segunda-feira, 11 de julho de 2016

As contas ajustam-se...en françois!


Portugal ganhou o Euro - até que enfim, porra! Devíamos ser o único país da Europa ocidental que nunca tinha levado um caneco daqueles para casa. Afinal já a Holanda, Dinamarca e Grécia (atj a Grécia, valha-me ?, Deus dos agnósticos) tinham ganho um Euro. E antes deles a Checoslováquia, antes das duas se zangarem, e o primeiro foi ganho pela União Soviética, e bem vistas as coisas isso quer dizer que 14 (catorze) países ganharam um Euro antes de toda a gente - sim, até o Azerbaijão, pá! E foi na França que ganhámos. E contra a França, ainda por cima. Se estiver a sonhar não me acordem, por favor. Não me belisquem, não façam barulho, não se preocupem se eu já comi ou se estou mijado, esqueçam - deixem-me continuar a sonhar. Este é o tão aguardado orgasmo da queca mais longa da História - futebolisticamente falado, claro. 


Aqueles que são velhos como eu devem lembrar-se deste amargo momento, já lá vão 32 anos. Pois é, como o tempo passa. Mesmo os mais novos são capazes de estar a pensar: "aquele gajo não é o tal que era presidente daquilo e agora foi obrigado a demitir-se por corrupção, ou lá o que é?". Isso mesmo, é o Platini, que devia antes chamar-se "Platinão", para rimar com "cabrão", percebem? Assim era mais musical e tudo: "O cabrão do Platinão", que podia ser o final da frase "Tinha que marcar aquele golo aos 119 minutos...o cabrão do Platinão". Quem por acaso tinha o nome terminado em "ão"...


...era o Jordão. Rui Manuel Trindade Jordão, o meu primeiro ídolo futebolístico, aqui na imagem com Jean Tigana, "um francês qualquer". De todos os jogadores que disputaram os seis Euros antes deste finalmente glorioso, é o Jordão quem mais merecia o título. Recordo-me como se fosse ontem, aquele dia 23 de Junho de 1984, tinha eu 9 aninhos. Assistia ao jogo da meia-final do Euro 84 em casa, Montijo, e Portugal defrontava a França, que tal como ontem, era o país organizador. Era o primeiro torneio da nossa selecção desde o memorável Mundial de 66, o que vale por dizer que era o primeiro a que assisti, depois (e antes) de uma longa travessia do futebol português - dois anos depois veio Saltillo, e foram dez anos sem que Portugal se qualificasse para coisa nenhuma. Depois de uma primeira fase onde conseguimos surpreender obtendo a qualificação em vez da Alemanha, ninguém dava muito por Portugal, que defrontava uma equipa da casa motivada, vinda de vitórias 1-0, 5-0 e 3-2 contra Dinamarca, Bélgica e Jugoslávia, respectivamente. E os piores receios pareciam confirmar-se quando um tal Jean-François Domerda (era Domergue, mas digam lá se assim não fica melhor?) inaugurou o marcador. Só que os patrícios - assim se chamavam aqueles tipos, muitos deles de bigode, que tinham a missão de honrar os magriços de 66 - começaram a jogar à bola "mesmo a sério", e depois de um golo que obrigou ao prolongamento, Portugal colocou-se me vantagem aos 8 minutos desses trinta suplementares, e com ambos os golos a serem apontados por Jordão. Confesso, por ser verdade confesso: vieram as lágrimas aos meus olhinhos pré-púberes, lágrimas de alegria, meus senhores. Mas pronto, depois veio o tal "fado" que nunca mais nos largava, e o tal cabrão do Platinão marcou em cima dos 120, depois do mesmo Jean-François Domerda fazer o empate. Sabiam que esse gajo era defesa, jogou nove vezes pela França e aqueles foram os únicos dois golos que marcou? Já viram o nosso azar? P... que o Paris.


Pelo menos deu para ficar "vacinado" para o que vinha a seguir. Em 28 de Junho de 2000, dezasseis anos depois da decepção com o carimbo do Platinão e 16 anos antes desta gloriosa jornada que só peca por tardia, deu-se mais um "rendez vous" com os franceses, e com prejuízo para..."nous", e outra vez numa meia final de um Euro. O palco foi o Estádio do Anderlecht, em Bruxelas, e Portugal vinha de "partir aquela m... toda", com um meio campo de encantar, com Figo, Rui Costa e João Vieira Pinto, e um Nuno Gomes inspirado lá na frente, a "atinar" com as redes adversárias. E voltaria a atinarrativa,  nesse jogo, batendo Fabian Barthez logo aos 19 minutos, dando aos portugueses a esperança de chegar finalmente a uma final, o que só aconteceria quatro anos depois, quando nos vimos gregos. Mas depois pronto, o destino é como aquele carteiro libidinoso interpretado pelo Jack Nicholson no filme que levou exactamente esse nome, e bateu uma segunda vez; Henry empatou já na segunda parte e seria novamente no prolongamento que os franceses nos deram outra baguete - com a ajuda de um NAZI, minha gente! Sim, aquele indivíduo que está a ser acossado na imagem em cima por jogadores de Portugal é um tal Günter Benkö, "árbitro" austríaco - NAZI, portanto - que "viu" a 3 minutos dos 120 uma mão na bola de Abel Xavier, que é o indivíduo com aparência de extraterrestre que está de frente para ele. Como um azar nunca vem só, o "penalty" decidiria o encontro, uma vez que vigorava a regra do golo "dourado". Aqui entre nós, aquilo até é "penalty", ok, mas para assinalar uma coisa daquelas que para se descortinar em casa  foi preciso ver não sei quantas repetições, era preciso QUERER que fosse "penalty". Seja como for, um tal de Zidane,  que é actualmente o treinador do Real Madrid, converteu o castigo e lá fomos outra vez para casa com um sabor amargo na boca.


Entre Euros, tivemos em 2006 outro encontro com a França, outra vez numa meia final, mas desta feita num Campeonato do Mundo. Pois pois, perdemos 1-0 e tal, e o tal Zidane estava lá outra vez, mas o que se retém dessa aventura foi esta imagem que vemos em cima, onde o tipo perde as estribeiras e dá uma marrada no defesa italiano Materazzi, já no jogo da final. Ah é verdade, a França perdeu nos "penalties" e aquele seria o último jogo da carreira de Zidane, que teve assim uma despedida inglória dos relvados - eu diria até vergonhosa. COITADINHO!


Mas ontem é que foi pá! Eder, aquele rapaz bronzeado do calor da Guiné Bissau chateou-se com aquela m..., entrou, não sei se viu, mas venceu! Venceu por eles, venceu por nós. Pelo Jordão e pelos gajos de bigode, pelo "extraterrestre" Abel Xavier e os bravos heróis de 2000 que "mereciam" mais, pelos outros de 2006, que deram de frente com o "marrado" do Zidane. Foi um remate em cheio nas trombas desse, mais de cabrão do Platinão, do Jean-François Domerda, do NAZI Günter Benkö, de todos, pá, mas de todos que se meteram no nosso caminho destes 32 anos de francofobia. Veio da Guiné e marcou com o pé!


PARABÉNS, PORTUGAL!

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