terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Triste fado
Não conheço João Braga, nunca troquei impressões com o senhor, mas a sua imagem pública dá-me a entender que é uma pessoa de bem - política à parte. Há cerca de 20 anos, o fadista foi convidado do programa "Parabéns", apresentado por Herman José, e na altura causou alguma polémica ao defender que "no tempo de Salazar vivia-se melhor". Tenho a certeza que sim, que a vida corria às mil maravilhas a João Braga e aos seus, por dez escudos "fazia-se a festa" e quem tinha a quarta classe "sabia os rios de Portugal e as linhas de caminho de ferro de Moçambique". Naquele tempo a mortalidade infantil era dez vezes maior, morria-se de tifo e de tuberculose, e em África oito mil jovens serviram de carne para canhão da guerra mais desnecessária e vergonhosa da nossa História. Nada que parecesse incomodar João Braga, para quem a vida ia correndo entre fadunchos e garraiadas. Não aprovei o que ele disse na altura (nem o próprio Herman, que ainda o tentou chamar à razão perante uma plateia incrédula com o que saía da boca do cantor). Ficou-me aquela impressão negativa da pessoa, mesmo tratando-se de uma opinião meramente pessoal da sua parte, e posso dizer então que "fechei um olho" àquele chorrilho de disparates.
Ontem o fadista voltou a fazer das suas, e desta vez excedeu-se. Nada que me diga directamente respeito, pois nunca fui um apreciador por aí além do seu trabalho, mas lamento ter perdido todo o respeito que tinha por ele como pessoa. O que ali está em cima é provavelmente a declaração mais infeliz que João Braga alguma vez produziu, e aquela que passará a referência quanto ao que ele é, e àquilo que pensa. Entre as centenas de comentários depreciativos ao devaneio do artista, encontram-se alguns que o apoiam, e sempre com o pretexto do "desprezo pelo politicamente correcto", uma ladainha que nunca convenceu. Também aqui estão enganados, meus amigos; a afirmação de João Braga nem sequer corresponde à verdade, e não vejo nada de positivo na intenção do seu autor em torná-la pública. Mas se por um lado João Braga demonstrou algum "fair-play"...
Bom, ou nem por isso. Pelo menos absteve-se de eliminar comentários ou bloquear quem comentou, mas a seguir borra completamente a pintura, que já por si não era nada que valesse a pena contemplar:
Pois é meu caro, eu até nem gosto dessa estratégia reles que passa por "adivinhar" a filiação política de alguém apenas porque discorda do nosso ponto de vista, mas não são os cavalheiros que se dizem "ofendidos" quando alguém os chama de "xenófobos" ou de "fascistas'? Fique então a saber que eu sou de direita, e este seu comentário imbecil só não me ofende porque isso seria dar-lhe mais importância do aquela que merece: nenhuma. Não sei porquê, mas este episódio transportou-me de volta ao tal incidente no programa "Parabéns", há mais de vinte anos. Sem dúvida que para João Braga a vida corria-lhe de feição, e não era só porque um papo-seco custava dois tostões. Os pretos estavam em África, "gays" era coisa de que nem se falava, e os "estalinistas" a que se refere estavam em Caxias e no Tarrafal, não é mesmo? Será que o João Braga vai passar a incluir nos seus concertos uma rendição do clássico "Ó tempo volta pra trás"?
Quando dizemos a um facho que somos de direita é necessário ter em conta o seguinte: https://www.facebook.com/umacouve/photos/a.1126614320683437.1073741828.1125603684117834/1239910562687145/?type=3&theater
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