sábado, 25 de abril de 2009

O 25 de Abril, por Vasco Pulido Valente


A "revolução" do 25 de Abril foi um sinal de atraso, o fim anacrónico de um regime anacrónico. Na Europa civilizada e "desenvolvida" ou "semidesenvolvida" - em França, na Alemanha, no Império Austro-Húngaro - as revoluções, se a palavra é justa, acabaram em 1848. Mas continuaram na periferia: na Rússia, em Espanha e em Portugal; e, depois da II Grande Guerra, só houve algumas tentativas, logo sufocadas, nos países que a URSS ocupava. Foi por isso que o 25 de Abril teve tanto de teatral.

Consciente ou inconscientemente, as figuras do drama, ou do melodrama, copiavam uma tradição. A chegada de Álvaro Cunhal com o discurso em cima da Chaimite copiava a chegada de Lenine à estação da Finlândia. O cerco da Assembleia copiava o cerco à Convenção. E os grupúsculos de esquerda e de extrema-esquerda copiavam os clubes de Paris. O PREC não trouxe nada de verdadeiramente original.

De resto, não se pode em rigor chamar ao 25 de Abril uma "revolução". Em sentido técnico o 25 de Abril não passou de um pronunciamento militar; de um "contar de espingardas", como se dizia à época, esperando que o exercício bastasse, como em geral bastou, para excluir a violência. O povo veio depois festejar para a rua e proclamar a sua liberdade, correndo ou maltratando os milhares de tiranetes que o oprimiam. Era a "festa", uma encenação que não tocou na realidade: no pessoal do regime, na diplomacia e até na PIDE, que se escapuliu para reaparecer mais tarde e receber uma pensão do contribuinte. Tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável. E, como as suas pretensões socializantes, que persistiram até hoje, tornou uma sociedade já fraca mais submissa e dependente do Estado.

Em contrapartida, o 25 de Abril serviu para cortar Portugal do insustentável passado da colonização e para o empurrar para a Europa, como a maioria dos portugueses queria. O abandono de África não provocou nenhuma resistência interna, provando a artificialidade (e a fragilidade) do imperialismo indígena. A "Europa" de Bruxelas criou, sobretudo durante o "cavaquismo", uma compreensível euforia. Por um tempo o país pensou que seria um país "normal", próspero, organizado, moderno. Como era inevitável, a ilusão durou pouco. O velho Portugal reemergiu sob novas formas, mas reemergiu. Voltámos, como de costume, a uma "inferioridade", que desta vez não é atribuível a qualquer demónio externo ou azar histórico. E não existe no saco dos milagres outro 25 de Abril para nos "salvar".


In Público, 26/4/2008

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