terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tirem-me desta década!


Terminamos assim este ano de 2009, e a primeira década do século XXI. O que vão as gerações do final deste século pensar do que fizemos com os anos 2000? Muito mal, de certeza. Se olharmos cem anos para trás, para o que fizeram os nossos tetravós com a primeira década do século XX, encontramos semelhanças. De recordar que depois da triste década de 1900 aconteceram duas guerras mundiais, um crash da bolsa, uma gripe mortífera, um mundo em convulsões, com regimes cada vez mais inquestionáveis e avanços de ideologias perigosas, enfim, ainda não encontraram as semelhanças?

Há dez anos pegámos nesta década com expectativas elevadas: virávamos o século, e ainda o milénio. O mundo parecia uma criança com um brinquedo nas mãos. Depois veio o 11 de Setembro, as guerras no Afeganistão e Iraque, as epidemias, a crise de 2008, enfim, a falência desse banco de esperanças que era o ano 2000. As duas maiores potências nucleares do mundo foram governadas ora por um idiota, ora por um déspota: Bush e Putin. Escusado será dizer que em vez da via da aproximação e do desarmamento, voltámos a uma nova Guerra Fria, desdramatize-se ou não.

As potências emergentes saíram todas daquilo que se chamava “Terceiro Mundo”. A China, India, Brasil ou Angola podem não ser modelos de virtude, mas de tanta confusão optaram pela via da economia, da paz e do reforço da segurança interna. Mas quanto aos direitos humanos, é triste que continuem a acontecer atropelos em toda a parte, e praticamente nenhum país pode dizer que não tem culpas no cartório. Estes últimos dias do ano vêm encerrar a década com chave de ouro: são incontáveis os casos de tragédia, morte, prisão ou tortura que desfilam pelos jornais e noticiários.

Podemos mesmo orgulhar-nos de ter assistido esta década ao regresso da pirataria marítima, ao triunfo da pirataria informática, e o crescendo de todas as formas de pirataria imagináveis. Assitimos ao tsunami financeiro e ao outro também. Se me perguntarem como penso que vai ser a próxima década, numa palavra, eu dizia “merdosa”. Vamos ser sete mil milhões a viver na Terra já em Julho, o que significa que vamos ter cada vez mais ricos, muitos mais pobres, e um regresso penoso à escravatura.

Nota: Tenho tido pouco tempo para actualizar o blogue, como devem ter reparado. Espero que a situação melhore já amanhã ou na quinta-feira, quando vou tentar escrever uma espécie de "Revista do ano". Obrigado por visitar o Bairro do Oriente.

3 comentários:

  1. É um erro comum. Os finais de década e de século são sempre uma grande confusão. Mas, fazendo contas, é mais simples do que parece. O século XXI não começou no ano 2000 (esse foi o último ano do século XX). O século XXI começou no dia 1 de janeiro de 2001, dia em que começou também nova década e novo milénio. Por isso, para que acabe esta primeira década, terá de esperar mais um ano (até ao dia 31 de dezembro de 2010). Portanto, no verdadeiro final da década, pelo ritmo que as coisas levam, ainda terá coisas muito piores para dizer deste estúpido início do século XXI. Basta esperar mais um ano, que tirando o erro matemático, o resto do que diz está certíssimo.

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  2. Deixemo-nos de preciosismos: o ano 2010 faz parte da decada de 10 do sec. 21 da mesma forma que 1980 fez parte da década de 80 ou 1990 da década de 90 do seculo passado.

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  3. Não é preciosismo nenhum. Quando se falar na década de 10, 2010 estará incluído. Mas isso não faz com que a primeira década do século XXI esteja já concluída. Só o estará daqui a um ano.

    Dizem que são preciosismos, não ligam, e depois cometem erros crassos, como dizer que o século XXI começou no ano 2000 (confusão que só serviu aos operadores turísticos, que assim conseguiram, em 1999-2000 e 2000-2001, inflacionar ainda mais os preços em duas passagens de ano consecutivas, anunciando ambas como a passagem de século e de milénio). Estas confusões dão sempre muito jeito aos espertalhões, e por isso é que é mais importante do que parece.

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