sexta-feira, 14 de maio de 2010

Os blogues dos outros


Parece ter começado, finalmente, a operação de restabelecimento da lei, da ordem e da paz em Banguecoque. Ao sair do supermercado por volta das sete da tarde, ouvi distintamente rebentamentos de granadas e rajadas de espingardas de repetição oriundos do acampamento vermelho, que dista 100 metros da minha casa. Pela televisão tomei conhecimento da causa dessas explosões: o comandante das milícias vermelhas, o major-general Khattiya Sawasdipol, líder da facção mais violenta do movimento vermelho, foi gravemente ferido e encontra-se em estado considerado crítico. Se a autoria for das forças armadas - poderá também ser consequência de luta interna entre vermelhos - pode-se dizer, em gíria militar, tratar-se de uma operação selectiva. A anulação do homem de acção assesta um golpe profundo nas veleidades vermelhas em oferecer luta. Foi um tiro certeiro no "porta-aviões" e evitará, esperemos, a morte de muitos civis.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Recordo-me perfeitamente das muitas vozes que se faziam ouvir quando equipas do Porto eram recebidas na Câmara Municipal, criticando a promiscuidade entre futebol e política, e dos muitos elogios que Rui Rio recebeu quando adoptou uma política de distanciamento face aos clubes da sua cidade, preferindo investir em corridas de automóveis de duvidosa rentabilidade. Pois bem, agora quando a equipa do slb é recebida por António Costa, todos ficam caladinhos que nem ratos.

El Comandante, Hotel Macau

Anda por aí uma espécie de pensamento único, que tende a desculpar o novo plano de austeridade: não há outra solução... É um discurso que não admite contradições, pintado com um tom de inevitabilidade (e daí o pedido de desculpas a acompanhar, no miserável coro laranja). Ora, basta pensar um bocadinho para ver que o défice resulta da diferença entre despesa e receita. Há muito tempo que a despesa excede as receitas, numa tendência de obesidade estatal que só cresceu. O bloco central informal, ou lá como a combinação daquelas duas cabecinhas pensantes se chama, apenas olha para a receita. Vêm com grandes desculpas, apontam medidinhas pontuais de descida da despesa, mas ao mesmo tempo adjudicam novas auto-estradas, só para referir o exemplo mais evidente. Podíamos, claro, perguntar se alguém pensou em olhar para as despesas "menores", como a renovação de equipamento dos milhares de departamentos do Estado, ou ainda os custos de deslocações e alojamentos. Claro que nada disto se faz, até porque não dá direito a aberturas de telejornais. A solução mais simples é estrangular quem já está meio morto, e não reage: o contribuinte comum. Vai daí, aumentamos os impostos, tiramos mais dinheiro aos que já pouco têm (e aos que pouco terão, no futuro), e continuamos o nosso alegre cortejo, com o Estado a fazer de Jabba the Hut. Confesso que não sei o que mais me irrita, se o tom desrespeitoso do senhor primeiro-ministro, com a estúpida conversa da Coca-Cola, se o falso pedido de desculpas de Passos Coelho. De qualquer maneira, de uma coisa tenho a certeza: ninguém neste arco governativo respeita os contribuintes portugueses.

Ana Margarida Craveiro, Delito de Opinião

Depois de ontem ter ouvido o anúncio do plano de austeridade, que mais uma vez vamos ter que pagar, não fiquei espantada, pois há muito tempo que estava à espera de um aumento de impostos da grande envergadura. Vamos todos pagar, mas uns mais do que outros. Daquilo que ouvi e li não creio que a distribuição do esforço seja equitativa, quer na repartição entre o Estado e a sociedade, quer no seio da própria sociedade. O meu pensamento vai para as pessoas pobres e os pensionistas de baixos rendimentos e os desempregados que querem trabalhar, pessoas e famílias que já vivem com grandes dificuldades e a quem vão ser exigidos sacrifícios adicionais. Não sei sinceramente como se lhes pode exigir mais. Mas não encontrei no anúncio do plano de austeridade qual é o compromisso do Governo para que a despesa pública seja sustentadamente reduzida para que não voltemos a ter daqui a uns anos novamente um agravamento de impostos. E o que pensa o novo PSD sobre o assunto? Está claríssimo que o País não aguenta os elevados níveis de despesa pública a que se chegou, ou seja, é necessário encarar de frente a necessidade de reformar o Estado e de repensar o seu papel. Mas é também fundamental olhar para a economia e resolver o défice de crescimento económico com que nos debatemos há mais de uma década. Sem economia estamos a empobrecer. Não podemos continuar a viver acima das nossas possibilidades. Esta regra também se aplica ao Estado. É uma ilusão fazê-lo porque mais tarde ou mais cedo a verdade vem ao de cima. Será que a gravidade da situação a que chegámos é suficientemente chocante para mudarmos de vida?

Margarida Corrêa de Aguiar, Quarta República

Quando a receita fiscal aumentava a comunicação social e os governos elegeram o director-geral como herói nacional, modelo de gestor moderno, modernizador do fisco, a Impresa até o elegeu como gestor do ano. Se tivesse sido seguido o mesmo agora que as receitas fiscais baixaram o lógico seria fazer um auto de fé e queimar o director-geral dos Impostos no Terreiro do Paço. É evidente que não tenho o mais pequeno desejo de ver o coitado do director-geral dos Impostos transformado em churrasco até porque muito provavelmente não tem qualquer culpa. Mas não deixa de ser curioso que ninguém se interrogue sobre as razões da queda da receita fiscal, deixando-se no ar de que é uma mera consequência da crise financeira. Só que a queda brutal da receita fiscal deveu-se a uma queda da receita do iva, queda tão grande que não pode ser explicada pela redução da actividade económica. Se a crise não explica a acentuada redução da receita fiscal e tanto quanto se sabe não foi instituída nenhuma nova off-shore em território nacional esta só pode ter três explicações, a ineficácia da máquina fiscal, a adopção de medidas desastrosas no domínio das normas fiscais, ou o falhanço no combate à evasão fiscal. É imoral pedir sacrifícios aos portugueses sem se dar uma explicação sobre o sucedido, sem apurar causas e, se for caso disso, identificar responsabilidades e responsáveis, sejam dirigentes do fisco, membros do governo ou mesmo assessores (ou assessoras) governamentais. Se no passado os dirigentes da DGCI foram agraciados com louvores e promoções a administradores de banco enquanto o governo decretava o sucesso no combate à evasão fiscal, seria lógico que agora fosse seguido o mesmo critério. Mas fiquem os gestores do fisco e os membros e assessores do governo descansados porque a crise tem as costas largas, em nome da crise os portugueses cumpridores, os que costumam pagar as despesas do país mesmo que para isso deixem de ter dinheiro para comer, vão mais uma vez serem sacrificados com aumentos de impostos. Os incompetentes podem continuar a passar por competentes, os advogados e jurisconsultos da arte da fiscalidade podem continuar a enriquecer com a bênção governamental, os professores de direito podem continuar a fazer currículo, ninguém vai ter que explicar ou responder pela falência da receita fiscal. A crise tudo explica, a crise tem as costas largas, os pobres poderão continuar a suportar os custos da incompetência ou oportunismo alheio.

Jumento, O Jumento

Eu ainda sou do tempo em que o Fundo Monetário Internacional aterrou em Portugal pelas mãos de Mário Soares. O que assusta nesta longa e profunda crise não é a eventualidade de o FMI ter de actuar pela terceira vez. Esse papão dos tempos de infância democrática já não deve assustar quem tenha memória histórica. O que apavora é saber que, ao longo das últimas três décadas, tivemos todas as possibilidades e todos os fundos comunitários para criar um país desenvolvido - e chegámos a este beco sem saída. Portugal começa a ser uma história falhada, o país das oportunidades perdidas. Ou mudamos de paradigma económico ou alguém vai ter de o fazer por nós. Não é com mais impostos, como propõem José Sócrates e Pedro Passos Coelho, que saímos do pântano.

Paulo Pinto Mascarenhas, 31 da Armada

A questão retórica criada á volta dum improvável pedido de desculpas pelo assalto aos contribuintes sobreviventes determinado ontem pelo governo, demonstra o nível indigno e rasteiro da política doméstica. Se Passos Coelho, que há menos de dois meses proclamava aos sete ventos jamais vir a apoiar uma subida nos impostos, teve a dignidade de pedir desculpas aos portugueses pela inflexão assumida, já José Sócrates justifica-se com o Mundo que mudou nos últimos quinze dias (sic), e logo surge o inefável Francisco Assis criticando o líder da oposição com o argumentando que um pedido de desculpas implica má consciência e consequente abandono da vida política. Obviamente não implica nem uma coisa nem outra. De facto, a certos criminosos de delito comum um pedido de desculpa é pouco mais que inútil, não chega. Uma mentira é uma mentira e a gestão danosa da coisa pública é um crime grave. E afinal "a velha do colar de pérolas", que alertava para o abismo da dívida pública e do descontrole do deficit é que tinha razão: a bomba há muito que estava armadilhada, a verdade não vence em política e agora é que estamos mesmo lixados. E isto não pára por aqui.

João Távora, Corta-Fitas

Onde páram os muitos tachistas que pululam ao redor do primeiro-ministro José Sócrates, que nem souberam ensinar o "chefe" sobre matéria importante no relacionamento com Sua Santidade o Papa Bento XVI? Por três vezes, José Sócrates, após o encontro que teve com Sua Santidade, proferiu a calinada "Sua Eminência"...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Uma questão que me deixou surpreendido… numa medição rápida no Google Earth a Avenida dos Aliados tem pouco mais de 20.000 m2… algumas notícias falam de 200′000 pessoas a ver a missa no Porto o que é, obviamente, impossível. O mesmo se passa em Lisboa… a Praça do Comércio tem cerca de 30.000 m2, mesmo incluindo áreas circundantes (como a Praça do Município) ficamos com menos de 50.000 m2… onde muito dificilmente se conseguem “empacotar” as 100.000 pessoas que são referidas nas notícias…Parece-me que há muita confusão na comunicação social entre as pessoas que vão realmente ver as missas do papa e as, potencialmente muitas mais, que o vão ver passar nas ruas…

Carlos Esperança, Diário Ateísta

Fátima 2010
"a 13 de Maio na Cova de Iria apareceu brilhando" e foi multada porque o tunning é proibido.


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

3 comentários:

  1. Muito bem, parece que ainda há alguns que conseguem fugir ao tal "pensamento único" que se instalou e que desculpabiliza todos os erros políticos cometidos durante os 36 anos de democracia. Agora é a crise internacional que serve de desculpa para tudo. Como poderia Portugal remar contra a maré? Mas a verdade é que esse mesmo país remou contra a maré no "tempo das vacas gordas". Todos os outros que beneficiavam dos fundos europeus se desenvolveram, enquanto Portugal teimava em ficar sempre na mesma como a lesma, sem que ninguém tenha percebido que foi feito (com excepção de auto-estradas) com os tais fundos europeus. Como já aqui alguém deixou antever, os políticos portugueses só são bons a autovangloriarem-se. Quando são incompetentes (quase sempre), a culpa nunca é deles. Portugal é, de facto, um país falhado. Quem assim não pensar, que fique por lá, miseravelmente, a sonhar para todo o sempre. Por mim, espero nunca mais ter de lá pôr os pés. Países falhados são para oportunistas e para gente falhada. A primeira coisa não consigo ser, a segunda não quero.

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  2. O Sr. Severino a única coisa que consegue vir aqui dizer é "agradeço o destaque". Já se percebeu que agradece, não precisa de estar sempre a repetir.

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