segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Línguas
1) Detive-me a ver o documentário da autoria de Sylvie Lai sobre o patuá, que passou ontem à tarde na TDM. Bem, sobre o patuá penso que já disse tudo: é um crioulo do português, e devia ser património cultural intangível da humanidade. Quanto ao programa propriamente dito, ficámos a conhecer toda a gente à face da Terra que fala patuá, aprende patuá ou estuda o fenómeno deste dialecto tão querido das gentes de Macau. Foi realmente uma pena que tenha sido uma vez considerado “português mal falado” e sido esmagado pela administração colonial, como tanta outra coisa que terá desaparecido por esses lugares mundo fora onde deixámos a nossa indelével marca lusitana. O patuá foi escrito e falado em inúmeras récitas do grande poetá Adé dos Santos Ferreira, e depois da sua morte em 1993 surgiu o “Doçi Papiáçam di Macau”, o grupo de teatro liderado por Miguel Senna Fernandes, provavelmente a maior autoridade viva do linguajar maquista. Os “Doçi” comemoraram recentemente os seus 15 anos de existência, e todos os anos brindam o público amante do patuá e da comédia em geral com uma peça teatral, com alguns dos nomes que já sabemos de cor. Quem fala realmente patuá, quem ainda comunica nesse doce linguajar, conta-se pelos dedos de uma mão. E há quem diga que o patuá varia de pessoa para pessoa, de família para família, e não existe uma gramática propriamente dita ou um rol de obras literárias de referência. Ao contrário do sânscrito, o patuá falava-se mas não se escrevia. É bom que ainda hajam profissionais liberais que cuidem do patuá por hobby, ou linguístas que o estudem, pois se for para depender das novas gerações, isso não vai pura e simplesmente acontecer.
2) O que me leva ao tema da importância da manutenção da língua portuguesa como um dos idiomas oficiais da RAEM. Muito se tem falado e escrito sobre o assunto recentemente, e é difícil chegar a uma conclusão sobre o verdadeiro futuro do Português em Macau. Por razões de aquartelamento, nunca conseguimos implantar com firmeza a nossa língua colonizadora, ao contrário dos nossos vizinhos ingleses em Hong Kong. É simpático que se façam esforços para que se compreenda de ter uma língua alternativa ao chinês, que faz parte de Macau e torna a cidade diferente das outras no contexto da região de Cantão e da grande China, mas até já conheço pais portugueses que não falam português com os filhos. Os primeiros sinais foram dados pela última geração de macaenses que estudou português, e preferiu colocar os filhos em escolas chinesas. Pragmatismo ou realismo, não sei, mas o Português só se usa na administração, especialmente na justiça, e fala-se entre portugueses, não servindo para muito mais. Por outro lado temos os nossos amigos americanos, australianos, ingleses e outros anglófonos que se queixam do inglês não ser língua oficial, uma vez que estão aqui a investir forte e feio e querem saber com que linhas se devem coser. Parece que o TDM News e o Macau Daily News não lhes enche as medidas. É este o diagnóstico frio e seco.
"mas até já conheço pais portugueses que não falam português com os filhos"
ResponderEliminarPois estes são dos tais que só são portugueses quando lhes dá jeito
Tambem estao a investir forte e feio na China, e que eu saiba a lingua oficial e o Mandarim!
ResponderEliminarEle ha cada comparacao!
Nao e preciso ler Jane Austen para apostar no bacara!
Macau Daily News??? Deve ser um novo jornal ingles a que só o Leocardo tem acesso...
ResponderEliminar"...os nossos amigos americanos, australianos, ingleses e outros anglófonos que se queixam do inglês não ser língua oficial".
ResponderEliminarSe se queixam, voltem para o sítio donde vieram. Mas agora o inglês tem de ser língua oficial onde eles querem? E porque não o mandarim, o tagalo, o indonésio ou o tailandês?