quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ásia das Menções


Fiquei a saber pelo Jornal Tribuna de Macau (curiosamente só o JTM deu esta notícia) que se realizou ontem na Escola Portuguesa de Macau a cerimónia de atribuição de prémios e menções respeitantes ao ano lectivo 2008/09. Não fazia a mínima ideia, tal foi o secretismo das últimas semanas. Nada como os óscares.

Em primeiro lugar queria dar os parabéns aos alunos que conseguiram este ano chegar ao 12º sem chumbar. No longíquo ano lectivo de 1998/99, no século passado, data da inauguração da EPM, foram eles os alunos do 1º ano da escola primária. Fizeram todo o percurso imaculados, e chegam agora ao fim. Fizeram história!

Agora um pouco mais a sério, pergunto se é mesmo necessário fazer as criancinhas competirem umas contra as outras. Já sei que a ideia é premiar os melhores e não escolachar - passo o brasileirismo - os menos bons, mas no fim é isso mesmo que acontece. Mesmo que involuntariamente.

Não sei se foi por ter passado a minha vida a estudar no ensino público, onde não existiam prémios destes para os melhores alunos (tirando as bolsas de estudo, mas isso era outra coisa), e ninguém era mais popular por tirar boas notas e ganhar menções, mas isto de quadros de honra e afins cheira a coisa dos tempos da outra senhora.

Pois, há uma oportunidade dos pais tirarem umas fotografias e fazer uns filmes dos seus filhos premiados, para depois mandar para a avó e os tios lá na terra para depois mostrarem aos vizinhos, e há ainda a sensação de satisfação de ter em casa criaturas perfeitas. Parabéns, sois excelentes até na génese. Ou ainda a oportunidade daquelas figuras que estão por trás da Fundação EPM aparecerem, o que lhes fica sempre bem.

Mas o que estamos a passar a estes miúdos é o conceito que para ser premiado e vencer nesta vida, basta trabalhar muito ou ser o melhor, e já sabemos muito bem que, e realisticamente, só isso não chega. É ou não é? Mais uma vez, parabéns aos miúdos. E já agora aos pais.

12 comentários:

Anónimo disse...

Então, caro Leocardo, qual é a alternativa?

Leocardo disse...

Qual alternativa? Tem que existir uma?

Anónimo disse...

O mérito deve ser premiado, sim, e nada melhor do que ser a escola a dar esse exemplo. Se isso não fizesse sentido, também o Prémio Nobel não fazia sentido, e nem sequer os campeonatos de futebol de que tanta gente tanto gosta. Aí já não se preocupam com os coitados que descem de divisão?

Anónimo disse...

As menções podem ser atribuídas sem esse show antes de mais. Isso sem falar dos meninos que são Excelentes desde que entram no primeiro ano até que saiem no 12ºano. Os bons são bons sempre e os maus são maus até ao fim. Rotulados pelos senhores professores.
Nas escolas públicas tambem se atribuiam Menções de Excelência mas nada desta fantuchada. Portanto a EPM será sempre uma escola dos meninos dos senhores doutores. Razão pela qual os meus não andam nela.

Anónimo disse...

Pois os meus sempre andarão nela. Queriam que fossem "rotulados" por quem, pelos senhores paizinhos? É óbvio que são os professores que decidem porque eles é que dão as notas. Quando eu era estudante (numa escola pública) também tive uma menção honrosa e não era filho de nenhum senhor doutor. Essa é a desculpa de quem é medíocre e tem filhos medíocres. A culpa da mediocridade é sempre dos outros.

Anónimo disse...

Isso mesmo anónimo das 23.41, eu também recebi várias menções honrosas na escola pública onde estudei.
Quanto ao resto sabe muito bem do que falo, porque isso de estarem a discutir notas dos testes dos filhos no café nomeadamente percentagens, entre outras coisas ou até dizer mal dos tais professoras que rotulam o seu filho/a esteve em cima do palco, tem muito que se diga!

Anónimo disse...

No entanto, quer-me parecer que o incentivo à mediocridade já está a chegar à EPM.
Note-se na discrição do evento e nos comentários de quem acha que os maus alunos devem ser protegidos do choque de verem os bons alunos serem premiados.
A inveja doi mesmo muito.

Marenostrum disse...

Leocardo, estou completamente em desacordo consigo.

Acho muitisso bem que se promova a competição (saudável, entenda-se) entre as crianças, e a começar desde cedo! O que falta em Portugal é exactamente esse espírito de luta, as pessoas são extremamente aversas a tudo o que implique concorrência, e acabamos numa sociedade mediocre e nivelada por baixo onde os bons acabam por emigrar para o estrangeiro e os que ficam são olhados com desconfiança e rotulados como filhos de paizinhos "bem", ou marrões ou sei lá o quê...

Querem fazer rankings das melhores escolas do país?? É injusto para as escolas!
Availar os professores?? É mau para o ambiente entre eles.
Querem premiar os melhores alunos?? É traumatizante para os piores.

Isto é mas é uma grande treta!!

Os países mais ricos do mundo atingem os níveis de desenvolvimento que têm, entre outras coias, porque promovem a competição e preparam bem os jovens para a luta que é a vida. Os americanos incutem isso desde cedo, a começar pelo desporto nas escolas, que é levado muitissimo a sério. Não digo que em alguns casos não hajam abusos, mas em geral este espírito acaba por criar uma sociedade muito mais forte, empreendedora e competitiva.

Nós preferimos o nosso empregozinho, a nossa vidinha confortável, a rotina do dia a dia. E esquecemo-nos que o Mundo muda à nossa volta. E quando alguém quer saír desse ciclo, quer voar mais alto, quer desafios, quer competir, vem logo gente como o Leocardo com preciosidades do estilo "o que estamos a passar a estes miúdos é o conceito que para ser premiado e vencer nesta vida, basta trabalhar muito ou ser o melhor, e já sabemos muito bem que, e realisticamente, só isso não chega."

Pois bem, fiquemos então como estamos, trabalhar ou ser melhor não serve para muito pois a vida é injusta de qualquer maneira. Se calhar é melhor educá-los na arte de bem engraxar, pois é muito mais prático.


E Portugal assim terá sempre o lugar reservado na cauda da Europa. Mas como também não gostamos de competições ou rankings, não nos faz diferença nenhuma.

Anónimo disse...

"Pois bem, fiquemos então como estamos, trabalhar ou ser melhor não serve para muito pois a vida é injusta de qualquer maneira. Se calhar é melhor educá-los na arte de bem engraxar, pois é muito mais prático." (sic)

Por enquanto ainda têm os paizinhos para engraxar por eles. Depois é que são elas.

Leocardo disse...

Respeito todas as opiniões. São válidas.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Quando andei no Liceu, nunca ganhei premios nem estive em quadros de honra. Mas sempre achei natural que houvesse alunos a ganhar, ou a figurar em quadros de honra.E pela razao simples de que ou eram mais inteligentes ou mais trabalhadores do que eu.
Nao fiquei com traumas nem com menos "motivacao" para estudar por causa disso.
Nunca senti que tivesse sido rotulado pelos meus professores.
O rotulo eramos nos que o faziamos atraves do nosso empenho ou falta dele.
Nesse tempo as explicacoes para as coisas eram mais simples, nao havia "pedabobos" para complicar.

Anónimo disse...

Anónimo das 12.34: encontrou o termo de que já ando à procura há tanto tempo - "pedabobos". Excelente.