quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Coutinho mais Valente


A TDM transmitiu esta noite o debate entre os únicos dois candidatos às eleições que falam português que se dispuseram a participar. De um lado o deputado José Pereira Coutinho, da Nova Esperança, do outro o candidato nº 3 da lista 18, Jorge Valente, filho do advogado e também ele ex-deputado Jorge Neto Valente. O debate foi moderado, como é costume, pelo jornalista Gilberto Lopes.

Comecemos pelo fim do debate, bem ilustrativo de como decorreu no seu geral. Jorge Valente insistiu no facto de Pereira Coutinho "não saber negociar" com os seus parceiros na AL, e de "não ter visto nenhum dos projectos que apresentou ser aprovado". Coutinho retaliou de imediato: "Se eu for votar na sua lista, não estou a votar em si, mas na senhora Melinda Chan (candidata nº 1 da lista 18 e actual deputada), e quantos projectos apresentou ela?". Seguiu-se um silêncio desconfortável de dois ou três segundos, com Valente a responder "ajudou na elaboração de alguns" - claro, como membro das comissões, que é no fundo o trabalho de qualquer deputado. Foi uma espécie de xeque-mate neste debate, onde Pereira Coutinho evidenciou o peso da sua experiência na arena política, perante um estreante nestas andanças.

Outro erro de palmatória da parte de Jorge Valente foi referir as diferenças entre o programa político de Pereira Coutinho nas diferentes línguas oficiais, alegando que o deputado "não tem um programa, mas dois", um para a comunidade portuguesa e macaense, e outro para a comunidade chinesa. Coutinho respondeu prontamente, defendendo que "as comunidades têm diferentes necessidades". E é mentira? Aqui o presidente da ATFPM ganha pontos a seu favor, pois é o único que fala directamente à comunidade portuguesa, e ainda ganha votos dos eleitores chineses. Jorge Valente passou grande parte do debate a montar armadilhas onde ele próprio acabou por cair.

Não quero dizer com isto que Pereira Coutinho "ganhou" o debate. Não havia aqui nada a "ganhar", como ficou aliás demonstrado em debates anteriores, nomeadamente há oito anos quando o mesmo Pereira Coutinho esgrimiu argumentos com Casemiro Pinto em votos dos eleitores macaenses e portugueses "indecisos". Ora já ficámos a saber que isto vale pouco mais de 500 votos, na melhor das hipóteses. Coutinho sabe quanto isso vale, e questionou a possibilidade de ele próprio vir a ser eleito. Ora aqui trata-se de um exagero do sr. deputado, que tem uma base mais que suficiente para ser eleito. A dúvida reside em saber se desta vez será acompanhado pelo seu nº 2, Leong Veng Chai, e a propósito desse aspecto Coutinho falou do excessivo número de listas a sufrágio no próximo Domingo, e de como isso pode significar uma "dispersão dos votos". Concordo com ele, e atendendo ao facto de que Leong Veng Chai foi eleito por 16 votos em 2013, prevejo que desta vez não consiga entrar. Posso estar enganado.

De resto falou-se da influência dos deputados do sector do jogo na AL, uma farpa que Coutinho atirou ao seu oponente, que representa uma lista indirectamente ligada a esse sector, e vieram à baila outros detalhes de somenos importância. Fiquei a saber que os dois se conhecem muito bem e têm uma relação de amizade, e isto deve-se sobretudo ao passado de Jorge Valente como membro da ATFPM - surprise, surprise. Isto não significa que o jovem tenha alguma dívida com a associação ou com Pereira Coutinho, mas apenas que essa adesão terá feito parte da sua formação política, que, e repito, comparada com o seu adversário desta noite, fica muito, mas mesmo muito longe. A experiência falou mais alto desta vez. Domingo logo se vê, mas não acredito que o resultado deste debate vá significar alguma coisa em matéria de intenções de votos; estas estão mais que definidas. Coutinho fará parte do próximo hemiciclo, bem como Melinda Chan, e Neto Valente fica a ganhar em experiência.


1 comentário:

  1. Por favor de corrigir, represento a Lista 18 e não Lista 16 como está no texto.
    Jorge

    ResponderEliminar