quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Somos tão espertos...


Está escolhida a fotografia do ano: a sonsinha da Gillian Chung a pedir desculpa, sem saber bem do quê, com um sorriso amarelo e uma carinha de quem está quase a explodir em lágrimas. Era “jovem e ingénua” então, e hoje tem uma imagem que vale milhões, e o que mais preocupa aquela cabecinha nem é tanto o que as pessoas pensam dela, mas se alguém vai comprar os seus discos no futuro. Dignidade? Já é claro e está provado que tem pouca. Ou nenhuma.

A polémica das fotografias dos artistas de Hong Kong “em pelo” chegou à imprensa de Macau. Semanas depois de ter chegado à imprensa do território vizinho e aos computadores dos cibernautas do território. Leio hoje no JTM que uma tal Penny Chan, presidente da Sociedade de Investigação da Delinquência Juvenil considera que esta “novela” já teve impacto sobre a juventude de Macau. Segundo a psicóloga (é?), os jovens consomem as notícias sobre os seus artistas de eleição sem se preocuparem com a sua privacidade, e a difusão das imagens transmite uma ideia de “banalização do sexo e das relações pessoais”.

Os jovens em Macau têm mesmo muita sorte, que haja tanta gente preocupada com o seu bem estar. Primeiro foi a redução da idade da imputabilidade criminal para 14 anos, que os trata como uns “homenzinhos”. Uns “homenzinhos” salvo seja, pois quando se trata de “pornografia” o caso muda de figura. Ir para a prisão? Sim, podem. Ver fotografias dos seus ídolos em poses comprometedoras? Alto e pára o baile. Isto leva a uma dissertação sobre o que devia ser permitido ou não, de como a lei está desactualizada, de como não se adapta à realidade, e há que agir rapidamente, antes que seja tarde, nem que para isso se recorra à (eventual) censura. Enfim, mais uma prova de que nesta idade da tecnologia digital, os “ladrões” andam sempre um passo à frente dos “polícias”.

E enquanto o bom do Edison Chen, a sonsinha da Gillian e os outros exercitavam a luxúria como ceremonial de iniciação, ou moeda de troca, ou sabe-se lá que ideias mirabolantes e planos maquiavélicos passam pelas cabeças destes gajos do mundo do espectáculo, nunca pensaram que o feitiço se virasse contra o feiticeiro. E não me venham com aquela de “toda a gente faz” para me dizerem que eles têm direito à privacidade, coitados, enquanto andam “ó tio, ó tio” para ver se apanham os malvados que “traficam” as fotografias na internet. Hoje vendem fotografias dos artistas nús, amanhã quem sabe vendem urânio enriquecido aos iranianos. Nunca pensaram nisso? Ah, bom.

E os pobres dos jovens que compravam os discos e viam os filmes? Têm de ser protegidos a todo o custo deste festival carnal, até porque segundo a senhora, podem “banalizar o sexo e as relações pessoais”. O “sexo” e as “relações pessoais” são uma coisa muito séria, pá. É bom que nem se brinque com o assunto. Sabem a preparação física, psicológica e moral que é necessária antes que se tenha sexo ou que se inicie uma relação pessoal propriamente dita? Se calhar até é por isso que a educação sexual nas escolas nem existe. É demasiado sério para que seja discutido assim, levianamente, através da escola ou de fotografias de artistas viciosos e sem o mínimo de pudor.

E que seguros e felizes se devem sentir estes jovens sabendo que nos preocupamos assim tanto com eles. Eles também se devem preocupar connosco, no fundo. Preocupam-se com a escassez de lares de terceira idade no futuro, ou com a incidência de enfartes do miocárdio em homens da meia-idade. E que bem os devemos preparar incutindo-lhes estes valores, e já se sabe, se os proibirmos, eles não fazem. Somos tão espertos…

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