quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Netiqueta, pois bem



Como gostamos de partilhar as nossas ideias, e vê-las validadas por aqueles com quem as partilhamos, mesmo que estes não concordem. Tinha um professor que em vez de refutar uma cadeia de pensamento menos conseguida, dizia apenas "é uma opinião, está certo". As redes sociais deram-nos a oportunidade de fazer chegar a nossa visão do mundo a um público do tamanho do próprio mundo, mesmo "sem querer" - há-de sempre haver quem "tropece" na marca que decidimos deixar em forma de comentário. Há depois momentos e situações em que convém reflectir um pouco melhor sobre o queremos partilhar na net, de modo a evitar fricções, ou até conflitos. Aqui a rede é o reflexo da própria humanidade: uma desgraça, e gostava de poder dizer "às vezes" - é quase sempre. Recentemente tivemos um verdadeiro teste à tolerância e à maturidade dos "netizens": as eleições americanas. Não estava muito virado para fazer "comentários aos comentários", mas ele há coisas que não podem deixar de ser ditas. Ó, se as há. Passemos sem mais demora à nossa "feature presentation".


"Que se passa com esta gente", de facto, meu caro Paulo Reis. Parece que nos últimos tempos o mundo inteiro como que..."enlouqueceu", não foi mesmo? Eu próprio tenho reparado como apesar de continuar jovem, nestes últimos vinte anos tem aparecido gente mais jovem que eu, vinda sabe-se lá de onde, que diabo! É o mundo ao contrário. "Educação, tolerância e elevação" são valências cada vez mais difíceis de encontrar, realmente, e enquanto uns se pautam por manter o nível da conversação à tona do pântano, outros há que praticam despreocupadatmente o mergulho em apneia. Deve ser por culpa dos personagens na imagem que o Paulo Reis usou para ilustrar o seu ponto de vista - tem tudo a ver, claro. Quanto ao Paulo Reis não preciso de dizer mais nada, mas na secção de comentários, vejam só quem é que eu fui encontrar.


Oh oh oh. Quem é xenófobo sempre aparece, adaptando às circunstâncias o velho adágio popular. A vitória de Trump deve ter levado o Hugo Gaspar a celebrar efusivamente, tendo em conta a hipnose a que o agora presidente eleito o induziu no momento em que garantiu que ia "arrear na moirama", promessa que entretanto retirou do seu "site" oficial - isto é algo que tratarei no post seguinte. Apesar de já não actualizar o seu blogue, o Hugo Gaspar não mudou muito, e com o pouco jeito que leva para fazer de Madalena arrependida, outra coisa não seria de esperar:


Aí está. Neste comentário, ainda mais recente que o anterior, o Hugo Gaspar refere-se de uma forma nada abonatória a Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda cujo pai esteve particularmente activo no mau sentido durante o período do PREC, que não é exactamente uma etapa da nossa ainda júnior democracia que encha de orgulho quem dela tomou parte activa. Quer se ache que o sr. Mortágua era um tipo mau como as cobras, ou se relativize a sua acção enquadrando-a no respectivo quadro político da altura, creio que por muito que a deputada do BE se esforce, não conseguirá reverter o que está feito. É esta pequena mas essencial regra do "fair play" democrático com que o Hugo Gaspar parece não atinar, e não me deixa qualquer pista que me faça conceder-lhe o benefício da dúvida - é óbvio que se trata de mais uma das suas célebres manobras de desacreditação através de um ataque "ad hominem". Deixa lá rapaz, que livre de pensar da maneira que quiseres, "and so am I"; pode ser que um dia quando e se tiveres um filho, e a criatura tenha granjeado a sua cota parte de celebridade meritosa (ou outra qualquer), eu me vá referir a ele como "o filho do xenófobo salazarento". Mas olha, e que tal eu te demonstrar - como tão bem faço, e tu melhor que ninguém sabes disso - o que são "pessoas de bom senso", ou neste caso, o que acontece quando o bom senso está em falta.


Ui, olha quem é ele, o homem a quem os eleitores na Florida salvaram de um mais que provável suicídio. Mas como diz? Palha...bem, não vale a pena repetir o mimo com que este "democrata" brinda os derrotados da eleição de terça-feira, como se não bastasse o ridículo a que se têm exposto muitos daqueles que insistem em não aceitar um desfecho que em muitos casos nada fizeram para impedir. Isto deve ser um exemplo da "educação, tolerância e elevação" a que o Paulo Reis se referia. Sim, só pode ser isso, e quem não vê só pode estar equivocado em matéria de "valores democráticos". O que se passa com esta gente?!?! 


Merda...porcos...latrina..."nigger Obama"...ah, já sei! Este é só mais um "comentário educado e devidamente fundamentado", ou seria, se estivesse aqui em discussão o sistema sanitário numa produção suinícola. Agora vamos observar como esta pessoa de "bom senso" dá início a uma "discussão ampla e profunda":


Ufa, ainda bem que não conheço assim tantos apoiantes da Hillary Clinton (ou nenhum, já o contrário...), pois se há coisa que me incomoda e  irrita são "fanáticos anormalóides mais estúpidos e burros que o raio que os parta" - isto recorrendo a uma definição científica dos mesmos, lá está. E que sorte que nos livrámos desses "radicais" do Bernie Saunders, que apesar de serem umas bestas, ainda "se comem" (ah, a linguagem...tão poética, só que ao contrário). Valha-nos a "esgrima argumentativa" desta pessoa "bem formada" - e só podia ser assim, sendo ele um apoiante do Trump, o único que bloqueia os outros, também - e falo por experiência própria, com conhecimento de causa. Agora, antes de mandar este freguês ir carpir a morte do cão, que com ele levou a sua salubridade mental, vamos ver o que seria se "o lado dele" perdesse:


Ah..."as máquinas", pois. E isto foi um autêntico corrupio na terça-feira, "wild mood swings" de proporções épicas, à medida que iam fechando as urnas nos Estados Unidos. Se perderam, "foi fraude", e como ganharam, foi também "apesar da fraude". Agora deixemos este a afagar a trela do falecido bóbi, e olhemos para outros "amantes da democracia" em acção:


Julgo que nem é preciso mencionar que esta conversa teve lugar numa altura em que Hillary Clinton ainda era dada como mais que provável sucessora de Barack Obama. Mas que graça, que "fair play", e o que é aquilo, uma apoiante do Trump, aparentemente americana, a dizer que "abandona o país" se a candidata democrata ganhar. Deve ser uma excepção, pois essa idiotice é exclusiva "dos outros", então? Bem, pelo menos não recorreram a "insultos violentos", que não sei se o meu pobre coração aguentava! Ou querem ver que...


Mas...mas..."rebentados por jhiadistas (sic)"? "Enrabados por barbudos"??? "Estupradas e genitalmente mutiladas"????? Ah, afinal é só o Carapito, o pitosga-mor da islamófobia. O gajo ainda só não ficou com as vistas endireitadas porque quando profere estas "pérolas" numa sala cheia de gente, ninguém sabe muito bem a quem é que ele se dirige - ou se o faz aos três ou quatro para onde apontam aqueles olhinhos de camaleão mongolóide. É o que lhe vale, pronto. Escusado será dizer que estes comentários que mais parecem anunciar o fim dos dias foram registados numa fase em que as probabilidades de Hillary Clinton ser eleita eram na ordem dos 80%. É deveras lamentável que tanta gente não aceite a "democracia" servida por gentinha desta estirpe, mas fica agora menos difícil de imaginar o que teria sido no caso de Donald Trump ter perdido as eleições. Ficamos então esclarecidos quanto a quem são aqui os selvagens, ó Paulo Reis, Hugo Gaspar e cia. lda. As melhoras, já agora.

  

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