sábado, 20 de março de 2010

Entrevista ao Ponto Final


Fica aqui a entrevista completa do Leocardo ao jornalista Hélder Beja, que reproduziu muito bem o sentido das afirmações, colhendo o mais essencial.

Tem o blogue activo desde quando?

No final deste mês passam quatro anos desde que criei o “Leocardo”, o meu primeiro blogue. Em Dezembro de 2007 apareceu o “Bairro do Oriente”, uma versão mais generalista, revista e aumentada do primeiro.

Porque é que decidiu criá-lo?

Desde 2002 que queria criar um blogue, e fiz uma ou duas tentativas, mas sem sucesso. O único objectivo era criar um diário da minha vivência aqui em Macau, mas uma vez que o “Leocardo” começou a ser mais visitado, senti que o “Bairro” tinha que ser mais elaborado, mais do que um simples diário. Hoje sinto que preenchi um espaço na blogosfera de Macau.

O que é que o facto de viver a Macau teve que ver com isso?

Macau é uma cidade fantástica. Não queria usar o chavão do encontro de culturas ocidentais e orientais, mas é isso mesmo que acontece. Apesar de ser uma cidade pequena, aos olhos de um ocidental é um território cheio de mistério, de surpresas, de coisas novas para aprender e descobrir. Todos os dias aprendo qualquer coisa nova sobre Macau, sobre as suas gentes, sobre a sua cultura. Cheguei a Macau há quase vinte anos, e nem daqui a outros vinte posso dizer que sei tudo sobre Macau.

Como escolhe os assuntos que aborda no blogue?

O blogue é actualmente composto de notícias, com primazia para a região Ásia-Pacífico, vídeos, curiosidades, e artigos de opinião completamente da minha autoria. Tenho meia dúzia de sítios onde recolho normalmente as notícias. A rubrica semanal “Volta à China”, por exemplo, é retirada da secção “News Briefs Around the Nation” das edições de sexta-feira e sábado do “South China Morning Post”. Custa-me 14 patacas por semana, essa rubrica!

Qual o tema, relacionado com Macau, que mais gosta de abordar?

Gosto de falar um pouco de tudo, mas em relação aos artigos de opinião, que são o prato forte do blogue, gosto principalmente de falar do dia-a-dia, da minha relação com a comunidade chinesa, onde me sinto integrado através da minha família e especialmente dos meus filhos, que são luso-chineses e nasceram em Macau. Gosto de abordar os temas com uma carga de humor, pois há muitos costumes que para nós, ocidentais, podem parecer absurdos.

Escreve para ser lido ou é-lhe indiferente que visitem ou não o seu blogue?

Primeiro é indiferente, pois continuaria a escrever o blogue com ou sem visitas, e sempre com a mesma orientação. Mas sabendo que sou visitado por uma média de quase 400 pessoas diariamente, sinto que tenho outra responsabilidade. Tratando-se de um blogue de opinião, é claro que não é possível agradar a toda a gente, mas não obrigo ninguém a ler. Ainda não percebi como há pessoas que me detestam e continuam a visitar regularmente o blogue.

É leitor de outros blogues de ou sobre Macau? Qual aquele que prefere?

Os blogues em Macau são poucos mas bons. Seria injusto referi-los um a um, pois se calhar esquecia-me de algum. Tenho pena que não hajam mais, pois seria interessante confrontar opiniões que não apenas as que lemos na imprensa, e onde os seus autores não recebem um feedback do tipo que vemos nas secções de comentários de um blogue. Sobretudo gostava que existissem mais blogues da autoria de senhoras. Era engraçado saber o que sentem vivendo aqui neste lado do Oriente.

Porque é que decidiu escrever sob anonimato?

Escrevi sob o anonimato desde sempre. Quando passei a ter mais visibilidade, isso foi entendido por algumas pessoas como “um problema”, mas mantenho-me fiel ao pseudónimo de Leocardo por uma questão de princípio. Além disso existem e existiram outros autores que escrevem com pseudónimo, mesmo na imprensa.

Há quem diga que isso desacredita o conteúdo do blogue, por mais acutilante que seja. Que lhe parece?

Eu diria que se passa exactamente o contrário. Se eu me identificasse, ninguém me lia. Não sou uma personalidade conhecida, e a aura de mistério sobre a minha verdadeira identidade traz alguma curiosidade. Alguma da imprensa em português reconhece o meu trabalho e faz referência ao blogue, enquanto outra me ignora completamente, talvez por ser anónimo. Por mim estão à vontade de agir como muito bem entenderem.

A comunidade portuguesa fala muito do seu blogue. De alguma forma sente que tem um papel de opinion maker em Macau?

De um opinion maker incómodo, isso sim. Talvez pelo facto de viver em Macau há quase duas décadas e ter visto muita gente a chegar, a partir, a ter sucesso e a perder-se, tenho muitas histórias para contar. Fiz muitas amizades, há muita gente a quem dei a mão quando chegaram a Macau, pois não é fácil chegar a uma terra estranha onde não se conhece ninguém. Mais tarde alguns, inebriados pelo sucesso ou ocupados com a carreira ou a vida pessoal, esqueceram-me. Mas compreendo muito bem, são só humanos, e desejo-lhes sempre o melhor. É possível que haja quem tenha receio que eu cometa uma outra inconfidência, mas quem não deve não teme, e o Bairro do Oriente não é um tablóide. Esse é o maior problema da comunidade portuguesa: é muito fechada, muito orgulhosa, não aceita bem a crítica e não está habituada que se fale deles se não for sempre bem. Fazem falta mais vozes críticas, pois sem elas não procuramos melhorar.

Quanto tempo gasta, em média, com o blogue? As actualizações são bastante regulares.

Pode-se dizer que o blogue é o meu único passatempo. Sempre que tenho tempo livre, actualizo-o, ou procuro artigos interessantes que possa desenvolver mais tarde. Há dias em que gasto meia-hora, e outros, quando o tempo me permite, onde chego a passar o serão inteiro em frente ao computador. Em média, diria que gasto entre uma hora ou uma hora e meia por dia com o blogue. O que lhe posso garantir, e não me canso de repetir, é que não gasto um segundo que seja do meu horário de trabalho com o blogue.

Que papel lhe parece que o seu blogue cumpre, enquanto peça da comunidade de língua portuguesa na RAEM?

Esta é provavelmente a pergunta mais complicada. Não sou jornalista, não sou escritor, escrevo apenas por prazer. Há quem critique a ortografia, há quem aponte este ou aquele erro. O blogue é unipessoal, não tenho revisor, e nem sempre estou inspirado, como é natural. Se o blogue dá a conhecer Macau nos quatro cantos do mundo – e tenho muitos leitores de Portugal e do Brasil – é motivo de orgulho para mim. Estou muito grato a todos os leitores.

17 comentários:

  1. Há, fundamentalmente, três tipos de portugueses: os que criticam tudo, os completamente acríticos, e os que criticam ou não consoante as conveniências pessoais. Eu devo ser muito pouco português (embora saiba que não sou o único, digamos que somos um "quarto tipo" que engloba uma minoria) porque me posiciono mais ou menos no meio, isto é, não hesito em criticar o que há para criticar e em elogiar o que há para elogiar. Nessa perspectiva, parece-me que esta entrevista é digna de elogio. É interessante e equilibrada. Parabéns.

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  2. o Leo subiu-lhe à cabeça...

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  3. Subiu? Só fiz uma referência ontem, e publiquei a entrevista na íntegra hoje. Claro que o artigo do Ponto Final é uma notícia importante para este blogue, e directamente relacionada, mas em todo o caso, fico-me por aqui quanto a esse assunto. Isto é, até ao próximo Sábado, dia 27, que o Leocardo comemora quatro anos de blogosfera.

    Obrigado pela sua preferência sr. China, first name Pedro.

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  4. o dono do PF é porco e caloteiro

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  5. O Pedro-de-Toda-a-Parte (e outros que por aqui passam) já há muito tempo mostrou que é um dos portugueses que se inclui no primeiro grupo de que falei.

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  6. O grande defeito dos Portugueses é a INVEJA;os portugueses são muito invejosos,odiam o sucesso dos outros.Razão teve o Mourinho quando assinou pelo Chelsea e disse que finalmente vai ser bestial,quando estava no fcporto era uma besta apesar de ter ganho tudo,assinou pelo chelsea passou de besta para bestial para muitos portugueses.È por isso que Portugal é o país mais atrasado da Europa.

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  7. Excelente entrevista, sem dúvida. Apenas fiquei com uma pequena dúvida: Leocardo, os seus filhos são "luso-chineses"? Tanto quanto sei a China não permite pessoas com dupla nacionalidade, ou melhor, não permite a nacionalidade chinesa juntamente com qualquer outra. Os seus filhos não serão antes portugueses de Macau como eu sou (português de nacionalidade e macaense de naturalidade)? Também tenho sangue chinês a correr-me nas veias, mas sou de nacionalidade portuguesa, logo sou português...
    Ah, já agora, fiquei a saber que Leocardo afinal é o seu pseudónimo...

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  8. Isso de a China não permitir a dupla nacionalidade é um mito. Não reconhece é a dupla nacionalidade. Alguém que a tenha, dentro da China tem de ser chinês e mais nada. Mas o que não falta é chineses com dupla nacionalidade, como por exemplo os chineses de Macau que têm passaporte português.

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  9. Parabéns ao Leo pelo destaque que mereceu. Se há quem não goste do blog por e simplesmente não ponha cá os pés. Felizmente o Leo continua connosco ao fim de 4 anos de criticas e comentários medonhos.


    PS: A China não reconhece dupla nacionalidade mas não quer dizer que não haja chineses que não a tenham. A CHina também não autoriza o consumo de drogas e o que não faltam é drogados na China.

    AA

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  10. os chineses fazem muito bem em não darem dupla nacionalidade aos chineses do continente,porque carga de agua uma pessoa tem que ter dupla nacionalidade?Ou se é carne ou se é peixe,agora as duas coisas é que não.È como a selecção B do Brasil(Portugal) com 3 brasileiros naturalizados,é uma pouca vergonha.

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  11. mas na entrevista o leo não fala da razão a eliminação do conteúdo do blog "leocardo" para o bairro do orriente...

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  12. Bem, em Macau há de tudo! Até há quem seja natural de Portugal, mas chines de nacionalidade... e que defenda em Macau a lingua portuguesa com unhas e dentes!

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  13. Anónimo das 22:21 - não me foi perguntado.

    Cumprimentos.

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  14. Os "chineses" que têm passaporte português não são, para todos os efeitos, chineses, mas sim portugueses. Fisicamente se parecem com chineses mas no papel são portugueses e é isso que realmente importa para as estatísticas. Convém não nos esquecermos que a maior parte dos macaenses são de nacionalidade chinesa mas também existem no mundo muitos portugueses - porque têm nacionalidade e passaporte portugueses - mas que fisicamente são chineses, não falam sequer uma única palavra em português, têm cultura chinesa e por aí fora. Uma coisa é a naturalidade, outra é a nacionalidade... e pelos vistos também existe uma outra coisa que é a aparência, o facto de se ter uma cultura, uma língua materna, etc. Conheço portugueses de Macau que fisicamente são chineses, não partilham da nossa cultura nem falam sequer a língua, e no entanto são portugueses para todos os efeitos. Vivem em Inglaterra e à luz da lei são considerados cidadãos portugueses. Isso deve-se ao facto de ter havido uma altura em Macau em que foi dada a possibilidade aos macaenses de optarem por uma nacionalidade e muitos terão optado pela portuguesa, pelas suas vantagens, obviamente.
    E a China de facto não permite pessoas com dupla nacionalidade desde que uma delas seja a chinesa. Obviamente que não tem como não reconhecer um luso-americano ou um franco-inglês em território chinês.
    Posto isto, mito é ser um luso-chinês à luz da lei, embora eu perceba o significado (ainda que teórico) da palavra.

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  15. Tanta polémica por uma questão de caca,que interessa se é tuga,chinoca ou que tem dupla nacionalidade?Já dizia o Sócratés:"Não sou ateniense nem grego mas sim um cidadão do mundo"

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  16. Com esse Sócrates também eu concordo. Infelizmente, hoje já não se fazem sócrates assim.

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