são capazes de detectar um cadáver a dez quilómetros de distância. Ó criaturas do demo. Falou-se de larvas, vermes, toxicologia e tudo mais. Temas que já foram mais tabu; segundo o dr. Pinto da Costa há cada vez mais interessados em assistir a uma autópsia, incluíndo crianças! É sempre um prazer ter o dr. Pinto da Costa como convidado na televisão, onde está como um peixe na água, uma característica comum às gentes do norte. Mesmo apesar da sua aparência inspirada (será?) no grupo texano ZZ Top.

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