segunda-feira, 21 de abril de 2008
O outro lado do patriotismo
A campanha lançada na internet na passada semana tem sido levada a sério pelos patrioteiros chineses, que têm feito um autêntico cerco aos vários supermercados da cadeia Carrefour em várias cidades da China. A situação é tão séria que o presidente gaulês Nicolas Sarkozy mandou um comité de crise à RPC para se inteirar da dimensão do problema. Em causa está a passagem da tocha olímpica por Paris no último dia 7, perturbado por manifestantes a favor da causa tibetana. Segundo os patriotas chineses, o governo francês "não fez tudo o que estava ao seu alcance" para impedir os tumultos. O governo chinês já apelou à calma e à contenção.
Entretanto verificaram-se mais protestos contra a cadeia de notícias norte-americana CNN. A CNN transmitiu na semana passada um programa em que um dos membros do seu painel, Jack Cafferty, terá proferido palavras pouco simpáticas ao povo chinês e apelidou os produtos chineses de "lixo". A CNN já deixou claro que as opiniões de Cafferty não reflectem o pensamento da cadeia de televisão, e que foram dirigidas ao Governo chinês, não ao povo. Vários manifestantes pró-China seguravam cartazes apelidando a CNN de "anti-China" e insurgindo-se contra o tratamento a que as notícias sobre a China é dado no Ocidente.
Uma notícia preocupante a respeito da tocha; a polícia nepalesa tem ordens para disparar sobre os manifestantes quando o facho olímpico chegar aos Himalaias. Hoje em Kuala Lumpur, por onde a tocha passou, foram registados mais incidentes provocados por manifestantes anti-China. Saiba mais no Jornal Tribuna de Macau, Hoje Macau, e leia o que pensa Carlos Morais José, no seu editorial.
E já reparam que os manifestantes são quase todos bastante jovens? E se vocês têm amigos chineses no MSN, decerto reparam que muitos deles aparecem com um "love china" antes do nome.
ResponderEliminarOnde eu quero chegar é que este nacionalismo exacerbado afecta muitos dos beneficiados do regime e das suas reformas económicas: jovens, urbanos, muitos deles com formação superior. Ou seja a futura elite que irá dirigir os destinos da China.
Como eu já li algures, o regime chinês não tem uma legitimidade democrática, mas sim uma legitimidade económica.
Enquanto o tempo das vacas gordas durar, esta futura elite vai continuar satisfeita com o regime e manifestar-se apenas contra os demónios estrangeiros.
Ao contrário dos mais desafortunados, camponeses, mais preocupados com a quebra dos seus rendimentos, falta de acesso a cuidados de saude, educação cada vez mais cara e corrupção por parte dos governos locais.
Essas manifestações também acontecem, cada vez mais, só que não aparecem na televisao e são reprimidas.
Mas o tempo das vacas gordas não dura sempre. Há sempre uma crisezinha por um motivo ou outro.
E nessa altura talvez os actuais beneficiados terão outras razões para se manifestarem. E de certeza que não será em apoio do governo
Ao Contraditório,
ResponderEliminarSem dinheiro, não há palhaços nem sonhos.
O problema de uma grande fasquia da população desfavorecida chinesa prende-se ainda e hoje em dia com problemas de fome, de se querer almejar três ou mais refeições por dia e mais do que arroz e umas tiras de hortaliças e aos mais afortunados, peixe salgado (hám yue).
A China precisa de um desenvolvimento económico estável e sustentado, quanto ao regime político, no dia em que o Povo estiver todo bem acondicionado, logo exigirá novos direitos, terá novas ambições...não queira tudo para ontem.
A Economia é quem comanda a política e não ao contrário.
Os desenvolvimentos económicos da RPC e da globalização vão criar sinergias tais que nenhum regime por mais duro que seja vai conseguir conter a ambição humana, do Povo, em querer melhorar todos os aspectos da sua vida económica, política, cultural, espiritual e social, de modo que apenas nos resta esperar, esperar que a RPC se desenvolva, que todos sejam ricos, que todos tenham uma cultura extraordinária, que surja a aristocracia segundo Burke.
Esta questão da tocha, vai explicar e muito bem o peso do seu significado para o Povo chinês, ou pelo menos para as elites chinesas.
Se recordam, logo após o Handover de Macau, uns chicos espertos de olhos em bico apagaram prepositadamente a luz ao Farol da Guia, para acabar simbolicamente com a iluminação portuguesa de quase 5 séculos.
Pois bem, agora a tocha olímpica, tem o mesmo simbolismo de poder, de "Luz" a nível metafísico, de vitalidade, e é lógico que ao atentar-se contra a tocha, seria o mesmo que atentar-se contra a vitalidade chinesa, a luz, o poder chinês. Mas Deus é justo, e já se ensinava...Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti...
Se gentes em países terceiros atentassem contra tocha olímpica portuguesa, ah, de certeza que lançaria uma campanha de boicote contra esses países que não acondicionaram na perfeição a segurança da tocha. Aí os chineses fizeram muito bem em boicotar as empresas - aí vemos a economia e a sua função social a funcionar -, pois a história da brincadeira do "apaga-a-tocha" é digna de circo, ao melhor nível dos berloques de esterco. Haja paciência.
Os aveques são esquizofrénicos. A doença agrava-se quando andam a toque dos bifes. Tanto defendem o Estado Laico e proíbem os símbolos religiosos nas escolas como boicotam olímpicos em prol de teocracias no Oriente. E o melhor de se ver é o resto da cambada que aplaude acabando por se juntar à histeria festiva dos pseudo intelectualoides e falsos humanistas que orquestraram esta palhaçada!
ResponderEliminarPorque será que os reporteres sem fronteiras não "apontam armas" à Arábia Saudita ou aos Estados Unidos? Se calhar pena de morte, prisões secretas e legalização da tortura não contam como violações dos direitos humanos...
A sorte deles é serem os chineses. No médio oriente a esta hora tinham crateras no lugar dos seus abichanados carrefours! Assim percebiam logo que estão a mijar contra o vento.
Ainda ontem fui a um dos supermercados Carrefour, aqui, em Pequim e a frequência parecia normal, mas acontece que nunca demorei tão pouco tempo na fila para pagar. Isto dá para pernsar.
ResponderEliminarRaul
Caro Vitório,
ResponderEliminarEu já acreditei mais nessa história de que a China ao se desenvolver e crescer economicamente, a sua população irá normalmente exigir um outro tipo de sistema politico.
Isso é possivel, mas actualmente eu estou mais pessimista.
As pessoas quando têm a barriga cheia tendem a acomodar-se.
Cá para mim isto só vai mudar ou através dos deserdados das reformas económicas, que são muitos ( camponeses, gente de meia idade sem qualificações, gente despedida das grandes empresas públicas que fecham, etc.), ou então devido a uma crise económica, parecida com aquela que levou á queda do Suharto na Indonesia.
Mas esperemos que eu esteja enganado, meu caro Vitório, e que as coisas decorram de forma relativamente pacífica.
A bem da China, de Macau e de todos nós que aqui vivemos.
Caro Anónimo,
ResponderEliminarSobre a China, a se "REALISTAS", confusão por esse Império do Meio, só vai sobrar para todos os outros, para nós... desde refugiados, criminalidade, êxodo descontrolado, perda de face dos chineses, mais gastos na segurança internacional dos Estados vizinhos, etc...
Como afirmou um dia o Emb. do Japão em Lisboa, o Japão quer que a China se desenvolva, que resolva os seus problemas internos, caso precisem de ajuda, os tigres ou dragões da Ásia, ou Portugal estarão ao dispor.
Como diz e bem, a ruína da RPC não trará nada de bom, nem para os chineses, nem para nós, e seria imoral desejar-se tal coisa.
Estou muito esperançado na mais nova geração de políticos (júniores) dos seus vintes a trinta e tal anos, são pessoas impecáveis, sofisticadíssimas, na melhor tradição aristocrática (puro sentido do mandarinato), quase que nados nas melhores universidades do mundo, de espírito aberto e sensível. Foi esta a ideia que fiquei deles, durante um encontro de cooperação política em Pequim (2005 - http://www.psd.pt/default.asp?s=12025&ctd=54767 )
Os chineses, já sabem que a comunice já era, a questão prende-se em não quererem perder a face e admitir o erro, daí que o Prof. Heitor Romana analisou que a RPC já começou a apagar do discurso oficial a coisa do "Partido comunista", substituindo-a para "Estado chiunês" (até com tiques nacionalistas). É sem sombra de dúvidas um avanço... com o tempo chega-se lá, eu acredito e ainda mais os chineses, como todo e qualquer bom cidadão, almeja o melhor para o seu país.
Saudações,