terça-feira, 30 de agosto de 2016

Voo não...ia!


De todos os festivais de Verão que se realizam anualmente por esta altura em Portugal, nenhum tem o mediatismo da "Greve dos Trabalhadores da Segurança dos Aeroportos", que dos eventos que marcam o fim da época estival, conseguiu bater a própria  Festa do Avante!. O palco principal é o Aeroporto da Portela, e a data pode ser variável, mas não há nada que enganar: é sempre no último fim de semana de Agosto. Como? Se essa é a altura em que muita gente regressa de férias e por isso os aeroportos ficam para lá de saturados, e marcar uma greve exactamente nessa data é um convite ao caos? Ora essa, e será que há alguém tão ingénuo ao ponto de pensar  que se trata aqui de alguma coincidência? E qual é mesmo a razão de se fazer greve, afinal? Um peido e um copo de água. Isso lá  notícia comparado com a tragédia lusitana que sobe ao palco do aeroporto?

Quem já sabe o que a casa gasta e mesmo assim ignora a recomendação para estar no terminal onde vai apanhar o seu voo 4 horas antes da partida não tem desculpa - anda mesmo a pedi-las. Isto não significa que os mais atentos e pontuais tenham razões para ficar satisfeitos, pois mais uma vez são tratados como gado nos "check ins", na imigração ,  nos pontos de controlo da segurança, e mais no raio que os parta deste engodo que representa pagar um balúrdio por um serviço e ser tratado como se tivessem sido estes tipos que nos pagaram a viagem do seu bolso. Acho que nem nos casos em que isso acontece se dá com gente tão amarga, boçal e ordinária como a que trabalha nos aeroportos. Ah e tal, eles trabalham não sei quantas horas e não lhes dão não sei quê, blá blá blá. Sei, sei, e conheço um bom remédio, chama-se "desemprego". Tem as suas desvantagens, é verdade, mas em matéria de horas de trabalho semanais, é imbatível. Que tal?

Falando um pouco mais a sério. Ao escolher o período do ano em que as pessoas têm que tratar das suas vidas e têm sitios onde estar na segunda feira seguinte para reivindicar os seus direitos é uma parvoíce sem pés nem cabeça. Que culpa têm os utentes do aeroporto que o pessoal da segurança e o diabo a sete trabalhe horas a mais, que depois não são recompensadas e tudo isso que depois ninguém sabe nem  quer saber, porque aquilo que é notícia são os passageiros desesperados a verem as suas vidas a andar para trás, sabendo que vão perder o seu voo, apesar de terem comparecido no local de embarque, só para deparar com balcões vazios e o desespero a aumentar à medida que se aproxima a hora da partida? E será que pensaram na imagem que transmitem para os estrangeiros a tiveram o azar de fazer escala no nosso país, ou que por lá passaram também em trabalho? Sim, as outras pessoas trabalham, e com toda a certeza que não vão angariar a sua empatia para os vossos problemas causando-lhes transtorno. E os vossos colegas que asseguraram os serviços mínimos e levaram com tudo em cima, e além do trabalho extra ainda precisaram de expiar o queixume dos passageiros?

Voos a sair com a maior parte dos passageiros retidos no "check in", outros que se atropelavam feitos selvagens quando abria um balcão, outros que chegavam ao portão com cinco minutos atraso e eram impedidos de embarcar, restando-lhes ficar a assistir ao seu avião a levantar voo, e a pensar que solução dar às suas vidas. Sinceramente, quem é que pensou que isto ia dotar os trabalhadores de seja lá o que for de "capacidade negocial" com o patronato? Mesmo esses não vão fazer mais nada do que assobiar para o lado como se não fosse nada com eles, pois quem se vê numa situação como aquela que as televisões mostraram durante o fim de semana, a última coisa que vai pensar é nas razões ou a falta delas por parte destes filhos da luta. Imaginem o que seria se a protecção civil resolvesse fazer o mesmo durante o periodo mais crítico da época dos fogos florestais? Em vez disso tivemos o exemplo dos bombeiros, que heroicamente combateram os incêndios, sem querer saber durante quantas horas e em muitos casos fazendo-o de forma voluntária, e ainda arriscando a vida. Infelizmente é este o país que temos; de um lado alguém tem que fazer de herói sem querer, do outro ninguém  se quer armar em herói, e quem se lixa é srmpre o mexilhão. E para o ano há mais, têm dúvidas?


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