sábado, 6 de setembro de 2014

Tudo bons rapazes (às vezes...)



Esta semana para o artigo de quinta-feira do Hoje Macau pensei em "something completely different", citando os imortais Monthy Python. Espero que tenham gostado, os que já leram, e que gostem, os que ainda não leram mas querem ler - sobretudo espero que entendam. De resto, continuem a ter um bom fim-de-semana, e já agora gostava de recordar que vamos finalmente terminar esta "travessia do deserto" que foram três meses sem feriados. E que meses...

MONSTERS INC.

Aquele que luta contra os monstros, terá que ter cuidado para ele próprio não se tornar num monstro, e se olhares muito para o abismo, o abismo olha também para ti.
Friedrich Nietzsche

Tinha vinte e poucos anos, vestia uma camisa aos quadrados e calças de bombazina castanhas, e distribuía panfletos, de pé, ali na rua. Ar tímido, aspecto meio desleixado, mas limpo – para ele não contavam as aparências, mas os conteúdos. Olhar cheio de esperança, olhos rasgados, o jovem idealista remava contra a maré, no sítio errado à hora errada. Educado, estendia a mão aos transeuntes, fazendo-lhes uma vénia (mais demoradas para as senhoras), enquanto lhes estendia um dos folhetos. A maioria recusava, alguns, vendo-o ao longe, começavam a afastar-se, tentando não passar perto daquele a quem chamavam “activista”. Mas quando alguém aceitava um papel das suas mãos, e enquanto continuava o seu caminho abrandava o passo e começava a ler, ele sentia que tinha ganho o dia, e que uma pessoa podia fazer toda a diferença. Entre muita gente que ali passava, a maioria fingia não conhecê-lo, mas um ou outro sussurravam: “Sabes quem é aquele? É o tal, aquele…sim, a sério! Pensavas que ele era o quê? Um monstro?”.

I KNOW WHAT YOU DID THIS SUMMER

Se quiseres uma visão do futuro, imagina uma bota a pisar na cara de um ser humano – para sempre.
George Orwell, “1984”

– Posso falar contigo?
– O senhor é da polícia…
– Como sabes?
– Vem-me a seguir todo o dia.
– Então dispensam-se apresentações. Podemos ir lá para fora?
– Para quê?
– Só para conversar.
– Tudo bem, vamos lá.
– OK olha e se entrássemos ali no carro, e fossemos antes conversar na esquadra?
– Porquê? Estou detido?
– Não, já te disse que é só para conversar…
– E não podemos conversar aqui?
– Não…olha, sim, estás detido. E sabes bem porquê. Anda lá e não me tornes a vida ainda mais difícil.

THE LONELINESS OF THE LONG DISTANCE RUNNER

O primeiro método para medir a inteligência de um líder, é olhando para os homens que estão à sua volta.
Niccolò Macchiavelli, “O Príncipe”

Sentado sozinho no seu trono, no Palácio de Gelo no cimo da montanha fria, o rei suspirava, e pensava como seria se não fosse ele o rei. Todos os dias e sempre à mesma hora, chamava o seu lacaio, fazia-lhe as mesmas perguntas, e obtinha as mesmas respostas, quase que mecanicamente, como se nada tivesse mudado – e nada muda, de facto, se olhamos para o mesmo espelho, o mesmo lago, a mesma árvore dia após dia, sem lhe dar o tempo que necessita para se transformar, para ser diferente aos nossos olhos. O rei perguntava ao lacaio: “Porque tenho que ser eu o rei”, e a resposta era sempre a mesma, “porque sim, não tendes outra escolha, majestade”. “Serei feliz um dia?”, insistia o rei; “Será conforme a vossa vontade, majestade”, repetia o seu súbdito, como que recitando. Tão triste, estava aquele rei, no seu trono, no topo da escadaria daquele Palácio de Gelo no cimo daquela montanha fria…

PECADO CAPITAL

A humanidade só será feliz quando o último padre for enforcado com as tripas do último rei.
Jean Meslier

Arcebispo Oscar Romero, Cardeal Jaime Sin, Bispo Desmond Tutu, Bispo Ximenes Belo, o que tinham estes homens em comum? Foram figuras religiosas que auxiliaram o seu povo durante regimes sanguinários, totalitaristas, opressores, conseguindo de forma isenta fazer de mediadores entre os governos que esmagavam o povo que escutava a missa, a quem davam a comunhão e expiavam os pecados. E o que acontece quando a Igreja abandona a sua função de santuário, tornando-se demasiado próxima do poder, e sua cúmplice? A quem vão fiéis fazer a confissão?

DURA LEX SED LEX

“Em Hong Kong também se vê uma forte componente britânica na profissão. Até porque, como em Macau, o Direito é de matriz não chinesa. E noto que o cliente chinês ainda prefere o advogado português por causa da nossa sensibilidade técnica, em especial, para as questões cíveis”
Porfírio Gomes, advogado, entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, 8 de Março de 2013.

“Não são meia dúzia de pessoas que vão alterar as coisas. Podem fazer o barulho que quiserem, que não vão mudar nada. É um grupo de pessoas que acham que são os únicos detentores da verdade”
“Vejo duas ou três associações que se multiplicam. São sempre as mesmas pessoas e isso já cansa. Estou farto de ouvir barulho que não se justifica, porque essas pessoas não representam nada. Se os membros da Comissão Eleitoral não representam muito, apesar de tudo já representaram alguma coisa na sociedade de Macau. E essas pessoas que fazem barulho não representam nada. Têm as suas opiniões e que têm direito de as ter, mas não representam mais do que isso”
“O objectivo dos manifestantes foi conseguido, que era fazer barulho. Conseguiram mediatizar isto”
“Quanto a essa história da detenção, já estava tudo previsto, e é evidente que iriam haver situações de provocação para serem detidos”
“Penso que isso é mais propaganda do que outra coisa. Para fazer investigação a quem votou? Se for, acho um absurdo. Mas penso que a polícia não terá interesse nisso e é uma forma de criar mais mediatização”.


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