sábado, 31 de dezembro de 2016

2016: aos caídos em combate


Saiba ou recorde aqui quem foram as celebridades que nos deixaram no ano de 2016, numa montagem da jornalista Ana Lemos.



Na blogosfera: Apanhadinha da bola


E nem de propósito: estava aqui há dois ou três dias para dedicar um "post" a este novo blogue de Macau, e eis que a sua autora decide colocar um ontem mesmo um artigo que ilustra bem do que se trata. O blogue Apanhadinha da Bola, da autoria da jornalista Sandra Lobo Pimentel, é a mais recente novidade na blogosfera de Macau, e sobre...tcha tcha...FUTEBOL! Uma coisa que toda a gente de bem gosta, e quem prefere outra coisa qualquer que não seja "cricket" ou "baseball", também tem um lugarzinho guardado no Céu, deixem lá.

A Sandra, que reside em Macau há 4 anos, é como o seu nome indica, uma mulher (duh...), e agora que deixou a tal entrada com a data de ontem, estragou-me a piada - juro que era para chamá-la de "Cecília Carmo de Macau". Paciência. O "post", o décimo desde que arrancou com este projecto a 16 de Dezembro último, na sequência da cobertura que fez ao mundial de clubes da FIFA no Japão, aborda exactamente "as mulheres nesse mundo predominantemente masculino" que é o futebol, e neste particular na vertente da análise desportiva. Interessante.

Já havia deixado claro neste artigo aquilo que penso do futebol feminino - "não existe" - mas para se gostar de futebol o género é irrelevante. O que se passa, sobretudo nos países onde o futebol é de longe o desporto mais popular, é que existe um certo sentimento "patriarcal" no que diz respeito ao desporto de alta competição, onde a componente física tem um papel primordial. No entanto conheço muitos homens que não gostam de futebol, ou não ligam (o meu irmão, por exemplo), e a diferença é que estes normalmente se abstêm de falar do que não sabem, ao contrário do que acontece com as mulheres. E pronto, fica aqui o último comentário chauvinista de 2016.

À Sandra desejo a melhor das sortes com este seu novo projecto paralelo à sua profissão, que seguirei com interesse, pois adoro futebol. Quanto à questão do género, pelo menos da minha parte não tem importância alguma, pois deu para perceber que ela aqui fala do que sabe e daquilo que gosta. Se uma vez ou outra cometer uma imprecisão, mais ou menos grave, bem, isso são ossos do ofício. Errar é humano, ou numa versão adaptada por mim dessa velha máxima, "O disparate é como um anjinho: não tem sexo".


...e o que respondeu Deus?


Nunca simpatizei com Charlie Sheen, actor que pertence a uma geração de onde o maior exemplo de sucesso é Demi Moore, e nem passei a gostar mais dele depois daquilo que vou mostrar a seguir. Sheen não me convence por razões puramente artísticas: é um actor mormente de comédia, mas não tem lá muita piada. A película de 1990 "Hot Shots" (em português "Ases pelos ares", oh oh oh) é possivelmente uma hora e meia perdida da minha vida que lamentarei no meu leito de morte, mas pasme-se, fui ver ao cinema porque um amigo meu me garantiu ser "hilariante". O problema deve ser meu, realmente, que devo ser demasiado obtuso para entender a comédia em Charlie Sheen - em 2010 era este o actor mais bem pago da televisão norte-americana, devido ao sucesso de uma "sitcom" que dava pelo nome de "Two and a half men", que lhe valeram várias nomeações para os Emmy e Golden Globes. Só que isto de ser talentoso e rico "não chega" para Sheen, que viu a carreira desmoronar-se graças ao abuso de álcool e drogas, com acusações de violência doméstica pelo meio, que lhe valeram a rescisão do contrato com a CBS. Tido como um exemplo do que "não fazer" quando se fala em sexo seguro, o actor anunciou em 2015 que era seropositivo, e que sabia ser portador de HIV desde 2011. Aparentemente tudo isto faz com que Charlie Sheen não tenha o direito a abrir a boca, ou emitir qualquer opinião, mesmo que "só a brincar". Como neste caso, que deu que falar:


"Trump next" - "Trump o próximo", ou "Trump a seguir". Posto assim nestes termos, nada de grave, mas o contexto em que é feita esta chamada ao presidente eleito dos Estados Unidos é a morte do artista, e usando agora o termo "morte" no sentido literal, Sheen referia-se à mais recente razia no mundo artístico, que na mesma semana registou o desaparecimento do cantor George Michael, da actriz Carrie Fisher, e da mãe desta, a também actriz Debbie Reynolds, que faleceu no dia seguinte à filha. Dramático. Naquilo que muitos podem entender apenas como um simples desabafo, Sheen sugere que a próxima celebridade a quinar bem podia ser Trump, e atendendo ao estilo de vida que o actor leva e a que fiz referência no primeiro parágrafo, duvido que seja uma pessoa religiosa, e não estaria a apelar a Deus que "limpasse o sebo" ao próximo ocupante da Casa Branca. De mau gosto? Bem, levando a coisa um bocadinho a sério, até concordo, mas...


...não me peçam para atingir este nível de indignação. Estes são alguns dos comentários mais "leves" de entre os muitos milhares deixados nas redes sociais entre quinta feira e hoje, reprovando o "tweet" de Charlie Sheen. Talvez estes sejam mais contidos por se tratarem de seguidores do actor, e se repararem na sua entrada inicial, foram registados mais de 100 mil "likes", possivelmente de pessoas que deram às palavras de Sheen o valor que têm: entre "relativo" e "nenhum", e não de pessoas que querem ver Deus a matar Trump. Quanto ao "resto", bem, desconfio que nesta operação de divisão, estamos perante uma dízima infinita:


Ah, o Breitbart, aquele "site" que se diz "independente", e solto das "amarras do politicamente correcto" impostas pelas "elites globalistas", ao serviço das "grandes corporações" - das outras, que não aquelas que comercializam as porcarias que se vêem na página inicial do "site" do Breitbart, publicitadas de forma tão evidente que eu quase chamaria de "pornográfica". E o que diz este repositório de "verdades alternativas", esse novo eufemismo para designar a comum mentira? Ah? Que Sheen "calls on God to kill Donald Trump"? Estas duas palavras da língua inglesa, "calls on", pode ter diversos sentidos, desde "convocar", "chamar", ou "apelar". Dando aqui o benefício da dúvida ao Breitbart  (não devia, mas pronto, estamos na quadra natalícia), suponho que quisessem dizer "apelar". Não posso é deixar de detectar naquele cabeçalho uma leve nota de "certeza absoluta", como se Deus fosse uma figura deste presépio do disparate. Mas enquanto o Breitbart e quejandos dão o mote, a América profunda(mente retardada) prossegue com a sinfonia dos enganos, em urro maior:


Barbara Messer, que destila indignação de cada um dos cabelos grisalhos e encaracolados que lhe cobrem o focinho (é o que me dá a ver a fotografia, queriam o quê?), acha que Charlie Sheen "devia ser preso". Viva a liberdade de expressão! Viva a América! Sabem onde é que sugerir que um alto dignitário de uma nação "devia morrer" dá direito a prisão? No Irão - ou nem isso! Curioso como ninguém foi preso, interrogado ou inquirido quando Hillary Clinton foi acometida de uma pneumonia no período antes do início da campanha, e muitos "Trumpistas" a davam como morta, ou tinham sonhos molhados com a perspectiva da candidata democrata ficar cadáver. E já para não falar do verdadeiro festival de lavagem de roupa tão imunda que nenhuma marca de detergente ousou patrocinar, que envolveu detalhes da vida íntima de Hillary Clinton e da sua família. Isto por falar em "big mouths" que desempenham a mesma função do recto. Mas isto "melhora", querem ver?


Jan McNall acha que o "tweet" de Sheen devia ser "crime de ódio" - "hate crime". Uhh...crime, uma palavrão tão feio que nem se deram ao trabalho de arranjar palavras distintas nos idiomas inglês e português. A figura do crime de ódio, segundo o nosso Código Penal, tem como finalidade punir quem ataque "pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, religião, sexo, orientação sexual ou identidade de género". Ora bem, quer o malucão do Sheen, quer o não menos mentalmente salubre do Trump são brancos, norte-americanos, do género masculino, tarados sexuais e têm como religião o dólar, e não sendo o presidente eleito um "grupo de pessoas", não, não encaixa. Paciência. Gostava de saber onde é que parava a indignação da sra. McNall no momento em que Trump incluiu no rol das suas promessas eleitorais o "escrutínio rigoroso à entrada no país" de um determinado grupo religioso, ou durante as suas muitas tiradas de misógino militante e assumido. Quem sabe se ela também considera que "by the pussy" é como as donzelas devem ser "grabbed"? Sim, porque o Donald "apalpa-as para ver se estão maduras" Trump pode ser muita coisa, mas pelo menos não é...


...SIDOSO! BANDIDO! SODOMITA! Desculpem, mas deve ser contagioso. Não entendo bem se a Christie Cottrell quer dizer que o Charlie Sheen "não tem moral para falar" porque é seropositivo, ou se o facto de ter sido infectado com HIV torna a sua sugestão quanto à morte de Trump um paradoxo. Enquanto George Michael, Carrie Fisher e Debbie Reynolds foram desta para melhor e não eram portadores de HIV, o bom do Sheen anda aí para as curvas. Pois é, a SIDA já não é uma "sentença de morte" como foi até há 20 anos - sabia disto, minha senhora? Claro que não, nem disto nem de muitas outras coisas, aparentemente. A juntar à costumeira tentativa de homicídio de carácter muito comum nesta gentinha, há ainda o "rigor informativo" que os caracteriza, bem patente naquela deturpação do comentário do actor que podemos ver em baixo na imagem. Charlie Sheen NUNCA escreveu "Please God, kill Donald Trump", mas apenas "Dear God: Trump next, please!". Ai é "a mesma coisa"? Considerando que o autor da gracinha é Herman Cain, presidente do Federal Reserve Bank de Kansas City, republicano, candidato à nomeação do seu partido nas primárias para as presidenciais em 2012, e elemento do "Tea Party" (um tipo "do povo", e nada corporativista, portanto), não é bem "a mesma coisa". Se calhar o sr. precisa de óculos. Ou de alfabetização urgente.


Na mesma bitola temos um tal site que dá pelo nome de "Smokeroom", uma outra daquelas "fontes alternativas" de informação, e que conclui das palavras de Sheen que o actor "quer Donald Trump morto". Ó ié, má da foca! O Sheen não tem que querer ou não, pois mais cedo ou mais tarde a natureza encarrega-se de fazer o Trump voltar à forma de matéria orgânica de onde inicialmente partiu. Sim, meus caros Trumpistas, pode ser que esta constatação vá cair que nem uma bomba nas vossas áridas cacholinhas, mas Donald Trump...NÃO É IMORTAL! Lixado, uh? Não prendeu a Hillary, é improvável que construa aquele muro ridículo que tanto apregoou, e agora isto? Não passa de um mero e comum mortal? Digam lá se não estão a começar a ficar arrependidos? E o que dizer do comentário da Ellen Rister, ali em cima na imagem? Não vale a pena a malta chatear-se com as bocas do tipo; a SIDA ou "um dos homens e mulheres que ele infectou" encarregam-se de lhe limpar o sarampo. Nada mau, exteriorizar o descontentamento com um comentário que sugere que uma entidade divina cuja existência é improvável devia tirar a vida a alguém com outro comentário sugerindo que uma doença real e pessoas de carne e osso o façam. Isso é que ia ser irónico cumó caraças, pá. E para quem pensa que a idiotice se cinge à língua de Shakespeare na sua norma transatlântica, desengane-se, pois...


...em português "coum xôtaqui" também há, pôxa vida! Bumba meu boi, desculpe o auê, nossa, nossa, assim você me mata. Com toda a certeza que a boçalidade na sua forma mais bruta (e burra) se traduziu em todos os idiomas um pouco por todo o mundo, mas escolhi este exemplo do Brasil para ilustrar aquilo que venho dizendo desde que o cheiro a podre se começou a notar. Olavo de Carvalho, do Brasil, tira da cartola um coelho em avançado estado de decomposição na forma do conceito absurdo de que "quem não gosta de Donald Trump ou não o apoia, é invariavelmente de esquerda". A tua tia, pá! Este senhor,quer na sua página do Facebook, quer no seu site pessoal, identifica-se como sendo "filósofo, crítico, escritor e ensaísta, um dos intelectuais mais respeitados do Brasil". Claro, e quem diz o contrário? Faltou foi acrescentar "...quando era novo e se encontrava na plena posse das suas faculdades intelectuais". Senão vejam isto:


O que é uma "regra universal infalível" é que está faltando alguém no sanatório, ó vovô. E isto é apenas uma selecção aleatória de "pérolas" publicadas por este indivíduo nas últimas 24 horas! E se ainda restam dúvidas:


Suponho que um "anti-olavette" será alguém que discorda das "iluminadas opiniões" deste evaporado mental. Da parte que me toca, obrigado - vindo de si é um elogio. Talvez a próstata do senhor tenha ficado inflamada a tal ponto que atingiu o crânio e lhe assimilou o encéfalo. Voltando ao Charlie Sheen, como é que ele reagiu a esta "quantidade de chorrilhos" (eh eh) que foram escritos a seu respeito?


Ah! Genial, apesar de não fazer com que suba um ponto que seja na minha consideração. Ao recorrer a um vocabulário tão elaborado como enigmático (o que é que "timidez" tem a ver com alguma coisa neste caso???), Sheen confunde os grunhos, com os mais lestos a retorquir prontamente "Ai é? És tu, e ainda por cima com SIDA!", e ainda termina com uma nota humorística: "Estava a falar com Deus, e não com vocês". Ora toma.

Agora como conclusão, gostaria de deixar no ar meia dúzia de questões que ficam por responder:

1) Teria sido mais grave se fosse o "tweet" da polémica fosse da autoria do Papa Francisco, e não de Charlie Sheen? E em caso afirmativo, Deus atenderia ao apelo do seu emissário, e Trump não chegava a 2017 com um sistema cárdio-respiratório funcional?

2) Será que Charlie Sheen devia ter optado por dizer "Que Deus me perdoe, mas que o próximo seja o Trump", redimindo-se assim do ultraje?

3) Ou em alternativa, em vez de apelar ao criador, terminar o seu desejo para o Ano Novo com "o Diabo seja cego, surdo e mudo"? E isso faria dele um satânico?

4) E se Deus realmente eliminasse o Trump da face da Terra? Será que os "social media" urdiriam teorias da conspiração a Seu respeito, implicando-o como cúmplice de Obama, George Soros e a "Nova Ordem Mundial"? 

5) Sugerir que Deus elimine Trump, que alguns veneram como se de UM deus se tratasse, pode ser considerado blasfémia? 

6) E o que tem Deus a dizer sobre tudo isto? Alguém sabe se Ele tem uma conta no Twitter?

Como podem ver, foram mesmo "meia dúzia de questões", ou seja, seis. Isto é facilmente verificável, basta contar. Já quanto a pedir a Deus isto e aquilo, trata-se da segunda coisa mais imbecil que alguma vez assisti. A primeira é levar a sério quem o faz, e armar um chinfrim destes, sem pés nem cabeça.


Deixem-se de disparates


E como já havia acontecido em anos anteriores, a última semana de 2016 é de "dose dupla" no que toca a artigos do Hoje Macau. Obrigado à malta da redacção do HM, com desejos de boas entradas, e para os restantes, gostava que LESSEM este artigo. Podem depois chamar-me os nomes feios que quiserem, mas pelo menos LEIAM em vez de olhar para o título e desatar a tirar conclusões bacocas. E um bom 2017 para quem lá chegar!



Podia ser esta a minha mensagem de ano novo para os leitores do Hoje Macau, mas isto seria injusto para a grande maioria deles, os que têm a cabeça bem assente num par de ombros – pelo menos penso que são a grande maioria. Mas não, prefiro antes explicar o que quero dizer com aquela mensagem colocada em tom tão grave na forma de título: 2016 entrará para a História como “o ano de todos os disparates”. Tivemos o Brexit na Europa, umas eleições muito “sui generis” nos Estados Unidos, a lembrar os clássicos “western” americanos, de “cowboys” contra peles vermelhas, e talvez o mais grave de tudo: a ascensão da “mentira” ao estatuto de “verdade alternativa”. Daí o ano do disparate – foi fértil em disparates, e na forma como tantas vezes se deu a eles provimento.

Tudo isto tem a ver com um defeito inato dos media convencionais: dão as notícias. Não dão boas ou más notícias, nem pouco mais menos, ou conforme o gosto do freguês. Dão notícias, ponto, e uma característica que salta a vista das notícias é que “nem todas agradam a toda a gente”. Os profissionais deste media, alguns financiados por dinheiros públicos, precisam de dar as notícias, e da competência ou falta dela nesta função depende a sua credibilidade, e quase sempre o próprio emprego. Os profissionais dos media dão as notícias para garantir o seu sustento, e é-lhes indiferente que a notícia agrade ou não à maioria, e muito menos a ele próprio. É assim a realidade, crua e nua. E o que seria se os chatos dos jornalistas SÓ nos dessem notícias que nos fizessem felizes? Sei lá, que estavam a chover rebuçados de um arco-íris, por exemplo? Seria bestial, apenas se fosse possível. Este seria o cenário ideal para dar asas à fantasia e deixá-la voar, mas as notícias que as pessoas procuram e querem nelas acreditar sem procurar confirmar se são ou não credíveis são muito, mas muito menos idílicas. E é aqui que entram os “social media”. O que são, afinal?

Mentirosos encartados e com uma agenda pérfida – é isto que são os “social media”. Já está, e para os mais distraídos – que são cada vez mais, infelizmente – recordo que este é um artigo de opinião, e na minha opinião quem vive da calúnia pura e simples, na sua forma mais intriguista e venenosa devia estar preso. Os “social media” alegam que os media convencionais “escondem a verdade”, a mando “da nova ordem mundial” (?), e que anda tudo “ao serviço das grandes corporações”. Tal como os próprios “social media”, com a diferença de que as “grandes corporações” deles são outras que não as da concorrência. Basta entrar em qualquer desses depositórios de calúnia e verificar os patrocinadores que aparecem nos cantos do ecrã. É daquelas coisas que aconteceu em 2016, também: um ataque de miopia colectiva que não deixou muita gente ver o que está mesmo à frente do seu nariz.

Pode ser que alguns leitores, e arrisco que seja a maioria, esteja a notar neste artigo um tom “algo agressivo”, enquanto outros poderão estar a apreciar aquilo que tem vindo a ser designado por “desrespeito pelo politicamente CORRECTO”. Reparem como destaquei o “correcto” naquela frase: desde quando é que algo “correcto” pode estar errado e merecer esse desprezo?! Enlouqueceram de vez? O politicamente correcto é o que impede que oiçamos aquilo que não gostamos de ouvir, especialmente porque é irrelevante, atroz, e não serve nenhum outro fim que não seja o de agredir.

Apesar da natureza e condutas criminosas dos “social media”, os media convencionais não estão de todo isentos de culpa. Talvez estejam demasiado acomodados, ou mecanizados, mas o mundo que nos é dado a conhecer parece estar à beira do fim. Ficamos com a impressão de que o tempo e os recursos se estão a esgotar, e que precisamos de deitar as mãos ao que resta, e esquecemo-nos dos mais fracos e necessitados. É o mundo que temos: o mundo dos humanos. Humanos que dão uma visão do mundo cheia de defeitos próprios…dos humanos. E nem eles têm a culpa que em 2016 as celebridades tenham caído como tordos.

Feliz 2017, e vá lá, juizinho.


Vídeo do ano


Podia ter ido mais longe, mas explica o essencial. E é o "velhinho" MADDOX, minha gente!


quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Enfim, paneleirices...


Não podia estar mais em sintonia com o disse Ricardo Araújo Pereira nesta entrevista ao jornal i: também não penso em sexo homossexual cada vez que oiço ou leio a palavra "paneleirice". O que é isto, uma "paneleirice"? É uma mariquice, pronto. Também não serve? Um capricho, uma birra, uma extravagância, um exagero, sei lá, uma chatice do caraças. E assim, pode ser? Óptimo, era o que faltava se aqui na minha tasca tivesse que aturar este tipo de...paneleirices. Ah ah! Estão a ver? Aí está! Por outro lado...



Ooops! "Por outro lado" quer dizer "de outra forma", e não do outro lado....daquele lado, entendeu, ó sua alteza...oops! Outra vez, por "alteza" quero dizer "soberano", e não necessariamente "rainha da Primavera". Ah, não se preocupe que não lhe peço desculpa, pois isso seria uma atitude de um cavalheiro, que é daquelas coisas que se tem com as senhoras. No blogue Jugular, onde Pedro Côrte-Real assume...oops, quer dizer, "dá a cara" como protagonista do episódio que RAP descreve na sua entrevista ao i, e depois desata com uma data de PANELEIRICES, e não porque seja aquilo que se espera dele por ser, e citando o próprio, "paneleiro"; há homens heterossexuais que amiúde desatam com paneleirices parecidas, e das mulheres nem se fala - umas autênticas peritas na (des)arte da paneleirice! Agora, como vice-presidente da ILGA, e que devia estar mais preocupado em evitar este tipo de saloiice (para não me repetir), sinceramente fica-lhe mal. E olhem lá que o RAP deu a cara pelo direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, e foi apresentador da gala Arco-Íris. Nem ele nem eu temos nada contra essas paneilirices. São as outras como esta que nos chateiam, tá a ver?


PS: Será que os lituanos ficam ofendidos se lhes dissermos que têm uma bandeira (em cima) um bocado..."paneleira"?


Turismo de Natal


Outra vez em perfeita sintonia com o Hoje Macau, aqui vos deixo com o artigo desta semana. Entendo, entendo...são as festas, e tal...ah, e amanhã e talvez depois conto como foi lá em Taiwan.

Desde que dou o meu humilde contributo a esta grande empresa que é o Hoje Macau (afinal é época de “dar”), este ano deve ser a minha vez de desejar as Boas Festas aos leitores, uma vez que nenhum dos feriados da quadra natalícia caiu a uma quinta-feira. Mas é com muito gosto que o faço, naturalmente, e aqui: Bom Natal e até ao meu regresso. Sim, tal como qualquer outra pessoa que não tem uma boa razão para ficar em Macau pelo Natal e tem quatro dias de férias, vou aproveitar e dar uma volta aqui por perto, onde pelo menos dê para sentir algum do ambiente natalício. O ano passado foi Xangai, este ano é Taipé.

Mas em primeiro lugar gostaria de saudar a comunidade macaense e os restantes cristãos naturais de Macau, pois parece invasivo estar a inclui-los neste rol de lamentações. Estes são os hóspedes do Natal de Macau, na terra deles, e os restantes são convidados. Quem não gosta não é obrigado a comer, e se não quiser ficar à míngua, se calhar o melhor é fazer-se à vida. Dito isto, desejo uma santa consoada aos cristãos de Macau que vão tomar com as suas famílias a ceia de Natal. E agora os outros.

Quem é natural de Portugal e tem aí uma boa parte da família, é natural que faça um esforço suplementar em termos financeiros e de gestão das férias para passar o Natal junto de quem tem saudades, e vice-versa, claro. A estes, que aproveito igualmente para saudar, a época consagrada ao dia 10 de Dezembro e seguintes é chamada de “fuga de Macau” – longe que te quero, lá vou eu, beijinhos a quem fica. Quem acha que as “saudades” são uma coisa que precisa de maturação, ou simplesmente não se pode dar ao luxo de ir “marcar o ponto” a Portugal todos os natais, vai ano sim/ano não, e quando é “não” vai para a Tailândia com o agregado familiar, ou no ausência deste, com amigos e amigas na mesma condição. Acho óptimo, não façam daqui segundas leituras. É uma das muitas vantagens de estar aqui a viver, e não em Portugal. Que bom para nós.

Na eventualidade de nem sim nem sopas, não há disponibilidade, férias ou vontade de sair de Macau, não deve o expatriado comum entrar em depressão. O que é isso, se em Macau os locais aderem ao Natal, ou mais ou menos isso. Primeiro, o dia 25 é feriado para toda a gente, o que por si já é mais que suficiente para não ignorar a noite da consoada. Talvez para quem comemora o Natal na sua vertente cristã e junto da família isto pareça demasiado “insonso”, mas no fundo isto não difere muito do que sentimos em relação ao Ano Novo Chinês, onde por vezes damos connosco a pensar: “What’s the point?”. Ficar em Macau no Natal não é “a mesma coisa” que sair, mas também não representa o fundo do barril da solidão, p’lamordedeus.

O que faz falta em Macau (olha, parece o nome daquela ex-rubrica de um título da concorrência) era…sei lá, mais luzes de Natal, como aqui ao lado em Hong Kong? E que tal uma árvore de Natal no centro da maior praça que não fosse um sólido geométrico feito de papelão, por exemplo; as árvores tinham folhas, da última vez que vi uma. Para evitar esta onda de turismo daqui para fora NO Natal, era preciso que Macau investisse no turismo DE Natal. Como? Talvez com outra coisa que não fosse casinos, e casinos, e mais casinos.

Feliz Natal.



Fogos? Quais fogos? Batam com panelas e tachos!


Nota prévia: as "panelas e tachos" referidos no título são estes objectos na imagem. Triste que tenha chegado o dia em que um esclarecimento desta natureza se torna necessário. Ai...

Macau não vai ter fogo de artifício na passagem de ano, porque o material pirotécnico foi encomendado da Grécia! (Tentativa de humor subtil não muito bem conseguida). Ora essa, e depois?! E até nem curto ficar de pescoço esticado a olhar para os "pum-pums" rodeado de crianças (e não só) a exclamar "Uááááá" cada vez que rebenta um maçarico - nem tinha nada dessas coisas lá no Montijo quando era puto, pá! O que a gente fazia era ir para a varanda com colheres de pau e bater nos tachos e panelas. Assim, e mánada. Ora toma lá que já almoçaram! Foguinhos de artifício? Os meninos estão a ficar muito finos. Panelas! Tachos! Pimba!


Puérco preto, olé!


CitySuper, Hong Kong, um dia destes, em compras para o Natal e Ano Novo - "of sorts", digamos antes assim. Enquanto procurava pelos deliciosos iogurtes com pedaços de figo ou aroma de romã, que aqui não encontro em lado nenhum, eis que deparo com a secção de cadáveres de aves e quadrúpedes, e dou com algo de familiar: porco preto. O porco preto é aquele suíno alentejano cuja fama reside em "alimentar-se apenas de bolota", alegadamente. Isso deve explicar a sua composição de 70% gordura, que me obriga a andar a chá o resto de dia se como bochechas ou secretos ao almoço. E aqui é de "secretos" que se trata exactamente, e...espera lá, o que é aquilo???


"Spanish"? "SPANISH"? Español? Paco e não diabo??? Que m... vem a ser esta? Até dá para desculpar o "ibieirico",  bem como o preço praticado (para quem não sabe, aquele pedaço de suíno congelado custa 20 euros; oh yeah), mas trair a identidade dos nossos recos, jamais! Para começar e acabar também, "porco" em castelhano é "cerdo", e ao contrário do que possam pensar os falantes de "portunhol", "lombo de porco" diz-se "solomillo de cerdo", e não "luémbo de puérco". Portanto este tal "porco", seja ele preto, rosáceo, ou malhado, nunca seria "spanish". Eu sei que estou um bocado longe de casa para protestar este tipo de coisa, e fosse eu chamar a atenção dos senhores do CitySuper de Hong Kong que o porquinho era "portuguese" e não "spanish", ainda levava com uma do tipo: "Portuguese? Not famous". Ah, pois.


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Uma triste sinfonia de despedida


Notícia muito triste depois do Natal foi a da tragédia que custou a vida a 60 elementos do Coro do Exército Vermelho, vítimas de um acidente aéreo. Que estejam agora a cantar com os anjos.


Natal de Mourinho e Carvalhal (...e Bruno Ribeiro)


O Manchester United conseguiu a quarta vitória consecutiva na Premier League inglesa, o que valeu ao treinador português José Mourinho passar uma consoada mais tranquila. No "boxing day", a tradicional jornada do principal campeonato em Inglaterra que se joga no dia seguinte ao do Natal, os "red devils" venceram com alguma tranquilidade o aflito Sunderland por 3-1. Os golos foram apontados no primeiro tempo por Danny Blind, e nos últimos dez minutos do encontro, primeiro por Ibrahimovic, e depois neste fantástico golo de Mikhitarian, com um pontapé de escorpião (encontra-se em situação irregular, contudo). O Sunderland de David Moyes, que regressou a Old Trafford na condição de visitante, e com Alex Ferguson a assistir na bancada, ainda reduziu logo no minuto seguinte por Fabio Borini.


 O Man. United continua a ocupar um decepcionante 6º lugar na tabela classificativa da Premier League, mas notam-se progressos na equipa, que pode ainda aspirar a um dos quatro lugares de acesso à Champions League. O Chelsea lidera e está em grande forma; a equipa orientada pelo italiano Antonio Conte obteve a 12ª vitória consecutiva na prova, feito inédito para o clube londrino.


Brinde do bolo rei para Carlos Carvalhal, que levou o seu Sheffield Wednesday a uma vitória em pleno St. James Park, frente ao (agora) ex-líder Newcastle United. Um golo de Glenn Loovens foi o suficiente para derrotar os "geordies", que apesar de serem super-favoritos à subida, sofreram a quarta derrota em casa, onde nunca conseguiram recuperar de uma situação de desvantagem. Mais um Natal com razões para o técnico português comemorar nesta sua aventura em terras inglesas, que teve arranque em Agosto de 2015.


O Sheffield Wednesday chega assim ao 6º lugar, o último de acesso aos "play-off" de acesso à Premier League da próxima época, ainda a 9 pontos do seu adversário de ontem, e a 11 do líder Brighton & Hove Albion, que ocupam os dois lugares de acesso directo ao escalão principal. Carvalhal promete manter o Wednesday a lutar pelos lugares cimeiros.



Menos sorte teve Bruno Ribeiro, o ex-jogador do Leeds e do V. Setúbal, onde chegou a treinador principal. Actualmente treinava o Port Vale, uma equipa dos arredores de Stoke, que disputa a League One, o terceiro escalão da pirâmide do futebol inglês. O projecto que Ribeiro abraçou em Agosto último era ambicioso, e as coisas até não estavam a correr mal inicialmente, mas a última série de dez jogos em que os "valiants" amealharam apenas 7 pontos ditaram o afastamento do técnico português. A derrota em casa ontem com o Walsall foi a última gota, com Ribeiro a deixar a equipa onde jogam os também ex-sadinos Kiko e Paulo Tavares num modesto 17º lugar, com seis de vantagem sobre os lugares de despromoção.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

32 anos "passam a correr"


Jerry Seinfeld em 1982 e 2015. Descubra as diferenças.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Esne Beltza


Os Esne Beltza são uma banda basca de Donostia (San Sebastián), fundada em 2007 por Xabi Solano, um guipuzcoano que teve a ideia depois de ter participado nos Kontrabanda, segundo projecto do conceituado músico Fermin Muguruza. Foi o próprio Muguruza que sugeriu o nome para a banda. "Esne Beltza" quer dizer em basco "leite negro". O nome deriva do som da banda,  com inspiração predominantemente no "hip hop", "reggae" e "ska", ou seja, música de negros feita por brancos.  E podem crer que para mim foi uma surpresa quando juntei a figura da banda à sua música; os Esne Beltza são brancos, trintões, barbudos...e bascos. E é bestial! O grupo gravou 5 álbuns, o último deles este ano. Vamos então à música propriamente dita.


Este tema tem o título de "Hil Zuten" ("eles mataram"), e é dedicado a Iñigo Cabacas, um natural de Bilbau morto pela polícia em 2012 com um tiro de bala de borracha. Residente em Málaga, Iñigo foi à sua cidade-natal para assistir à partida de futebol entre o Athletic e o Schalke 04, disputada em 5 de Abril, e a contar para a segunda mão dos quartos-de-final da edição da Liga Europa desse ano. No final da partida, que terminou com um empate a duas bolas, qualificando os bascos, que tinham vencido na primeira mão em Gelsenkirchen por 4-2, registaram-se alguns incidentes entre os adeptos das duas equipas, que levou os Ertzaintza (polícia basca) a recorrer a métodos de dispersão mais duros, incluindo o uso de balas de borracha. Um destes projécteis supostamente "inofensivos" atingiu Iñigo Cabacas na cabeça, e depois de quatro dias em coma no hospital, o jovem acabaria por sucumbir aos ferimentos. A indignação bem patente na raiva com que os Beltza interpretam o tema reside no facto de mais de 4 anos depois as autoridades ainda considerarem a morte de Iñigo "acidental", rejeitando todas e quaisquer responsabilidades pelo falecimento do jovem.


Este é "Ez da Ezetz", ou "não é não", um tema igualmente do último álbum, e que aborda a temática do consentimento nas relações amorosas. Se virem o vídeo (e recomendo que o façam) vão ver como no final aquele indivíduo suspeito e decrépito leva uma lição das meninas que andou a assediar toda a noite na discoteca onde decorre a acção. Bem feita! A canção propriamente dita, que tem um balanceamento notoriamente "reggae" conta com a participação especial de Toni Sánchez, mais conhecido pelo nome artístico "Panxo", vocalista dos "Zoo", um grupo valenciano de "hip hop".


E finalmente um tema ao vivo, "Gora Herria" (a cidade), registado durante um concerto em Donostia a 11 de Setembro de 2011 (é apenas coincidência), com a participação do "padrinho" Fermin Muguruza. E que vivam os Esne Beltza!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Interlúdio publicitário (não patrocinado)


É verdade, isto pode parecer um bocado assim como "publicidade gratuita", mas o amor não é pago - pelo menos falo por mim. A "Portuguese Bakery" divulgou a sua lista de doces de Natal, que podem ser encomendados e entregues ao domicílio de V. Exas., ou caso não seja demasiado incómodo, adquiridas na própria padaria, localizada no Beco do Sal, mesmo em frente à casa da minha sogra.  Já sabem perfeitamente onde é que podem ir buscar as broas e o bolo rei, portanto.


Temos também aqui o mesmo menu numa versão para "expats", onde para mim o único senão foi não terem traduzido "sonhos de abóbora" para inglês. Garanto que "pumpkin dreams" seria mais que suficiente para aguçar qualquer paladar, por mais britânico que este seja.


E não podia faltar a versão na outra língua oficial, o chinês, aqui numa apresentação muito mais descritiva. A "Portuguese Bakery" sabe fazer as coisas bem feitas, porque são malta do Montijo - como eu! - onde ficava situada a Padaria Pintos, que às 4 e meia da matina de Domingo servia o melhor pão com chouriço do mundo, que saciava a larica de noctívagos não só locais, como também de outros oriundos de paragens tão diversas,  casos de Alcochete, e até da Moita do Ribatejo.

Não "mate" saudades, e tente não matar nada agora, que estamos na época natalícia. Vá antes alimentar o estômago na Consoada e no que resta de 2016 à boa maneira portuguesa, na "Portuguese Bakery"!



Soares


Mário Soares foi internado de urgência na passada 3ª feira, chegou a temer-se o pior  (sobretudo para ele, entenda-se), e ao fim do dia de quarta feira, o seu estado de saúde - ou ausência desta - "estabilizou" e o prognóstico "é reservado". Tudo isto trocado por miúdos quer dizer "ainda não se sabe se é desta". Houve quem, julgando estar o histórico líder socialista mais para lá do que para cá, tenha antecipadamente urdido considerações diversas sobre o que representou Mário Soares para o Portugal moderno e para a nossa democracia - em boa hora, acrescento eu. Foi necessário o homem chegar ao seu limite para se comentar o político, esse já há muito com certidão de óbito passada.

E é por isso que é bom falar de Mário Soares enquanto ainda anda por cá, antes que a "esquerda de rapina" de que ele foi figura de proa imponha a "lei da rolha" com o pretexto do "respeito pela memória dos defuntos". Uma coisa que eu sempre soube sobre Mário Soares melhor que muita gente foi a sua idade exacta - nasci no dia em que Soares completou meio século de vida, e a partir daqui as contas ficam mais facilitadas: no passado dia 7 de Dezembro o apregoado "pai da democracia" comemorou (discretamente, suponho) 92 anos de vida. Até nisto conseguiu bater um dos seus mais conhecidos adversários políticos, Álvaro Cunhal, que não passou dos 91. Olhem que sim, caros leitores, olhem que sim.

Nascido em Lisboa em 1924, Mário Alberto Nobre Lopes Soares é o segundo filho de João Lopes Soares, um ex-sacerdote e pedagogo que exerceu vários cargos políticos durante a I República, acabando vetado ao ostracismo em 1930 por Salazar, depois de ter ocupado por um curto período de tempo a pasta de Ministro das Colónias. Pode-se dizer que foi "em nome do pai" que o jovem Mário Soares encontrou o seu primeiro adversário político, o próprio Salazar, de quem se assumiu como oposição a partir dos anos 50, já com formação académica obtida na área do Direito, e praticando a advocacia. O Estado Novo não o deixou colocar o pé em ramo verde, e depois de ter estado detido e exilado em S. Tomé e Príncipe, o marcelismo permitiu-lhe a vinda para França, onde fundou o Partido Socialista Português, e com o evento do 25 de Abril o regresso a Portugal, onde foi recebido como potencial "salvador da Pátria".

Ocupando desde logo a pasta das Colónias, como tinha feito o seu pai antes da sua família cair em desgraça politicamente, Mário Soares tinha em mãos uma tarefa complicada: pôr termo à Guerra Colonial e restaurar a credibilidade do país, vetado ao isolamento no plano internacional por culpa da recusa de Salazar em proceder à descolonização. Soares resolveu então fazer em dias aquilo que bem feito poderia demorar vários anos a levar a bom termo, e retirou das antigas províncias ultramarinas portuguesas, deixando-as entregues aos movimentos independistas. Como resultado deste equívoco tido como "inevitável", dezenas de milhar de portugueses naturais de Angola e Moçambique acabariam refugiados em Portugal, onde muitos não tinham sequer um familiar a quem recorrer a ajuda. São os "retornados", pessoas a quem ainda hoje a figura de Soares inspira ressentimento e desprezo.

No plano interno Soares foi chefe do governo em duas ocasiões, e em 1985 chegou a Presidente da República, cargo para o qual seria reeleito até 1995, altura em que a sua retirada da vida política seria o ideal, mas em vez disso preferiu eternizar-se como referência daquilo que ele próprio designou de "esquerda democrática". Voltou a concorrer às presidenciais em 2006, já com 81 anos, e ao invés do político que travou lutas contra Cunhal,  Sá Carneiro, Eanes e finalmente Cavaco Silva, saindo sempre vencedor, passámos a ter o "zombie Soares", uma figura flácida de discurso errático com pronúncia esclerosada que em nada dignifica aquilo que foi o seu passado - quer se goste dele ou não.

Depois do recente desaparecimento da sua esposa e companheira de luta, Maria Barroso, Mário Soares prepara-se agora para se reunir com ela, encerrando assim um ciclo da política e da própria História de Portugal  (porque não?), e se há algo que eu gostaria de lhe conferir era o benefício da dúvida. Seria o que eu faria, tivesse aquele a quem a seu segundo consulado em Belém foi equiparado "ao de um monarca" limitado-se a cumprir o seu papel, optando depois por uma saída graciosa. A impressão que deixou nestes últimos anos só me levam a concluir uma coisa: se combateu o regime de Salazar e a ditadura, foi porque esta se calhar não lhe dava tanto "jeito". E de Mário Soares, hoje com 92 anos e oito dias de idade, é só o que tenho para dizer.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Oh, Life on Earth...


 Esta é a mensagem com que Sir David Attenborough (tentem dizer isto com um sotaque britânico e um ar afectado) se despede no último episódio da segunda temporada da série documental "Planet Earth", da BBC - "Temos que tornar a Terra um lugar sustentável, não só para a nossa espécie, mas também para todas as outras que partilham connosco o planeta". É grave que não estejamos a fazer isto, e é mais grave ainda que tanta gente tenha considerado estas palavras "tocantes" e "profundas". Mas porquê, esqueceram-se, ou as coisas podem ser feitas de outra forma, ou quê? Juro que não entendi.


O melhor do mundo (com dedicatória)


Dedicado a Maria Vieira, a criatura mais invejosa, mesquinha e ressabiada à face da Terra.


Galeria dos inimigos (parte I)


Durante estes últimos tempos em que têm ocorrido situações que ainda não tenho a possibilidade de relatar na íntegra (mas prometo que o farei), correu por aí um rumor de que tenho, e atenção a isto, "centenas de inimigos". Nunca apareceu assim escrito, mas uma espécie de "Anonymous" do Júlio de Matos garante que existem "centenas de pessoas que insultei e difamei", que agora vieram todas assim como num furacão para...fazer justiça? Na, não sejam ridículos: para praticar CRIMES! Sim, ó ironia das ironias, e quem sou eu para falar, que mereço que sejam praticados contra mim crimes por não ter praticado crime nenhum contra ninguém. "Justiça", e da próxima vez desata tudo aos tiros na mona, que afinal o outro desgraçado "andava a pedi-las". É a tal nova "lei de Duterte" a chegar a Macau mais cedo do que seria de esperar, portanto.

Essas "centenas" de pessoas, número inflacionado por alguém que conta uma pessoa e depois diz que são trinta, resumem-se a 4 ou 5 palermóides, com provas dada na mais elevada categoria da disciplina da palermice. Hoje gostava de falar de um deles, um tal de "Pica-Pau", que ultimamente também tem andado por aí a ser referido por "o coitado do Nuno", que tem sido "vítima de um perigoso psicopata que DIFAMA toda a gente" (Ah, o fado! Ai Difama...ai Severa!). A sério? COITADINHO!!!


Portanto, "a maioria dos macaenses são corruptos", "não eram ninguém sem os portugueses", entre mais uma catrefada de inanidades a saltarem naquele texto que nem trutas num barril. Isto foi feito PÚBLICO, num grupo que na altura era PÚBLICO no Facebook, e qualquer pessoa de qualquer conta podia perfeitamente ler aquilo. E agora, ele publica estas maravilhas para que sejam debatidas ou eventualmente refutadas? Não - só para que se faça "like", ou/e se deixe um comentário a dizer com o menino é "inteligente", e "sem papas na língua", e já agora "bonito", porque não? Qualquer coisa que não se inserisse nesta descrição valeria ao seu autor ser insultado, achincalhado e expulso do grupo, e finalmente referenciado como "um invejoso". O facto de eu chamar a atenção para isto é visto como "difamação" pelo menino, e por "provocação" da minha parte ao "coitado do Nuno" pela maioria da nossa estimada comunidade. AH! Meus senhores, que papel querem afinal para a nossa comunidade na RAEM quando um dos nossos diz coisas do tipo: "Se o presidente de Portugal fosse chinês eu limpava o gajo", e "montava uma associação anti-China em Portugal". Ai o menino nunca diria uma coisa dessas, ai que disparate? É mesmo?


COITADINHO...."disparate" deve ser um dos nomes do meio daquele indivíduo, cujo nome completo desconheço e pretendo continuar a desconhecer. E LOL, deveras, pois o facto de eu ter exposto isto é uma ofensa ao cavalheiro, ui ui, que ao publicar estas "pérolas" que toda a gente consegue ver, está a exercer a sua "liberdade de expressão". E depois pode ser que haja quem esteja agora a pensar "mas porque é que te foste meter com o tipo, que não te fez mal nenhum"? Realmente isto não é nada comigo, e imaginem que a minha "obsessão" com aquele recto cidadão levou-me ao ponto de "ameaçá-lo", Deus meu. Pelo menos é aquilo que ele alega eu estar a fazer neste vídeo:


...onde ao chamá-lo de "idiota" estou a descrevê-lo, não a insultá-lo, e muito menos "ameaçá-lo". Não basta que para que isto fosse uma prova de seja lá o que for que ele me queira acusar tivesse que ser verdade (lol), como ainda teria que ser apresentado o contexto completo da referida "ameaça". Por outro lado:


Até algo deste tipo dificilmente se aceita como prova! O autor vem identificado, bem como o teor da ameaça, e apesar de esta se incluir num comentário a uma "thread" do Facebook feita sobre a minha pessoa, o meu nome não vem sequer mencionado no mesmo contexto da ameaça, por isso não serve como prova. E nem eu brinco com coisas sérias - deixo isso para as autoridades. Não vou pedir desculpa pelo meu papel nesta embrulhada, pois não me deixo ficar se estiverem a ser praticados crimes contra a minha pessoa. E você, ainda tem mais algum "mas..." que eu precise de explicar, ou já chega?


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Dez anos é obra(s)


Assinalaram-se na semana passada dez anos desde a detenção do então secretário-adjunto das Obras Públicas, Ao Man Long, e numa mesma altura que teve início o julgamento de uma outra grande figura do topo da hierarquia local, o ex-procurador Ho Chio Meng. Como estive fora de Macau, perdi o "programa das festas", e tudo o que ouvi ser discutido foi na rubrica de debate "Contraponto", da TDM, que esta semana abordou além destes dois temas a intervenção do actual secretário da tutela durante a apresentação das LAG para 2017.

Gostei de ouvir toda a gente, todos com argumentos bem suportados, bestial. Contudo há uma tecla em que se nota existir alguma insistência: a da questão da impossibilidade de recurso para uma instância superior de uma decisão desfavorável para uma alta individualidade da RAEM - secretários e outros elementos do Executivo são imediatamente julgados no Tribunal Superior, ou seja, a mais elevada instância. Claro que isto é terrível, e de lamentar, bem como é suspeito que processos complexos e morosos sejam julgados e sentenciados num ápice sem que tenham existido erros processuais. Tudo bem. Mas analisando friamente, é uma daquelas coisas que tomou um caminho completamente análogo do ponto de onde partiu: da matriz portuguesa. É um bocado como a lei da droga; vejam como eram "parecidas" em 1999 a local e a portuguesa, e olhem agora para a diferença.

Antes de continuar,  gostaria de recordar que isto é apenas uma opinião, mas quem quiser usar como hipótese, esteja à vontade. Para procurar fazer uma interpretação disto sem tornar a coisa num bicho de sete cabeças, basta atender ao aspecto cultural - aqueles são cargos de uma responsabilidade e cujo estatuto é demasiado grande para tolerar o mais pequeno deslize. Se fez ou não, pouco importa uma vez que foram levantadas meras suspeições, o que já de si é muito grave. Sabe bem citar o exemplo português em algumas situações, eu sei, mas isto aqui é outra coisa, pronto. Por exemplo, aqui os juízes não se tornam celebridades, que falam sobre tudo a torto e direito na televisão e nos jornais, formam partidos políticos, etc, etc. São mais discretos, em suma. Só um pequeno exemplo de como aqui é diferente.

Quanto secretário Raimundo do Rosário, concordo com a análise feita por Fernando Gomes, do painel do "Contraponto". De facto a escolha foi feliz, pois o actual secretário das OP conseguiu restituir uma imagem de maior transparência à pasta que dirige mas chegou a hora de demonstrar que é também um bom administrador. Ao contrário do que diz a sabedoria popular, aqui se calhar fazia bem um bocadinho menos de trabalho e mais conversa. Já se viu que Raimundo do Rosário não é um vendedor de promessas, mas convinha-lhe saber um pouco mais daquilo que vem humildemente dizer que não sabe. Então afinal quem sabe? Um autêntico bico de obras...públicas.


domingo, 11 de dezembro de 2016

Pasalubong *


Das Filipinas vieram cá para casa "muchas cosas buenas", como é exemplo este sortido de Polvoron - um biscoito muito parecido com o macaense "bicho-bicho", mas menos seco e mais doce.


Nougat e bolinhas de massa-pão com amêndoas...


Turrones de Casoy. Muito mais macio que o original torrão de Alicante, mas com o "plus" de se poder comer aquele papel que o envolve. É como tomar a hóstia, acho...não sou baptizado.


Sumos instantâneos Tang, que comprei mais pelo facto de serem praticamente dados. Os sabores são calamansi, um parente da lima arraçado de laranja, e dalandan, que é um calamansi maior e mais doce.


"Brownies", nham nham. Da Goldilocks, que é uma marca bestial, das mais conhecidas e de confiança nas Filipinas, mas cuja especialidade são os salgados, e nem por acaso, mudemos de nota...


Bagoong. Estão o ver o "cheiro a bacalhau" português, e o "peixe salgado", na versão local? Pois, nas Filipinas o cheiro característico desta pasta de camarão fermentado é o equivalente desses dois. Mas é divinal, e recomendo para misturar em tudo: massas, arroz, mousse de chocolate, tudo!


Dinuguan, também da mesma Goldilocks. Este prato não é para todos: vísceras de porco (pulmões, rins e fígado, com sorte algum coração) cozinhados no sangue do próprio animal, misturado com algum "suka" (vinagre filipino). Diz-se deste prato que se deve confiar inteiramente na pessoa que o cozinha, mas isso é mito - é bom e recomendo onde quer que tenham a sorte de encontrar. (Na Rua da Praia do Manduco em frente ao homenzinho que vende o Mark-Six há uma tasquinha filipina que faz muito bem).


Aqui deu-me preguiça e decidi copiar esta entrada de há pouco no Facebook. And last but not least...



Não podia faltar o chicharon, claro, que é "apenas" pele de porco frita. Frita mesmo, ao ponto do crocantíssimo, e existe na variedade e com e sem bocados do animal agarrados a ela. 


Houve disto, e muito, muito mais, que mal cabe na dispensa, quanto mais ia ter eu paciência para andar a fotografar aquilo tudo. Filipinas: como sempre, um país muito coco-coco-coco jaaaam...


* Souvenirs, recuerdos, coisas boas