sexta-feira, 7 de julho de 2017

Se a inveja matasse...


"Penso que já posso, como português, ter opinião sobre o comportamento do jovem talento, porque me parece que o traque do concerto solidário vem numa sequência “lógica”: não foi gás do momento. Parece-me que Salvador vive um dilema desde a primeira hora. Tentar agradar a todos é uma tarefa complicada. Sinto-o desconfortável e o traque só mo confirmou. Salvador cultiva a figura da alma livre, o músico pela música, que se junta a compinchas e mesmo que perante uma mera dúzia no público tocam como se fosse o último dia, porque é tudo amor à arte, mais o blá-blá do costume, o dos artistas muito puros que não se vergam ao vil comércio. Ainda assim, concorreu à Eurovisão. Como, de resto, tinha concorrido a tudo o que era concurso de talentos, que existem, que eu saiba, para quem procura o seu espacinho no apertado espectro da fama.
Quando não está a cantar estrofes, Salvador tem um problema com o que diz. Tudo espremido, deu sempre a ideia (já devia estar a pensar no traque) de que se está a cag**. Esquece-se disto: se abraçou o circo e as mordomias, fica-lhe mal cuspir na sopa. Passou logo a queixar-se, muito irreverente, muito estrela rock, das multidões que o aclamam"

Rodrigo Guedes de Carvalho, in TV Mais, 5/Julho/2017


A música é muito importante para si. Que paixão é essa?

Foi a minha primeira paixão. Quis aprender guitarra por volta dos 9 anos. Em casa, nessa altura, estava-se a viver o grande boom da música dos anos 70. E eu fazia playbacks. É preciso ver que os meus pais tiveram-me muito cedo e que fui filho único durante bastante tempo. De certa forma, fui o irmão mais novo do meu pai. A minha infância foi por isso passada entre adultos, os meus tios incluídos. Havia muita música, muitos discos. Tudo isso mexia comigo, e apaixonei-me.

Chegou a ter aulas?

Sim. Pedi à minha mãe, e ela procurou alguém que me ensinasse. Era uma antiga professora do Conservatório, velhinha. Eu ia às aulas sozinho, e aquilo correu mal. A senhora era muito exigente, eu aprendia guitarra clássica pura e dura, quando queria era tocar rock. Chegou um momento em que não aguentei mais, porque ela batia-me com uma vareta nos dedos quando eu falhava uma nota. E, um dia, antes de entrar em casa, parti a minha guitarra. Jurei que nunca mais tocaria.

Idem, in Expresso, 6/Maio/2017


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