terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Dia de reis
Hoje é dia de reis. E depois? Nada de especial. Para mim chega mesmo a ser uma data deprimente, que marca o fim da época festiva. Em Espanha abrem-se as prendas e puff, perdemos os últimos resistentes. A partir de agora é a valer. Acabaram-se as simpatias e o "it's all good" da quadra natalícia e temos mais um ano pela frente. Vá, toca a trabalhar. O chefe já não está para brincadeiras, como quando ainda há duas semanas se vestiu de Pai Natal e distribuiu rebuçados pelos filhos dos trabalhadores da empresa. E este ano pode-se considerar cheio de sorte, que o Ano Novo Chinês está mesmo aí à porta, e a boa vontade regressa mesmo antes de ir embora.
Ainda me lembro dos meus dias de Reis no tempo em que era puto. Lá em casa comia-se bolo rei (lógico), que sempre preferi torrado, besuntado com manteiga e tomado com chá, a minha avó comprava romãs no dia anterior, que descascava, guardava as sementes no frigorífico com umas duas colheres de açucar, que se comiam no dia seguinte. Na gaveta da cómoda da sala guardava as coroas das romãs, juntamente com os brindes do bolo rei, que dizia ser para dar "sorte". Os pais, tios e avós bebiam vinho do Porto, enquanto os mais pequenos brincavam no quintal junto do limoeiro com os cães e as galinhas, aos "generais".
Costumava ser uma alegria, a quadra natalícia. Primeiro tinhamos os dias antes do Natal, onde o pai nos levava aos armazéns do Chiado ou do Grandela fazer as compras de livros, brinquedos e jogos para toda a criançada. Era um priveligiado, porque o meu pai trabalhava em Lisboa. Alguns dos meus primos só conheceram a capital já durante a adolescência, e mesmo assim apanhavam um táxi logo que chegavam, quais saloios perdidos na grande cidade. Desde os 10 anos que já sabia andar de autocarro, metro ou até a pé, resistindo às graçolas dos alfacinhas de gema. Lisboa era sempre mais linda no Inverno, com as luzes de Natal combinando com o cinzento dos edifícios, e o encantador cheiro a castanha assada.
Depois era o Ano Novo, e ainda ficávamos na expectativa do dia de Reis, como se o dia seguinte ao reveillon ainda tivesse qualquer coisa de festivo. O dia de Reis, apesar de não ser feriado, era um prolongamento da festa. Aqui em Macau o dia 6 de Janeiro é a véspera do dia 7, e um dia como outro qualquer. Foi preciso que os miúdos me lembrassem que hoje se cantam as Janeiras. Foi preciso um nanosegundo para que me lembrasse o que são as Janeiras, essa memória tão distante. E já agora sabiam que foi o Zeca que escreveu a canção das Janeiras? Se não foi ele, pelo menos adaptou a versão popular mais ouvida na quadra. Eu não sabia. Uma feliz epifânia pra todos.
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