sábado, 9 de março de 2013
Patos bravos à moda de Macau
1) O projecto do edifício com mais de cem metros de altura em Coloane, junto da Estrada de Seac Pai Van, vai mesmo para a frente, apesar do protesto de ambientalistas e outros sectores preocupados com o pesadelo urbanístico em que o território se ameaça tornar, e onde os milhões que o imobiliário vai facturando vão falando mais alto. Em risco está ainda a casamata construída no tempo da administração portuguesa, e que tanta polémica gerou há cerca de um mês, quando uma associação apelou à sua demolição com o pretexto de ser um “símbolo da ocupação militar estrangeira” – agora percebe-se porquê. O mais revoltante foi ver aquele indivíduo que dá pelo nome de Sio Tak Hong, empresário da construção civil, a explicar no projecto na televisão. Quer dizer, de um “pato bravo”, ainda por cima com a pinta daquele senhor, não se pode esperar grande coisa, mas este merece um prémio qualquer pela ousadia. Afirmações como “E depois? Existem muitos prédios altos em Macau…não sou o único a prejudicar o ambiente” são de deixar o credo na boca. É preciso decidirmos o que queremos afinal para Macau, se uma cidade onde existe qualidade de vida para todos, ou um mero entreposto que serve para alguns enriquecer a todo o custo. A população que decida, em vez de ficar de braços cruzados a ficar a assistir impávida a este chorrilho de disparates.
2) O diário em lingual chinesa de Macau, o Ou Mun, jornal mais lido do território, recebeu 160 mil patacas para publicar uma página dedicada a publicitar as notas do ano da Serpente, noticiou o Hoje Macau. As notas podem ser adquiridas nos bancos do território apenas por residentes, que depois podem revendê-las com lucro a colecionadores no exterior. Já não é nenhuma novidade em Macau, onde a emissão de moedas, medalhas e selos comemorativos provocam normalmente uma afluência fora do normal aos correios e outras entidades emissoras – e não porque existam no território muitos adeptos da filatelia ou da numismática. O Ou Mun foi criticado por incentivar a especulação (e ainda foi pago para tal), mas este tipo de conduta já nem chega a ser notícia: ao Ou Mun tudo é permitido. Ainda está bem fresca a polémica do edifício concedido pelo Governo ao jornal, que por sua vez o subarrendou a outra das associações “tradicionais” do território, isto para não falar dos critérios editoriais duvidosos daquele diário. Desde empresas de imobiliário a saunas, passando por cartas apelando à destruição de património histórico e declarações esquisitas (é comum publicarem-se notas entre sócios desavindos declarando que já não têm qualquer relação um com ou outro), vale tudo, desde que se pague, é claro. Quem fica mal servida é a população que só domina a lingua chinesa. Mal servida e mal informada.
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