quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A fossa da habitação


É cada vez mais difícil a um jovem adquirir a primeira habitação em Macau. Isto é um facto que os números confirmam e já toda a gente sabe, mas será que toda a gente reflectiu bem sobre isto? O que quer dizer? Como é agora que as crianças acabaram os estudos, já namoram e querem o seu espaço? Este conceito de “espaço” é muito vago, principalmente quando “qualquer buraco” já custa “um milhão de patacas”.

Ora um milhão de patacas, mil notas de mil, nem toda a gente tem na conta bancária, ou debaixo da cama. Há quem precise de trabalhar dez anos para “fazer” um milhão de patacas, quanto mais juntar. Alguns pais mais caridosos e pragmáticos juntam anos a fio para poder comprar uma casa aos filhos. Houve pelo menos quem se tenha prevenido dessa verdadeira Lista de Schindler que é a atribuição de habitação económica em Macau.

Um amigo do meu sogro, que é mestre-de-obras, queixava-se no outro dia que “trabalhou 30 anos” para juntar dinheiro para comprar uma casa ao filho. O jovem, que trabalha no casino e ganha dez mil patacas, enquanto a namorada com que vive não trabalha, só ouviu falar num milhão de patacas lá no casino, quando alguém ganha o “jackpot”. É que normalmente quem tem um milhão de patacas tem também muitos outros milhões de patacas, o que significa também que o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior.

O preço das casas está incomportável devido a um fenómeno chamado “especulação imobiliária”, cuja explicação concreta delego aos entendidos do assunto, mas que em termos mais leigos quer dizer que o metro quadrado de habitação dispara em flecha, deixando em terra os passageiros menos remediados. Depois quem precisa mesmo de casa para viver, não comprou, e até ganha mais ou menos bem, fica sujeito à “loucura” das rendas, cujos proprietários – normalmente de Hong Kong – aumentam a seu bel-prazer, ou logo que sabem que o Governo de Macau vai conceder mais subsídios à habitação. É um mundo cão que muitos dos nossos compatriotas conhece muito bem.

O que se passa aqui é um braço-de-ferro entre quem lucra e quem está na fossa, com o Governo no meio sem nada poder fazer. Chamem-me de maluco, mas na China, que é como se sabe uma ditadura do proletariado, o Governo “fabrica” os seus milionários e funciona tudo muito bem. Os tais milionários fazem tudo o que o partido quer, e se pisam o risco acontece-lhes o mesmo que a Huang Guangyu, fundador e proprietário da GOME, caído recentemente em desgraça e remetido à prisão. É uma situação em que o Governo controla os ricos, ao contrário do que acontece em Macau.

Na RAEM, de tão livre que é o mercado de modo a que se cumpra o tal do segundo sistema, deixa-se que os ricos sejam os predadores dos pobres. As únicas pessoas que lucram com esta situação são os próprios especuladores, que compram e vendem moradias que às vezes nem põem os olhos em cima, gente de fora da RAEM que está a enriquecer às nossas custas. Não sei se é honesto ou correcto ou sequer legal regular o mercado, mas deviam pelo menos existir algumas regras, uma tabela, um preçário, como no bacalhau. Qualquer coisa que acabasse com esta loucura e desse um tecto a quem dele precisa para viver.

13 comentários:

  1. Os sucessivos governos de Macau também tiveram culpa. Andaram a dar BIRs de Residente PERMANENTE a quem nunca viveu em Macau mas teve dinheiro para comprar um apartamento caro, enquanto que outros há que trabalham e vivem por cá há mais de 10 anos e continuam a ser... Trabalhadores NÃO Residentes!

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  2. A vida é injusta já devias saber isso,oh anónimo das 19H31

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  3. " É que normalmente quem tem um milhão de patacas tem também muitos outros milhões de patacas" mas que raio de comentário é este oh leocardo,eu tenho 1 milhão e tal patacas e não tenho outros milhões de patacas.E 1 milhão de patacas nem é assim tanto.nem dá para comprar um T3 em Portugal.

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  4. Provavelmente o Leocardo referia-se a quem tem 1 milhão de pataquinhas para gastar nas casinadas.

    Leocardo, este problema não é de solução fácil. Existe um grupo de sujeitos que se defendem a si próprios, especulando o mercado propositadamente, e alguns dos que lucram têm assento permanente na AL.

    AA

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  5. depende onde é que queres comprar o teu T3, se fores a ELvas por exemplo, chega e sobra com um milhão...

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  6. O anónimo das 21:08 tem um milhão de patacas porque de certeza ganha muito mais que 10 mil patacas por mês. E com esse milhão de patacas, vai comprar casa? Não precisa? Então não interessa.

    Cumprimentos.

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  7. Já que regulassem os arrendamentos já não era mau. Em Portugal há um limite de lei que se pode aumentar todos os anos, se não estou em erro anda entre os 1 e 2%, aqui pagamos 6000 e no ano seguinte já querem subir mais 1000 ou 1500 patacas. É de loucos. E com tantas casas aí vazias. Isso é que me faz confusão. Tanta gente a viver em condições miseráveis, famílias de 10 elementos num T2 e tantos apartamentos vazios, comprados por esses tais que nunca puseram os pés em Macau e estão a enriquecer.

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  8. "A vida é injusta já devias saber isso,oh anónimo das 19H31" (sic)

    E, como é injusta, mas nem sequer é injusta para ti, calas-te bem caladinho e não reclamas porque, afinal, é isso que te convém... A vida é injusta precisamente por causa de haver muita gente como tu.

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  9. Voces em Macau coitados reclamam muito,deviam voltar para a vossa terra em Portugal e ver quando custa ganhar a vida,afinal de contas só emigraram para Macau para terem um salário melhor.Portanto não reclamem muito,os portugueses que vivem em Portugal que tem muito que reclemar.

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  10. Pensava que era só os portugueses daqui de Macau que defendiam o lema do "come e cala". Afinal, os de Portugal também acham que nos devemos comportar assim aqui. Bonito, sim senhor. Mais algum bom conselho, caro compatriota?
    Pois eu dou-lhe um: fale do que sabe e não se meta no que não conhece.

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  11. E o anónimo das 16h40 conhece o que da minha vida?Sou o anónimo das 19:44.

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  12. Ó anónimo das 19:44 e das 16:57, só dizes e perguntas coisas parvas, pá!

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  13. Pá,vai chatear outro,oh anónimo das 18h26,pá.

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