segunda-feira, 21 de abril de 2008
Mais vale ser maluco
Ontem resolvi aproveitar o solarento Domingo para dar um passeio na Venetian. Deixei os miúdos com os sogros (para que servem, afinal?), tios e primos, para deixá-los tomar contacto com as suas raízes sínicas, o que também é importante. Uma vez na mega obra de Sheldon Adelson, eu a minha cara metade resolvemos fazer compras várias, até que chagámos na multinacional espanhola Zara.
Tudo estava a correr em perfeição, até ao momento em que a mulher decide experimentar um vestido. Fiquei ali pacientemente junto ao gabinete de provas, que não era mais que um pequeno corredor no canto da loja, com quatro ou cinco cabines apenas tapadas por um cortinado castanho. Depois de provar um dos vestidos, ela pede-me que lhe traga o mesmo modelo numa outra cor. Trouxe-lhe o vestido e foi para grande espanto que sou advertido por uma das meninas que ali trabalha, que “não podia estar ali”, e que aquela área era reservada a senhoras.
Mas não foi um simples chega para lá, o ar agastado da menina, que se dirigiu a mim naquele inglês macarrónico, com os olhos fechados e uma cara zangada de quem parecia querer afastar um gato dos carapaus. Tivesse ela uma vara verde e levava eu uma valente vergastada. Deixei a mulher comprar os vestidos, e de seguida dei à menina o correctivo da ordem. Disse-lhe que não era nenhum tarado ou violador, e que não era assim que devia falar com os clientes. Passou de amarela para roxa, e só não me pediu desculpas (como devia) porque ficou sem palavras.
Só depois de matutar uns instantes naquele episódio cheguei à conclusão que talvez a menina me tivesse confundido com um certo tipo de clientes que por ali andam. Provavelmente do alto da sua pouca experiência terá pensado que eu, por ser branco, teria engatado aquela pobre chinesa (a minha mulher) na noite anterior e estava ali na Venetian a pagar os serviços prestados durante o fim de semana. A julgar pela quantidade de mulherame assim do tipo modelo de Grande Prémio de Zhuhai que se encontra acompanhada de estrangeiros com aspecto lânguido, que tanto se vê por aí ao Domingo.
É que já se sabe, Macau é pequeno, e é apenas um lugar de passagem para muita dessa estrangeirada perversa. Aos Domingos e Feriados é vê-los aí a exibir as suas conquistas, nos restaurantes, nas lojas de roupa, nos centros comerciais, com aquele ar de “tem que ser”, de típicos conhecedores das regras do jogo. O mais desagradável é ser confundido com essa gentinha, principalmente ter que levar com o ar de reprovação e às vezes a retórica de quem se calhar também não é nenhum santo.
Lembro-me uma vez ter ido à antiga discoteca do Hotel Mondial com uma rapariga Filipina, que por acaso era só uma amiga. Quando saimos juntos duas horas depois, cada um para o seu lado, levámos com aquela cara de carrasco das suas compatriotas que frequentavam aquela danceteria, empregadas domésticas e meretrizes de fim-de-semana, que sorriam com um ar cúmplice de quem dizia com os seus botões “olha a nossa compatriota vai lucrar uma quinhentola”.
Cheguei a ter uma namorada portuguesa, que por acaso era loira, em meados dos anos 90, altura em que as prostitutas russas eram moda. Passei pelos maiores embaraços imagináveis. Eram os chineses que se detinham a olhar, os carros que paravam, os outros kwai-lous que olhavam e sorriam como quem esperava que eu descesse e que se levantasse novamente o putímetro (adaptação de “taxímetro”). Sei de casos de outras loiras, portuguesas e outras ocidentais, que sofreram também com a “russiamania”.
Mas isto não é surpresa para quem já em tempos, e mesmo antes de Monte Carlo ou Las Vegas, apelidou esta cidade de “Sodoma & Gomorra do Oriente”. É mais fácil arranjar uma prsotituta que um táxi, e as filas de espera nas urgência dos hospitais públicos nada se comparam às filas de espera (se as há) das inúmeras saunas e bordéis espalhados pelo território. Os preços são também para todas as bolsas; temos para cem patacas e para cem mil, passo o exagero. Como disse uma vez aquele senhor economista muito pragmático, “tudo tem um preço”.
Não que eu tenha algo contra as virtudes do sexo casual, e dos one night stands. E que raio, cada um faz o que quer com o seu corpo. O que não me agrada mesmo nada é ser confundido com algum voyeurista com tendências masturbatórias, e muito menos ser tratado abaixo de cão numa loja da espanholada por essa razão. Já não basta o mundo que temos em que perguntar as horas a uma criança já é quase entendido como um acto de pedofilia.
Mas fiquei vacinado após este episódio na Zara. Da próxima vez vou perfeitamente identificado como chefe de família, levo os miúdos e os primos deles, todos com as mãos devidamente cagadas de ranho e chocolate, a mexer nas roupas e a fazer um estardalhaço do caraças. Já agora, alguns dos leitores devem estar a pensar que a culpa se calhar é minha, e tenho pinta de pervertido ou pedófilo. Nada disso. Mas se tivesse, ninguém se metia comigo. É que às vezes o melhor é parecer mesmo maluco, assim pode ser que nos deixem em paz.
Daria razão a essa menina se tivesse agido de melhor forma,mas não deixa de ser verdade que não se pode entrar nos corredores dos provadores de senhoras.Até porque se reparar antes de entrar nos provadores (caso a loja seja só para senhoras, ou tenha provadores diferenciados), supostamente tem de estar um papel escrito a dizer enterdida a passagem do sexo masculino.E penso que é devido às senhoritas se sentirem encomodadas com a presença de um desconhecido do sexo oposto no mesmo local...a mim não me faz diferença,é para isso que serve a bela da cortina...mas a lei é para todos =)
ResponderEliminarNão havia nenhum aviso, nem sequer que indicasse que aquela era a área da prova. Além disso vi pelo menos um homem que trabalhava lá que andava de um lado para o outro e entrava onde lhe apetecia. A minha mulher ficou na primeira cabina, o que vale por dizer que só o meu braço esquerdo (sou canhoto) entrou no corredor, quando lhe entreguei o vestido.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário e cumprimentos.
«incomodadas»!
ResponderEliminarLeocardo, ao ler a sua posta, reafirmo-me que ir "às Zaras" em Portugal é sinónimo de circulação livre no acompanhamento aos provadores e sem constrangimentos... enfim ..." culturices orientais"
ResponderEliminarCaro Leocardo,
ResponderEliminarNa Zara secção para senhoras, é expressamente proibido a entrada ou permanência de homens, isto na Av. Guerra Junqueiro, e sei porque a minha namorada às vezes insiste em fazer incursões por essas casas e tenho de dar apoio tipo "estendal"...
Saudações,
Não são mariquices orientais, mas sim mariquices do Grupo Castelhano.
... e na mesma rua, na "Mango" é proibída também a permanência de homens na zona dos e nos provadores, daí que elas tenham de levar uma "montanha" de vestidos para provar.
ResponderEliminarO mais engracado que encontrei na Zara da Venetian foi as meninas furarem os vestidos com as etiquetas alarme...este indicador de roubo que se colocam na roupa tem um prego que "da' cabo" de qualquer tecido ou vestido portanto a roupa da Zara tem toda em comum um belo buraco na roupa normalmente bem visivel .....:) as meninas
ResponderEliminar"Lembro-me uma vez ter ido à antiga discoteca do Hotel Mondial com uma rapariga Filipina, que por acaso era só uma amiga."
ResponderEliminarA gente finge que acredita, tá Leo?
Grupo Castelhano? Oh Vitório, se tanto lhe doi chamar de Espanhol o que Espanhol é, ou se por acasso é só por chateiar, entao nao seja mais papista do que o Papa e diga Grupo Galego, pois a Inditex é galega.
ResponderEliminarO Espanhol
Bem mandada, Curro! Este Vitório é tãooooo parvinho, Santo Deus!
ResponderEliminarEssa dos alarmes não é um "privilégio" da Zara do venetian... várias Zaras na zona de Lisboa fazem o mesmo. O pior é que se encontra o mesmo noutras marcas bem mais caras do que a Zara, como é o caso da portuguesa Lanidor (que por acaso não há em Macau mas que devia fazer aí muito sucesso; um dia ainda vou aí abrir uma). Não tem a ver com a marca... tem a ver com a falta de discernimento das meninas e meninos que lá trabalham e ainda não perceberam que há sítios apropriados para colocar os alarmes sem danificar as roupas...
ResponderEliminarAnónimo das 0:10 : posso garantir que era só uma amiga, sim, e já agora viemos num grupo com outras pessoas, e só por acaso saímos juntos porque se fazia tarde e resolvemos ir embora, e tal como disse, cada um para o seu lado. Eu não tenho tiques de marialva e acredito na amizade entre um homem e uma mulher.
ResponderEliminarVitório: na Zara de Macau a permanência dos homens é permitida na secção das senhoras, e como já expliquei, não entrei sequer no vestiário ou no corredor onde os vestiários se encontravam. Tudo o que fiz foi esticar o braço para passar o vestido para a minha mulher.
Cumprimentos
Caro Leocardo,
ResponderEliminarCreio que não fui suficientemente esclarecedor, referi-me ao corredor dos provadores da secção das senhoras que não é permitida a permanência dos homens, nem para "esticar o braço"... logo não são "culturices orientais" conforme afirmou um dos anónimos.
Caro Espanhol,
Mea culpa. As minhas devidas desculpas por ter ignorado esse facto tão importante e por ter ferido susceptibilidades. Fiquei mais esclarecido com a sua atempada correcção e estou-lhe imensamente grato.
...com o precedente do Kosovo, "Espanha" não sei por mais quanto tempo...
Saudações,
Ferir susceptibilidades? Oh, Vitório, como dizem em Espanha "cree el ladrón que todos son de su condición".
ResponderEliminarObrigado por se preocupar mais pela soberanía do meu pais que eu proprio.
O Espanhol
olha que fixe! Temos malta espanhola por cá! E este blog que se torna verdadeiramente internacional, ein? não diziam que macau está nos olhos do mundo? Ora tomem!
ResponderEliminar... Esperem aí, o tipo não escreveu em português? Ora bolas, é um Ibérico...