Comecemos pelo fim do debate, bem ilustrativo de como decorreu no seu geral. Jorge Valente insistiu no facto de Pereira Coutinho "não saber negociar" com os seus parceiros na AL, e de "não ter visto nenhum dos projectos que apresentou ser aprovado". Coutinho retaliou de imediato: "Se eu for votar na sua lista, não estou a votar em si, mas na senhora Melinda Chan (candidata nº 1 da lista 18 e actual deputada), e quantos projectos apresentou ela?". Seguiu-se um silêncio desconfortável de dois ou três segundos, com Valente a responder "ajudou na elaboração de alguns" - claro, como membro das comissões, que é no fundo o trabalho de qualquer deputado. Foi uma espécie de xeque-mate neste debate, onde Pereira Coutinho evidenciou o peso da sua experiência na arena política, perante um estreante nestas andanças.
Outro erro de palmatória da parte de Jorge Valente foi referir as diferenças entre o programa político de Pereira Coutinho nas diferentes línguas oficiais, alegando que o deputado "não tem um programa, mas dois", um para a comunidade portuguesa e macaense, e outro para a comunidade chinesa. Coutinho respondeu prontamente, defendendo que "as comunidades têm diferentes necessidades". E é mentira? Aqui o presidente da ATFPM ganha pontos a seu favor, pois é o único que fala directamente à comunidade portuguesa, e ainda ganha votos dos eleitores chineses. Jorge Valente passou grande parte do debate a montar armadilhas onde ele próprio acabou por cair.
Não quero dizer com isto que Pereira Coutinho "ganhou" o debate. Não havia aqui nada a "ganhar", como ficou aliás demonstrado em debates anteriores, nomeadamente há oito anos quando o mesmo Pereira Coutinho esgrimiu argumentos com Casemiro Pinto em votos dos eleitores macaenses e portugueses "indecisos". Ora já ficámos a saber que isto vale pouco mais de 500 votos, na melhor das hipóteses. Coutinho sabe quanto isso vale, e questionou a possibilidade de ele próprio vir a ser eleito. Ora aqui trata-se de um exagero do sr. deputado, que tem uma base mais que suficiente para ser eleito. A dúvida reside em saber se desta vez será acompanhado pelo seu nº 2, Leong Veng Chai, e a propósito desse aspecto Coutinho falou do excessivo número de listas a sufrágio no próximo Domingo, e de como isso pode significar uma "dispersão dos votos". Concordo com ele, e atendendo ao facto de que Leong Veng Chai foi eleito por 16 votos em 2013, prevejo que desta vez não consiga entrar. Posso estar enganado.
De resto falou-se da influência dos deputados do sector do jogo na AL, uma farpa que Coutinho atirou ao seu oponente, que representa uma lista indirectamente ligada a esse sector, e vieram à baila outros detalhes de somenos importância. Fiquei a saber que os dois se conhecem muito bem e têm uma relação de amizade, e isto deve-se sobretudo ao passado de Jorge Valente como membro da ATFPM - surprise, surprise. Isto não significa que o jovem tenha alguma dívida com a associação ou com Pereira Coutinho, mas apenas que essa adesão terá feito parte da sua formação política, que, e repito, comparada com o seu adversário desta noite, fica muito, mas mesmo muito longe. A experiência falou mais alto desta vez. Domingo logo se vê, mas não acredito que o resultado deste debate vá significar alguma coisa em matéria de intenções de votos; estas estão mais que definidas. Coutinho fará parte do próximo hemiciclo, bem como Melinda Chan, e Neto Valente fica a ganhar em experiência.
Por favor de corrigir, represento a Lista 18 e não Lista 16 como está no texto.
ResponderEliminarJorge