sábado, 10 de setembro de 2016

All that useless beauty (in the Macau Cultural Centre)



Elvis Costello, nome artístico de Declan Patrick McManus, subiu ontem à noite para um espectáculo de hora e meia durante a qual nos levou por alguns dos melhores momentos da sua carreira de quase 40 anos. Custa um bocado à malta nova acreditar que aquele "nerd" de 62 anos foi um dos pioneiros da cena "punk" britânica e um dos "frontman" da transição para a "new wave" em finais dos anos 70, mas lá está: as aparências iludem. Eu nasci fora de tempo para me recordar do tempo em que Elvis Costello era uma referência, e a primeira vez que ouvi sequer falar dele foi já em meados dos anos 80, quando produziu aquele que é provavelmente o meu álbum preferido, "Rum, Sodomy & The Lash", dos The Pogues. Foi também durante a produção do segundo LP dos Pogues que Costello conheceu a sua segunda mulher, Caitlin O'Riordan, que era baixista da banda de Shane McGowan, que deixaria para se dedicar a tempo inteiro a ser a sra. Costello. Hoje o cantor é casado com Diana Krall e tem com a também cantora gémeos de 9 anos de idade, detalhes da sua vida pessoal que nos deixou saber durante um dos muitos momentos em que preencheu o intervalo entre cada tema com um monólogo, por vezes de conteúdo narrativo, outras vezes humorístico. Pode-se dizer que o artista tem um sentido de humor subtil, não fosse ele um britânico de gema, mas sinceramente dispensava-se a risota por tudo e por nada que algum do público não amiúde soltava cada vez que Costello contava um episódio da sua vida. Era para mostrar que sabiam inglês, era? Bah. Passando então ao que interessa: a música.



O concerto abriu "uptempo" com "(Angels Want to Wear My) Red Shoes", seguidos de mais umas temas à guitarra, a maior parte deles com a respectiva história sobre a sua origem contada pelo próprio Costello, e assim de repente lembro-me de "Less Than Zero" e "Accidents Will Happen", este último do disco "Armed Forces", para mim o seu melhor registo com os Attractions. Foi portanto com um deleite para mim a rendição de "Oliver's Army", desse mesmo álbum, que foi a primeira canção com Costello ao piano, logo depois de "Veronica", que também é uma das minhas preferidas. De volta à guitarra, e já de volta aos temas "da pesada", veio "Watching the Detectives", seguindo-se um momento de interacção com o público ao som de "Allison", que foi a primeira canção que escutei dele, se não contar com "The Other Side of Summer", que não cantou, e ainda bem. Pelo meio veio o "doce" para os que conhecem menos bem o reportório de Costello, "She", da banda sonora do filme "Notting Hill". A certo ponto o cantor e autor, que demonstrou ainda ter uma grande energia, falou do seu pai, Ross McManus, também ele músico. Quem for saber mais sobre este, vai entender melhor onde se enquadra o estilo do filho, que é uma continuação do pai, num progressivo avanço desde o "rock" psicadélico dos anos 60, até ao "soft rock" deste século. O seu filho mais velho, do primeiro casamento com Mary Burgoyne, é comediante.



Gostei bastante dos "encores", especialmente de "(What's so funny 'Bout) Peace, Love and Understanding" (também do álbum "Armed Forces", lá está) que curiosamente não é um tema da autoria de Costello, mas de Nick Lowe, e o concerto terminaria tal como começou, com o "rockeiro" "Pump It Up". Dos êxitos dos anos 70 só ficaram mesmo de fora "(I Don't Want to go to) Chelsea" e "Radio Radio". Não houve Bacharach, como escutei alguém pedir (provavelmente esperando "I'll Never Fall in Love Again", se bem que pessoalmente prefiro "Toledo", de entre o trabalho conjunto dos dois). Foi um serão bem passado, e fiquei a saber também que Macau foi ponto de paragem de uma digressão asiática que passará amanhã por Singapura, e quarta-feira por Taiwan. Foi bom tê-lo por cá, agradeço a atenção de quem se lembrou de o trazer, e agora a pergunta: para quando temos cá o Tom Waits?


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