quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os deuses da comédia não abençoam Macau


Agora que estamos em época de festivais, era curioso notar que entre tantos artistas da lusofonia nunca vem, por exemplo, um humorista. Um humorista em língua portuguesa, qualquer coisa de Angola ou do Brasil também pode ser, alguém que viesse fazer a malta rir. Tivemos por cá o Diogo Infante com um espectáculo bem conseguido, mas que soube a pouco, passou por cá o tal cozinheiro santomense que apresentava aquela comédia culinária bestial, mas só veio para cozinhar. Vê-se pela forma como alguns cantores quase têm que implorar que o público cantarole com eles canções que toda a gente sabe de cor que por aqui ainda vigora a máxima do “respeitinho é muito bonito”.

Fico impressionado com alguns julgamentos de moral que encontro na imprensa, sem nunca levar nada na desportiva. A TDM deve ser um dos poucos canais do mundo inteiro que não tem “bloopers” para mostrar no final do ano. Não se brinca com a política, com a economia, com a igreja, com a Lusofonia, com o chefe, com o tempo (um curioso da metereologia chegou a ser questionado pela polícia por publicar previsões metereológicas na internet), com nada. Mesmo entre a própria comunidade não se pode fazer um comentário mais chistoso sobre algum palonço que conhecemos, que ficam os ânimos todos encarrapitados.

Em Macau o que não falta são humoristas. Mas nunca assumidos. O panorama continua a ser muito cinzentão no panorama da comédia em Macau. Todos os programas de humor que a população vê são atentados ao bom gosto que chegam de Hong Kong. Duvido que existam humoristas propriamente ditos em língua chinesa, pois quando o “humor” se resume aos boletins do Novo Macau Democrático (sem versão portuguesa), ou às anedotas patéticas que se contam sobre portugueses, há muito pouco “humor”.

Partia da comunidade portuguesa fazer qualquer coisa de humor Made in Macau. Um teatro, uma mini-série, uma coisa que saísse do ciclo desporto-informação-cultura que nos chega pela TDM. É tudo muito sério, muito pesado, entrevistam-se especialistas disto e daquilo, tudo muito certinho, muito no-nonsense.

Era injusto se não mencionasse os Doçi Papiaçam, que fazem um excelente trabalho, mas cuja mensagem chega uma vez por ano, e nunca se tira tempo para reflectir sobre com o que dá para se fazer humor em Macau, o que se pode mudar, melhorar, analisar as críticas, nada. O sarcasmo não tem valor algum na terra dos casinos e das patacas. Mesmo pessoas que têm genuinamente um humor mais contundente na escrita são sempre limitados por convenções de algum tipo, por um assumido “eu estou aqui em Macau para trabalhar, não é para brincar”.

Ainda vejo muitos portugueses nos restaurantes, nos cafés, a conversar na rua. Na EPM vê-se praticamente toda a comunidade a uma certa hora, e é tudo gente gira, que não ficava nada mal em juntar-se, organizar-se, sei lá, porque é que a associação dos angolanos não faz qualquer coisa com a associação dos moçambicanos, dos portugueses ou dos brasileiros? E por falar em brasileiros, porque é que nunca levam um cantor ou um comediante a Macau? “Arte em escamas de peixe”?

Não chega só ficar juntos durante as crises, as desgraças ou a solidariedade. Claro que isso também é importante, mostrar que estamos unidos, sermos amiguinhos uns dos outros, e realizar as nossas tradições e costume de forma regular e competente. Mas também era preciso que nos fizessemos rir uns aos outros mais um bocadinho...

7 comentários:

  1. Podiam convidar o Gato Fedorento ou o Herman José por exemplo para ver se eles contam anedotas aos chineses de Macau ehehe.Mas porque que o Leocardo não vai ser comediante em Macau,já vi que és 1 comediante nato,principalmente quando dizes que não gosta do U2 e gostas do Ena Pá 2000.Digam lá se o Leocardo não é cómico???

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  2. Não é "metereologia" e "metereológico", por muito que os pivôs do telejornal da TDM concordem consigo. É "meteorologia" e, claro está, "meteorológico".

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  3. Qual é a vontade de fazer comédia quando vivemos rodeados por chineses sempre sisudos e com altas trombas?

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  4. Os Dóci Papiaçám são o "ex-libris" do humor em Macau, não há dúvida, mas é injusto deixar o Bairro do Oriente de fora. Então na caixa de comentários, farto-me de rir cada vez que cá venho.

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  5. os chineses são como os portugueses,sempre trombudos e sisudos.Neste aspecto tem que aprender com os BRASILEIROS,um brasileiro pode ser pobre ou desempregado mas está sempre contente.

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  6. Concordo consigo anónimo das 04:19. Isto é de cagar a rir. Do blogueiro aos comentadores, é uma comédia pegada. Melhor só o "apelicam" do Hoje Macau e o estado cómico-trágico, tendencialmente zombie, em que o jornal mergulhou desde que o Morais José se assumiu director. Volta Picassinos, volta Varela! Asinha, que se faz tarde...

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  7. Quem está trombudo e sisudo é porque a vida não está a correr bem,agora quem está contente e a rir com uma vida de merda,então tem que ir ao psiquiatra para ver que doença mental tem.

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