sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Os blogues dos outros
Um dos temas fortes de interrogação sobre o estilo e a natureza da liderança de CHUI SAI ON era a circunstância de se vir a sentir condicionado nas escolhas e nas mudanças por compromissos de HO HAU WA relativamente aos altos dirigentes da Administração Pública. As mudanças ocorridas na Cultura, no IPIM mostram que CHUI gere o seus poderes sem contemplação por confinâncias espúrias e exerce o seus poderes. Uma nota contra os que acharam (entre eles vários analistas encartados nos jornais de Macau) que CHUI seria um "pau mandado" de HO um HO por segunda pessoa. Ainda à procura de estilo, CHUI tem preferido a penumbra a aparecer sob as luzes da ribalta, escudando-se dos primeiros impactos. O que é correcto, do ponto de vista táctico. Veremos como se assume na defesa das Linhas de Acção Governativa, o primeiro embate com a élite local representada na Assembleia Legislativa. CHUI tem, contudo, problemas graves na sua equipa de secretários e já não é possível esconder algumas das fragilidades. Tornar-se-á indispensável fazer mudanças cirúrgicas se não quiser ficar manietado pelos acontecimentos. Dois dos seus secretários têm problemas graves de fiabilidade e imagem pública.
Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho
A demissão de cinco membros do Legco de Hong Kong, que obriga à realização de eleições intercalares, as quais são vistas pelos demissionários como um referendo, de facto, à implementação do sufrágio directo e universal em Hong Kong, parece-me uma jogada altamente arriscada por parte das forças pró-democracia da antiga colónia britânica. Em primeiro lugar, ainda que o resultado lhes seja favorável, uma vez que o referendo não está consagrado na Lei Básica, Pequim nunca retirará de tais resultados as consequências que as forças pró-democracia pretendem. A agenda do Governo Central é que é realmente importante, e esse é um facto que já todos percebemos. Ainda assim, o Poder em Pequim, e em Hong Kong também, não se cansa de repeti-lo. O sufrágio directo e universal acontecerá quando Pequim decidir que deve acontecer. Esta teimosia das forças pró-democracia irrita o Governo Central e, pelo que é dado perceber pelas sondagens, começa a cansar a própria população de Hong Kong. E aqui reside o segundo erro que os pró-democratas terão cometido neste processo. A acreditar na imprensa, um estudo da Universidade de Hong Kong, realizado entre 11 e 13 de Janeiro, concluiu que apenas 24% dos 1008 inquiridos apoiava o plano de referendo, com 50% a revelar-se contra. Mais, um outro estudo, levado a cabo este fim-de-semana, concluiu que 72% das 327 pessoas entrevistadas considerava a realização de eleições intercalares um desperdício de dinheiro público, ao passo que 69% defendia que o referendo afectaria as relações entre Hong Kong e Pequim. E chegamos ao terceiro erro que os pró-democratas cometeram - o timing para levar a cabo esta iniciativa dificilmente poderia ser pior escolhido. Com a economia de Hong Kong a navegar em águas agitadas, mas, ainda assim, a não adornar, a população mostra-se muito mais preocupada com o bem-estar económico do que com os sucessivos protestos dos pró-democratas. O Governo de Hong Kong percebeu esse facto, aproveitou o anúncio recente que coloca Hong Kong, pelo 16º ano consecutivo!, como a economia mais livre do Mundo, e agitou imediatamente a bandeira do desperdício de dinheiros públicos, com contas feitas e tudo (ler aqui http://news.yahoo.com/s/ap/20100126/ap_on_re_as/as_hong_kong_democracy ). Posso estar enganado, mas creio bem que os movimentos pró-democracia em Hong Kong acabam de dar um tremendo tiro no próprio pé. Neste particular, andaram bem os "irmãos" de Macau. Ng Kuok Cheong, entre um sorriso malandro, deixou bem claro que os "democratas" em Macau não pensam seguir esta estratégia de confrontação com Pequim "porque o Partido Comunista Chinês é muito forte e tem muito poder" (sic). Afinal, os "democratas" de Macau ainda são capazes de dar umas lições aos seus "gurus" do outro lado do Delta do Rio das Pérolas.
Pedro Coimbra, Devaneios a Oriente
Ruben Micael, para além de um nome assaz interessante, foi bafejado pelo divino. "Jesus pôs-me dois dedos na cara", disse, hoje, do eventualmente acontecido há vários meses. Provavelmente terá sido para o benzer, concluo.
VICI, MACA(U)quices
90 pessoas apanham a Gripe Suína (A-H1N1) e toda a gente quer usar máscara. Cinco milhões de pessoas têm SIDA e ninguém quer usar preservativo. 1.000 pessoas morrem num país rico com Gripe Suína, é uma pandemia. Milhões de pessoas morrem com paludismo em África, é problema deles...
João Severino, Pau Para Toda a Obra
Sem intenção de desvalorizar uma séria discussão sobre o confronto entre as tecnologias de informação e a vigilância electrónica com os limites da privacidade dos indivíduos, parece-me algo exagerado o alerta hoje emitido pela Comissão Nacional de Protecção de Dados (e quem não tem direito uma bela comissão?) a propósito do Dia Europeu da Protecção de Dados que é hoje. Por mim não vejo no que possa comprometer um pacato cidadão ser casualmente captado por uma câmara de vigilância num local em que tal se justifique como medida de prevenção ao crime. Também não reconheço que os dispositivos de pagamento electrónico de portagens e parques de estacionamento constituam por si qualquer perigo para o condutor: ele terá sempre a opção de utilizar dinheiro vivo, que como é sabido não deixa rasto, ou até pode escolher circular por estradas secundárias. A mesma regra se aplica aos cartões Multibanco ou de Crédito: no fundo quem se sentir ameaçado pelos estratos mensais na sua caixa do correio tem sempre a opção de fazer compras com dinheiro. De resto quando abro a minha página da Amazon anoto com agrado que eles, graças a uma bem gerida base de dados, apresentam uma “montra” à minha medida e sabem do que eu gosto, o que por vezes me poupa uns bons minutos de pesquisa. Sobre a tão propalada questão dos scanners dos aeroportos: garantida a inexistência de significativos riscos para a saúde, acredito que eles constituem uma solução eficaz para um embarque mais cómodo e escorreito e um voo sem desagradáveis surpresas que pudessem ter sido evitadas. Presumo que aqueles que reclamam constituir esta tecnologia "uma inadmissível invasão da privacidade do passageiro" devem viajar pouco ou nunca. Certamente nunca passaram o vexame de ser apalpados e despidos, percorrer intermináveis bichas com os sapatos, cintos e malas abertas na mão, seja em Londres, Frankfurt ou Lisboa. A mim, com este ar de terrorista façanhudo que me caracteriza, aconteceu-me já mais do que uma vez em Londres ser conduzido nesses preparos indignos para um gabinete fechado para assistir impotente a uma minuciosa análise do meu computador. Enfim, deixemo-nos de falsos puritanismos e venha de lá o bendito scanner que eu trabalho no alto duma torre das Amoreiras e vejo os aviões ameaçadores a cada minuto de frente para a minha janela. Finalmente, este parece-me mais um daqueles temas fracturantes, cuja infindável e aborrecida discussão será facilmente ultrapassada e resolvida pelos factos que como sempre superam os argumentos... com bom senso.
João Távora, Corta-Fitas
Durante muitos anos - demasiados anos - a História renegou as biografias e a ordenação cronológica. Influenciada por certas modas ideológicas, interessava-se sobretudo por estatísticas de produção, dados demográficos, grandes "estruturas" sociais e a "luta de classes" como "motor" dos acontecimentos. Felizmente, como sucede a todas as modas, também esta se foi esgotando. O papel do indivíduo foi revalorizado, o encadeamento dos factos na sua perspectiva cronológica voltou a ganhar importância e o modo de escrever recuperou um estilo narrativo que parecia condenado ao desuso. Qualquer escaparate de livraria volta hoje a dar relevância à biografia como insubstituível género literário. As memórias, os diários de personalidades célebres e os testemunhos na primeira pessoa do singular recuperaram leitores fiéis. Vem isto a propósito de alguns dos mais notáveis lançamentos editoriais de 2009 em Portugal que continuam a ter repercussão no ano em curso. Livros como a monumental biografia de Hitler (Dom Quixote), lançada na sua versão abreviada (mas, ainda assim, gigantesca) do historiador britânico Ian Kershaw. Beneficiando da abertura de arquivos e do acesso a fontes documentais inéditas como o diário de Joseph Goebbels, o delfim de Hitler, Kershaw descreve-nos com minúcia a ascensão ao poder do fundador do III Reich, do seu percurso errante de boémio em Viena, quando ganhava o sustento vendendo medíocres aguarelas a clientes judeus, até se tornar dirigente máximo da Alemanha, submetendo sucessivas nações europeias à sua imparável sede de poder e transformando uma das mais requintadas civilizações mundiais num gigantesco cenário de terror. Outra obra indispensável agora ao dispor dos leitores portugueses é A II Guerra Mundial (Dom Quixote), impressionante descrição - passo a passo, batalha a batalha - dos seis anos mais mortíferos da história da humanidade, redigida pelo britânico Martin Gilbert, que já se distinguira como o melhor biógrafo de Winston Churchill. Destaque ainda para Uma Breve História do Século XX (Livros d' Hoje), do australiano Geoffrey Blainey, que nos chegou com o rótulo de "best seller internacional" - neste caso bem merecido: aqui se condensam de forma exemplar, em cerca de 500 páginas, os principais acontecimentos do século passado, mencionando factos políticos mas também as ideologias em conflito, as grandes descobertas científicas e todo o cortejo de prodigiosas inovações técnicas. A História está viva - e recomenda-se. É uma excelente notícia para os leitores do século XXI.
Pedro Correia, Delito de Opinião
A notícia de que JP2 se autoflagelava não surpreende quem conhece os hábitos do Opus Dei e a concepção do deus cruel do Antigo Testamento que se baba de gozo quando os crentes se mortificam. Não se conhecem os pecados de JP2, um papa supersticioso que acreditava em deus, e que, certamente, julgava redimi-los com a dor física e actos cruéis sobre si próprio. O papa polaco escreveu, em 1986, na sua carta anual aos padres.: «O que temos de ver nestas formas de penitência – às quais, infelizmente os nossos tempos não estão habituados – são os motivos: amor a Deus e a conversão dos pecadores». Que haja um deus que se suborne com o sofrimento para converter aqueles que o Papa considera pecadores, diz bem da impiedosa imaginação dos homens da Idade do Bronze, que criaram o deus abraâmico à sua imagem e semelhança. Que um papa, por mais primário e supersticioso que fosse, acreditasse no método e em tal deus, só revela o primarismo da fé no ambiente rural e crédulo da Polónia da sua infância. O hábito de dormir nu, no chão, é outro acto de masoquismo de quem pensava que deus existia e o veria na ridícula postura e impudica exibição. E o facto de desfazer a cama para enganar quem tinha a tarefa de a voltar a fazer é de quem não hesita em iludir para agradar ao seu deus. A deriva retrógrada do Vaticano, em acelerado regresso ao concílio de Trento, vê-se, não só no exemplo pouco recomendável de Karol Wojtyla, mas na divulgação dos actos ridículos no livro da autoria de monsenhor Slawomir Oder intitulado «Porque ele é um santo, o verdadeiro João Paulo II». Aquele santo, João Paulo II, precisava de companhia que lhe aquecesse os pés, não de um martírio que o conduzisse ao delírio místico de dormir nu, no chão. Necessitou de quem o tivesse levado ao médico para o medicar e evitado que se autoflagelasse. Enfim, que a demência seja equiparada à santidade, para efeitos de canonização, é um direito de quem tem alvará para fabricar santos, mas não pode esperar de um deus que se regozija com as figuras tristes de quem acredita nele, que convença alguém a levá-lo a sério. O deus cruel, vingativo, violento e xenófobo do Antigo testamento continua vivo na demência mística de quem julga representá-lo e a ser apontado como exemplo de infinita bondade.
Carlos Esperança, Diário Ateísta
Um ano depois da entronização do novo Salvador da esquerda mundial, do Messias que vinha salvar o Terra e trazer a paz e a "change", do ídolo que fazia babar jornalistas e políticos, incluindo Mário Soares, o mundo não parece ter mudado por aí além e os crentes começam a esmorecer na devoção. Ontem Barack Obama, o Escolhido, foi ao Congresso americano dar conta das razões pelas quais não se concretizaram os milagres e as maravilhas prometidas. E o que se conclui é que não alcançou praticamente nada do que prometeu nos arrebatamentos de uma retórica inflamada e propulsada a teleponto. Tendo-lhe caído em cima a marreta do mundo real, tentou sacudir a água do capote, culpar os adversários e prometer mais milagres. Em síntese, o que todos fazem, desde José Eduardo dos Santos a José Sócrates, passando por Mugabe, Chavez , etc. Nem nas tácticas se lobriga qualquer "change". O ano foi mau para Obama e não parecem vir aí melhores dias. Lá para o fim do ano há legislativas parciais e o risco de perder a maioria é real. Infelizmente são os americanos que votam e estes, contrariamente à embasbacada esquerda europeia, insistem em não divinizar o Chosen One. (Como toda a gente sabe, "os americanos são estúpidos", axioma que faz parte das tábuas da lei do verdadeiro esquerdista.)
As reformas emblemáticas que prometeu, atolaram-se na sua hubris. Guantanano continua aberta (e bem, na minha opinião), o terrorismo voltou a assomar a cabeça no heartland americano, a economia não descola, os déficites são os maiores de sempre, o clima arrefece em vez de aquecer, e o Afeganistão não vai acabar bem, sobretudo agora que Obama explicou aos talibans que só têm de aguentar até uma data precisa. Aqueles que ele pensava serem inimigos do Bush, mostram que, afinal, são, como sempre foram, inimigos da América e das ideias em que assenta, e estão-se nas tintas para os seus gestos amigáveis, pedidos de desculpa e ridículos salamaleques. O Irão continua imperturbável, Chavez idem, a Coreia do Norte some e segue, Cuba coça os tomates, a Rússia vai recuperando a sua zona de influência, etc. Pensava apaziguar os inimigos do Bush, criticando os amigos, e apenas conseguiu perder aliados. Israel não confia em Obama, a Polónia e a Republica Checa foram tratadas como peões, as Honduras deixadas sozinhas perante Chavez e sus muchachos locos. As suas invectivas contra os "políticos de Washington" são populistas e patéticas, como se ele não fosse politico e não estivesse em Washington. O inaudito ataque contra o Supremo Tribunal fez estremecer até às fundações o edifício do poder, sobretudo porque foi exactamente ele, Obama, quem, nas eleições que ganhou, encaixou e gastou uma quantia inédita na história eleitoral americana, por ter renunciado a manter-se nos limites do financiamento federal. O caminho de Obama está a afunilar e aproxima-se um momento em que, ou se modera, assume o realismo e tenta ser politico, ou foge para a frente, veste-se outra vez de pregador e corre na perseguição da utopia. Se for por aqui, o que resta do seu mandato vai ser penoso. Para ele, para a América e para aqueles que entendem que a América é importante no mundo.
O-Lidador, Fiel Inimigo
Agora que o governo aprovou o casamento homossexual, no IRS já posso optar ou contínuo a ser o sujeito passivo?
João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária
Agradeço o destaque. Abraço para si e para todos os amigos que tenho em Macau (daqueles com mais de cinco anos).
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