Liu Xiaobo ganha Nobel da Paz

Liu Xiaobo, o dissidente chinês que se encontra encarcerado, venceu o Prémio Nobel da Paz "pelos seus esforços na promoção da democracia e dos direitos humanos". Liu, de 54 anos, foi condenado a 11 anos de prisão no Natal de 2009 por tentativa de subversão da ordem e derrube do estado chinês. Liu encontra-se detido desde 2008, altura em que foi o autor da "Carta 08", uma carta aberta que pedia ao regime chinês eleições directas e liberdade de assembleia. A carta, que coincidiu com o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, foi na altura assinada por mais de 300 advogados, académicos e activistas chineses.

O Governo da R.P. China tinha avisado que Liu, um criminosos condenado, não merecia o prémio Nobel da Paz. "As suas actividades vão contra os propósitos do prémio", afirmações de Jiang Yu, porta-voz do ministério dos negócios estrangeiros de Pequim. O novel prémio nobel tem uma história interessante de dissidência na China: participou nas manifestações da Primavera de 1989 em Tiananmen, já passou três anos por um campo de reeducação, e em 2007 esteve brevemente detido pela publicação de artigos de opinião no estrangeiro. Este ano ganhou o Prémio Nobel da Paz exactamente quem a China não queria que ganhasse.

A China ainda não reagiu à atribuição do prémio a Liu, mas deverá entendê-lo como uma manifesta provocação. Os Prémios Nobel da Paz e da Literatura costumam causar celeuma, muito devido ao carácter subjectivo dos critérios de atribuição. Ao contrário dos prémios para a economia, medicina, física e química, que obedecem a questões técnicas, o Nobel da Paz é normalmente carregado de elevado teor político, e teve no passado vencedores do calibre de Martin Luther King, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e o Dalai Lama. O ano passado, e pela primeira vez, foi atribuído a alguém que ainda não fez nada para merecê-lo, mas "pode fazer": o presidente norte-americano Barack Obama. Foi uma espécie de "prémio revelação", ou chamada à selecção de sub-21.

A questão pode ser desvalorizada se for entendida como um apelo à China para melhorar nos aspectos respeitantes ao padrão ocidental de direitos humanos, mais que uma tentativa de enfurecer o gigante do meio. Não estou a ver o obscuro comité norueguês em Oslo com alguma agenda malévola no sentido de fazer a China puxar dos mísseis cá para fora, ou de cometer algo tresloucado assim. Pode ser que daqui a uma semana já toda a gente se tenha esquecido que Liu Xiaobo, ou "aquele chinês" para alguns, ganhou o Prémio Nobel da Paz.