sexta-feira, 27 de março de 2009

Os blogues dos outros


Para quem vem de fora, Macau tem um outro sabor. Visito os mesmos lugares de antes só para me recordar que já tinha estado cá por uns dias. Mas depois perco-me e volto a perder-me. Entre a chuva, acho que Macau é um lugar romântico nas ruas pequeninas e nos jardins que vou encontrando. Em Hong Kong quando perguntei pelo sítio para apanhar o barco para Macau, só me disseram - Olha que é preciso dinheiro para apostares lá. Como já era a segunda vez que alguém me falava dos casinos como o único que havia em Macau, acabei por dizer que a minha mochila (aquela que me dá um ar de turista de boleias), estava cheia de dinheiro. Mas agora percebo que devia era ter explicado - desculpe o incómodo mas eu quero ir comer um Molotoff a Macau, sabe dizer-me onde apanhar o barco?

Maria João Belchior, China em Reportagem

Praticamente todos os dias saem notícias a falarem nos cortes que estão a ser feitos no número de trabalhadores não-residentes. Além de revelarem desprezo por aqueles que muito contribuíram para o crescimento de Macau, parece-me que pelo menos em alguns sectores, deveriam levar em conta se os residentes de Macau estarão dispostos a ocupar essas vagas. Sempre me incomodou que se tratem pessoas como meras estatísticas.

El Comandante, Hotel Macau

Tive um professor que, quando começava o ano lectivo, vinha sempre com a mesma ladaínha desalmada: perguntava quem era do Sporting e afirmava que os restantes alunos estavam chumbados. Curioso ou nem por isso, creio poder adiantar que o professor não cumpria o prometido e chumbava de ambos os lados da barricada, tal como igualmente aprovava. E, tanto quanto sei, nunca nenhum aluno creu que o preclaro professor falasse verdade, quando, afinal, notoriamente brincava. Era um chiste, portanto. Há uns dias, um tal de Eleutério, padre por vocação, resolveu dizer uma piadita na missa. Coisa maldita, que aos padres não se admitem folganças! Caíu-lhe o carmo e a trindade em cima – salvo seja. Televisões, jornais, rádios e afins, tudo andou à cata do pobre prior e até à saída de um funeral lhe fizeram uma espera. O homem já se explicou: que era uma brincadeira, que tem destes hábitos durante a missa. Diz que é para cativar fiéis. Ainda ninguém lhe perdoou o gracejo. Padres brincalhões, era o que mais faltava! Do futebol ninguém zomba! Deixe lá, caro Padre Eleutério, o nosso Deus tem sentido de humor. E há-de seguramente estar a rir do patético Portugal e dos seus jornalistas, cada vez mais incompetentes e mesquinhos.

VICI, MACA(U)quices

Não aceito que se noticie a morte de um pacato cidadão que se tinha deslocado a uma estação dos Correios como um mero acto ocasional. É infame que uma qualquer pessoa que frequente um serviço público já não saia de lá com vida, simplesmente porque a insegurança grassa em todo o país. Se a polícia não captar os homicidas nas próximas horas é grave. Gravíssimo, para uma sociedade que está quase a habituar-se a ver casos deste tipo a qualquer hora do dia. Delegações bancárias, gasolineiras, supermercados, ourivesarias, estações de correio e caixas de multibanco têm sido alvos fáceis para os criminosos. O ministro da Administração Interna continua a afirmar que está tudo controlado e que o Governo "está atento". Atento a quê? Será importante que fique atento ao que aconteceu ontem, no sentido de que o cidadão foi morto à queima-roupa porque os assaltantes teriam pensado que se tratava de um agente da polícia. Quer dizer, a partir de agora, todo o agente fardado passa a ser um alvo a bater sem apelo nem agravo? Quando é que o senhor ministro Rui Pereira decide chegar ao conselho de ministros e provar aos seus pares que o aumento da criminalidade deve-se essencialmente ao novo e absurdo Código Penal? Ainda vai a tempo de forçar a mudança do texto. Não se pode é atrasar muito, antes que o confundam ao entrar numa loja para comprar uma camisa de cor azul com um qualquer agente das suas polícias...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

A Candidatura de Pedro Santana Lopes a Lisboa mostra claras semelhanças com a estratégia nacional de Manuela Ferreira. Relembremos os momentos em que a Doutora se remeteu a um longo e estratégico silêncio para depois vir a terreiro quebrar esse mesmo silêncio com argolada atrás de argolada. Depois de meses de silêncio Pedro Santana Lopes lançou os seus sites. Após uma breve vista de olhos percebi que o Doutor e os Doutores assessores desconhecem que a Praça de Touros do Campo Pequeno não se situa na Freguesia de S. João de Deus, mas antes na Freguesia de Nossa Senhora de Fátima. É um "pormaior" que quem esteve anos à frente da Câmara Municipal de Lisboa não deveria desconhecer. Mais, depois de tamanho silêncio prometendo que decorria a preparação da melhor campanha jamais vista em Lisboa, não deixa de ser um tremenda desilusão. Assim só chega a Presidente da Câmara de Lisboa suspendendo a democracia. É caso para dizer... "Salva os Touros dos toureiros"!

André Couto, Delito de Opinião

Há qualquer coisa de medieval no que vemos e ouvimos ser tomado por Justiça um pouco por todo o lado. Avelino Ferreira Torres, esse grande absolvido de 2009, pertence claramente a essa tal profundidade medieval indescritível de um Portugal imortal, bonecreiro, pantomineiro em todas as frentes. E hilariante em coisas sérias que ninguém respeita de todo. Símbolos com que nos rimos e desistimos: histrionicamente, Avelino avulta como cromo irrepetível na colecção farfalhuda portuguesa. O Portugal dos grandes benfeitores locais, tão corruptos como toda a gente por todo o lado, mas muito mais dados ao sentimento sentido de martírio e à paranóia, revertem-se efectivamente em Mártires e Inocentes acima dos demais e com o aplauso deles. Terão sempre direito ao seu momento de desagravo público, de dedo em riste contra denunciantes e detractores. Triunfarão com a sua verdade. Pensar que o Interior nos tem dado uma profusão de estas personagens! Que farta cópia: de Vilar de Maçada a Felgueiras, de Felgueiras a Braga, de Braga a Oeiras, de Oeiras a Gondomar, de Gondomar a Marco de Canavezes, o País é um ovo: «Avelino Ferreira Torres acaba de ouvir o acórdão que o absolveu de seis crimes (corrupção, peculato de uso, abuso de poder e extorsão) que lhe eram imputados. “Esta decisão fundamenta-se na prova produzida nesta sala e não no que se diz lá fora e no inquérito”, afirmou a juíza presidente Teresa Silva.»

Joshua, Palavrosavrvs Rex

O marido de Y. ficou em coma permanente após um acidente de automóvel. As lesões cerebrais são irreparáveis. Dado o estado do marido Y. não teve outra opção a não ser internar o marido numa clínica privada, a única forma de garantir todos os cuidados necessários para manter o marido em vida. Y. paga mais de 3000 € por mês em pomadas, massagens, alimentação, medicamentos e renda da cama na clínica. Já lá vão mais de 10 anos e o montante pago pelo seguro, pago tarde, está prestes a esgotar-se. Y. tem dois empregos para tentar abater a pesada factura mensal. Y. tem um filho na escola. Y. nem sequer pode recomeçar uma nova vida, não se pode voltar a casar, do ponto de vista legal divorciar-se do marido seria um crime, seria considerado abandono de parente próximo incapacitado. Não sei o que vai ser da Y. nos próximos 10 anos, ela está a esgotar-se... O que eu sei é que o senhor bastonário não se preocupa muito com as massas que o estado poupa nestes casos onde o moralismo estatal casa com o liberalismo económico cego. Mas ele gosta do estado moralista, dos brochezitos ao Vaticano...

Rui Curado Silva, Klepsýdra

Estava aqui no café a ver a televisão sem som e aparece o PM com um púlpito a dizer «Plano para Salvar a Indústria da Cortiça». Para além da Corticeira Amorim, esta indústria envolve exactamente quem? O PM não lê a revista Forbes, ou quê?

João Villalobos, Corta-Fitas

A SIC Notícias está neste momento contentíssima, porque já se pronunciaram sobre a arbitragem do Benfica-Sporting e o recurso às novas tecnologias em prol da "verdade desportiva", o professor Freitas do Amaral, a camarada Ilda do PC e o escritor Lobo Antunes. Mas que satisfação, hein? Já nos vamos deitar hoje muito mais descansados.

Victor Abreu, Jantar das Quartas

A bosta é natural e alimenta muito bicharoco. Entra na economia do sistema vegetal e sai da vegetação dos economistas. Também a real bosta que é a TVI veio enriquecer as nossas opções lúdicas na versão 24. Nada se perde.

Valupi, Aspirina B

Tal como os lutadores profissionais estão como zombies entre os combates – e essa espera pode durar meses – também ele se sentia desempregado, apenas meio vivo, entre cada noite. Não, nem sempre sonhava com ela, aliás nem sabia quem “ela” era, e muitas vezes mesmo sem se recordar de pormenores sabia que o sonho tinha sido um pesadelo e que acordava mais cansado do que quando se deitara. Mas sabia que só quando dormia se encontrava – fosse com o que fosse. Com “ela”, com os monstros lovecraftianos que havia na sua psique, com a essência divina da aventura humana, com a verdadeira e secreta geometria do planeta. De dia, pálida sombra de uma coisa qualquer. Mas atenção, não era só de dia. Não se tratava aqui de nenhum culto romântico da “noite” ou de álcoois tardios no Bairro Alto. Era o sono, apenas o sono. Napoleão justificava a insónia com o não querer que o império lhe escapasse por entre os dedos enquanto dormia. Com ele era o contrário: sabia que a verdadeira vida lhe escapasse por entre os dedos enquanto estava acordado. Que, depois, mal ou nada se lembrasse dos sonhos, era apenas um pormenor, lamentável (por uma questão de satisfação), mas sem grande importância.

Rui Zink, Rui Zink versos livro

Sem comentários:

Enviar um comentário