segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Dez anos é obra(s)


Assinalaram-se na semana passada dez anos desde a detenção do então secretário-adjunto das Obras Públicas, Ao Man Long, e numa mesma altura que teve início o julgamento de uma outra grande figura do topo da hierarquia local, o ex-procurador Ho Chio Meng. Como estive fora de Macau, perdi o "programa das festas", e tudo o que ouvi ser discutido foi na rubrica de debate "Contraponto", da TDM, que esta semana abordou além destes dois temas a intervenção do actual secretário da tutela durante a apresentação das LAG para 2017.

Gostei de ouvir toda a gente, todos com argumentos bem suportados, bestial. Contudo há uma tecla em que se nota existir alguma insistência: a da questão da impossibilidade de recurso para uma instância superior de uma decisão desfavorável para uma alta individualidade da RAEM - secretários e outros elementos do Executivo são imediatamente julgados no Tribunal Superior, ou seja, a mais elevada instância. Claro que isto é terrível, e de lamentar, bem como é suspeito que processos complexos e morosos sejam julgados e sentenciados num ápice sem que tenham existido erros processuais. Tudo bem. Mas analisando friamente, é uma daquelas coisas que tomou um caminho completamente análogo do ponto de onde partiu: da matriz portuguesa. É um bocado como a lei da droga; vejam como eram "parecidas" em 1999 a local e a portuguesa, e olhem agora para a diferença.

Antes de continuar,  gostaria de recordar que isto é apenas uma opinião, mas quem quiser usar como hipótese, esteja à vontade. Para procurar fazer uma interpretação disto sem tornar a coisa num bicho de sete cabeças, basta atender ao aspecto cultural - aqueles são cargos de uma responsabilidade e cujo estatuto é demasiado grande para tolerar o mais pequeno deslize. Se fez ou não, pouco importa uma vez que foram levantadas meras suspeições, o que já de si é muito grave. Sabe bem citar o exemplo português em algumas situações, eu sei, mas isto aqui é outra coisa, pronto. Por exemplo, aqui os juízes não se tornam celebridades, que falam sobre tudo a torto e direito na televisão e nos jornais, formam partidos políticos, etc, etc. São mais discretos, em suma. Só um pequeno exemplo de como aqui é diferente.

Quanto secretário Raimundo do Rosário, concordo com a análise feita por Fernando Gomes, do painel do "Contraponto". De facto a escolha foi feliz, pois o actual secretário das OP conseguiu restituir uma imagem de maior transparência à pasta que dirige mas chegou a hora de demonstrar que é também um bom administrador. Ao contrário do que diz a sabedoria popular, aqui se calhar fazia bem um bocadinho menos de trabalho e mais conversa. Já se viu que Raimundo do Rosário não é um vendedor de promessas, mas convinha-lhe saber um pouco mais daquilo que vem humildemente dizer que não sabe. Então afinal quem sabe? Um autêntico bico de obras...públicas.


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