Fraternidade

Esta linda imagem sobre a baía da Praia Grande e o sol que entrava pelas janelas, e os passarinhos que alegremente cantavam dão a entender que foi um lindo dia de Ano Novo aqui em Macau. Fez imenso frio, o que é sempre óptimo, pois dá para exibir o casacão novo que se ganhou no Natal. Ontem passei as doze últimas badaladas de 2010 na companhia da família, e depois saímos todos com alguns amigos.

Como não tenho por hábito beber mas não queria ser uma companhia “careta”, foi um “dale” no champanhe, depois na vodka, depois na cerveja, tudo até às três da manhã, quando caí à cama com os neurónios praticamente paralisados. Consequência natural desta noite de excessos, acordei hoje de manhã às nove, cheio de sede (pois...), e já não fui dormir mais.

Deu-me para ler as notícias, se o mundo tinha acabado em algum lado, ver a RTPi e beber um retemperador café, ou neste caso, vários. Depois de um leve almoço lá por volta do meio-dia, fui dar uma volta pelos lagos, de onde bati então esta chapa. Um ar fresquíssimo que se respirava ali em cima na Penha, que nos inspira para um ano acabado de chegar, como quem abre um livro novinho em folha.

O dia de Ano Novo faz-me sempre lembrar o dia 1 de Janeiro de 1986, quando o pai nos quis levar a um almoço num restaurante “muito bom” em Samora Correia, e lá partimos nós de manhãzinha de Ourém. Pelo caminho perdemo-nos várias vezes, ficámos sem gasolina e já passavam das duas quando ainda estávamos algures por Almeirim, e os meus irmãos mais novos choravam de fome. Faz hoje 25 anos, vejam só. Uma vida.

Recordações boas há sempre muitas. Aliás, não deve ser à toa que o 1/1 é marcado no calendário como “Dia da Fraternidade Universal”. Não me lembro de nenhum dia 1 de Janeiro que me tivesse corrido mal (aquele incidente de Samora Correia acabou bem), e toda a gente que encontro neste dia está sempre bem disposta, os restaurantes estão cheios, as crianças bem vestidas, toda a gente tem ar de quem tomou banho e fez a barba. É sempre positivo.

Quando era miúdo davam-me sempre dinheiro para ir ao cinema, que era como quem diz “vai ao cinema e desaparece”. Lá no cinema encontrávamos sempre os amigos, as amigas, as namoradas, sempre com roupa nova e a cheirar a Ano Novo (e a perfume que lhes ofeceram uma semana antes...). Se depois disso ainda sobrava algum dinheirinho, iamos às matinés da dancetaria da filarmónica, ou jogar snooker (ou bilhar, não sei a diferença). Era sempre um dia especial, e curiosamente não me lembro de um único dia de Ano Novo que tenha chovido. Estava sempre sol.

É como se o astro-rei Sol nos venha anunciar mais uma etapa, mais um ano civil, e agora só nos resta adaptarmo-nos a escrever "2011" nas datas (para mim demora sempre duas ou três semanas), e descansar muito bem amanhã. Segunda-feira é a volta ao mesmo, que é como quem diz, o contrário da tal Fraternidade. E qual é o contrário de Fraternidade, by the way?