sexta-feira, 12 de março de 2010
Profissão: mulher
1) Queria em primeiro lugar felicitar o José Miguel Encarnação pelo excelente artigo que escreveu na edição de hoje d'O Clarim. Directo, conciso, muito "doa a quem doer", um artigo de opinião que mexe com uma questão sensível: o verdadeiro estatuto da mulher na sociedade de hoje.
É preciso falar destes temas sem rodeios, sem tabus, sem limitações de qualquer espécie. Tirando aqueles países onde as mulheres têm os mesmos direitos que os homens (Suécia, Finlândia, etc) e nem sequer se discute porque há assuntos mais importantes a tratar, a situação da mulher nos dias que correm é ainda bastante precária. O Dia Internacional da Mulher, mais do que para celebrar o "ser mulher", é um dia em que se chama a atenção para situações de violência física e sexual, de abandono, de desigualdade, de desprezo. E de quem é a culpa? De todos nós, no fundo. Quantas vezes damos por nós a dizer que "trabalhar com mulheres é complicado", ou que certa senhora está mal-disposta "porque está com o período" ou que é carente porque "falta-lhe um macho que...", enfim, percebem onde quero chegar.
Eu dou todos os dias graças aos Céus pela minha mulher. Estamos juntos há 12 anos e entreguei-lhe a minha vida nas suas mãos. Não consigo passar sem ela. Ela é não só a (única) mulher que eu amo, mas também a minha cúmplice, a minha sócia, a minha contabilista. Como sou um gajo que não se está para chatear com contas, passo-lhe o salário inteiro para as mãos e ela que resolva os problemas. Quando vamos jantar fora, os empregados/as vêm trazer-me a conta, e aponto logo para a "patroa". In Soviet Russia, women pay the bill (leia-se isto com sotaque russo). As mulheres são melhores gestoras que os homens, e os homens são melhores cozinheiros que as mulheres, daí que a cozinha é zona interdita às mulheres cá em casa. A responsabilidade do homem é "pôr comida na mesa"...literalmente. Um twist muito interessante.
O Zé Miguel - permita-me que o trate assim - põe o dedo na ferida: "Nos centros comerciais, para além de não se dar passagem e abrir as portas às senhoras, as empregadas tendem a dirigir olhares desprezíveis às clientes, desfazendo-se em sorrisos assim que o homem chega.". Isto acontece porque as empregadas de Macau estão instruídas a servir os homens, e isto é perfeitamente normal, pois Macau é frequentado pela pior espécie de facínoras da China continental (uma sociedade muito machista) que passam a vida a roubar e a enganar para depois gastar (e lavar) a massa toda em Macau. Basta olhar para o "entretenimento para adultos" que temos no território: saunas, bordéis disfarçados de clubes nocturnos, alguns onde as "bailarinas" dançam completamente nuas, discotecas onde se pratica prostituição dissimulada, uma autêntica Gomorra de maus costumes. Há horas em que é mais fácil encontrar uma prostituta do que um táxi!
O tal Dia Internacional da Mulher, mais do que celebrar a gloriosa condição feminina, o seu papel de mater, de geradora da vida por excelência, é ainda um dia comparável ao Dia Mundial do Deficiente ou ao Dia Mundial da SIDA: serve sobretudo para lembrar a miserável condição feminina, aquilo que chamam o "sexo fraco". E não vale a pena lembrar aqui mulheres que são "casos de sucesso", como quem diz "Estão a ver? Afinal a mulher desempenha um papel importante na sociedade e não sei quê", como se isso fosse só por si suficiente para neutralizar todo o sofrimento que existe no mundo pelo simples facto de se ter nascido no género feminino.
Quem sabe se as futuras gerações vão olhar para nós como uns "bárbaros", e que numa sociedade onde homens e mulheres lutem por uma vida mulher em pé de igualdade, toda esta humilhação a que as mulheres sejam sujeitas hoje em dia não seja mais que um facto histórico, como a peste negra. Ficamos a torcer para que assim seja.
2) Fiquei alarmado com o título da capa da edição de hoje do Hoje Macau: "Preguicite agudíssima". Por um nanossegundo cheguei a pensar que se tratava de uma nova doença contagiosa, como a gripe suína, mas afinal tem a ver com o facto do Instituto Cultural ter apresentado o programa do Festival de Artes "com o mesmo texto do ano passado", e que "só mudaram os nomes dos participantes". E depois? É um programa. É preciso ser muito elaborado? Poético? Ai se todos os problemas fossem como este...
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