Conheci-o em 1993 no café do Zé António, no antigo Park'n'Shop da Av. Sidónio Pais, onde ficava o Riquexó, até mudar para o beco mesmo ali ao lado. Ia lá por mera conveniência, pois na altura trabalhava no China Plaza ali perto, e da segunda vez que lá fui já sabia que aquele personagem era "o Alecrim". Era impossível ignorar a sua presença, tal era a galhofa que ali ia entre ele e os seus "colegas da bisca", entre os quais ele se destacava por garantir que nenhum minuto se passava de tédio. Para que me faça entender melhor, o sr. Alecrim é aquela pessoa que todos os adultos queriam ter como amigo, e que qualquer criança gostaria de ter como avô. Nunca o vi ser arrogante ou desconfiado com ninguém. Tenho a certeza que ele nunca soube o meu nome, mas tratava-me como se eu fosse um catraio qualquer filho de uma vizinha sua, e que ele viu nascer.
O sr. Alecrim era um português "dos antigos". Não quero dizer com isto que era conservador, e das suas convicções só sei uma coisa: era do Sporting. Vivia no Hoi Fu, mesmo ali em frente do tal café que frequentava diariamente até a sua debilitada saúde lhe limitar as saídas. A última vez que o vi foi no supermercado Welcome, mesmo ao lado do prédio onde vivia, e já lá vão uns bons dez anos. Realmente sim, deve ser isso, pois se a memória não me falha foi no dia em que Portugal jogou com a Inglaterra nos quartos-de-final do mundial 2006. Mas ainda antes disso, e desse momento recordo-me bem, convivi com ele no Hotel Bela Vista, numa dessas recepções do 10 de Junho, onde apareceu a emanar classe, ostentando as medalhas que obteve durante o tempo que serviu a Pátria. Se alguém precisasse de saber uma coisa apenas sobre este homem, é que ele foi um herói de guerra. Sim, o sr. Alecrim esteve em Goa durante a queda daquela antiga possessão ultramarina portuguesa, e chegou mesmo a ficar cativo do exército da União Indiana. Quem estiver interessado na sua nota biográfica - e garanto que vale a pena espreitar - pode vê-la aqui e aqui. E há muito mais, basta procurar pelo seu nome em qualquer motor de busca, e não há que enganar. Até nisto ele é especial.
Gostaria de deixar os meus sentidos pêsames à família enlutada, e pedir-lhes que desculpem esta minha ousadia, mas pronto, não consegui resistir, e espero que não me tenham levado a mal. Todos partimos um dia, uns atrás dos outros, enfim, é deprimente, deveras. Mas como os invejo, meus amigos, que nesta hora tenham tanta, mas tanta coisa para recordar deste vosso ente, e tenho a certeza que quando o fizerem será sempre com um sorriso, também, e nem uma gota de ressentimento. Obrigado por ter sido quem foi, Alberto Alecrim. Até um dia destes.
Obrigado, o meu avô ficaria honrado pelo seu testemunho.
ResponderEliminarTambém o recordo com saudade e, claro, um sorriso...
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