sábado, 9 de março de 2013
SOS SIDA
Os números de infecções pelo vírus da SIDA aumentaram em Macau, de 21 novos casos em 2011, para 33 em 2012. O aumento, superior a 50%, não preocupa as autoridades, que consideram que a situação está sob controlo. O mesmo fenómeno verificou-se em Hong Kong, onde também se deu um aumento no número de novos casos, e em ambas as regiões registam-se os números mais elevados da década. Para quem combate este flagelo não fica nada bem dizer que o aumento “não é preocupante”, uma vez que o investimento na prevenção e na educação deveria produzir o resultado oposto, ou seja, menos casos. Uma diminuição, não um aumento.
O virus reveste-se hoje de um carácter menos fatalista que há 20 anos, onde um diagnóstico positivo significava uma morte certa. Os progressos obtidos no campo da medicina que permitem hoje aos seropositivos viverem mais tempo e com qualidade tornaram uma eventual infecção muito menos assustadora. O diagnóstico de um carcinoma é hoje em dia muito mais devastador que uma infecção com HIV. É bem possível que esta tendência tenha levado a um “baixar da guarda”, e que se optem cada vez mais por comportamentos de risco. O medo é uma coisa do passado, e a mortalidade elevada por HIV é considerado um problema do terceiro mundo.
É uma ilusão pensar que a SIDA é hoje em dia “a mesma coisa que a diabetes”. Na realidade a diminuição da mortalidade deve-se mais ao menor número de infecções do que a outros factores. A SIDA traz complicações de saúde graves, e não é garantido que a medicação regular oblitere os efeitos do virus. E se esses progressos que levam a que os doentes com SIDA vivam “uma vida normal”, o estigma ainda está bem presente. Numa sociedade que se rege ainda por valores tradicionais como esta, é difícil que um seropositivo seja tratado como alguém “normal”, por muito boa aparência que tenha. Ninguém me convence que em Macau um diagnóstico deste tipo que seja do conhecimento geral não vá ter efeitos na vida social. Perdem-se amigos, alienam-se familiares, e pode mesmo ter impacto na vida profissional ou na carreira. Não conheço nenhum seropositivo declarado no território, mas desconfio que quem conhece algum tem mais tendência a referir-se a ele pela sua condição do que pelo seu nome.
Outro erro comum passa por acreditar que este é cada vez mais um problema de toxicodependentes e homossexuais, quando os números demonstram que nesta região é através do sexo heterossexual que acontece a maior parte das infecções. Não vale a pena chamar novamente a atenção para a indústria do sexo e da prostituição, uma das mais lucrativas em Macau. Não me gosto de repetir ao ponto de parecer catatónico. A realidade é que uma infecção pode estar à distância de uma decisão impensada, numa questão de minutos. Um contacto desprotegido realizado num momento de euforia, ou no calor da paixão, é suficiente para que seja necessário alterar toda uma rotina. E depois, se existem medicamentos que nos mantêm vivos, se depois vamos precisar de nos tornar dependentes deles para não morrer. É um facto que o sexo com preservativo é menos divertido, é como “comer um rebuçado embrulhado no papel”, dizem alguns, mas esta pode ser a diferença entre uma vida com qualidade e um estado ambulatório. Há decisões que tomamos todos os dias que nos podem salvar a vida, e esta é uma delas. Por exemplo, ninguém passa nos sinais vermelhos porque sabe que isto lhe pode sair caro, e isto é um dado adquirido. Portanto o que custa usar um preservativo numa relação casual? É uma medida de segurança como outra qualquer.
Os mais optimistas acreditam numa cura para breve, e felizmente para todos essa cura vai chegar. É apenas uma questão de tempo. Mas enquanto isto não acontece, é preciso continuar alerta, e evitar os comportamentos de risco – por muito boa ideia que isso pareça no momento. A melhor forma de combater esta epidemia que ainda hoje colhe milhares de vidas em todo o mundo é a prevenção. Quando for possível tratar a SIDA como se trata uma gripe comum (e a gripe também chegou a ser mortífera em tempos), vamos então dormir mais descansados, pois o pesadelo acabou. Por enquanto o melhor mesmo é ter juizinho. E sim, é errado considerar o aumento de casos uma situação “normal”.
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