domingo, 22 de novembro de 2015

Novo velho mal, a má nova do velho



Eis o mal em pessoa. Se eu alinhasse em teorias da conspiração diria que Marine Le Pen é a principal responsável pelo atentado da última sexta-feira, em Paris. "Moralmente pode ter alguma parte, sim", dirão alguns, mas eu quero dizer mais do que isso. Não ao ponto de dizer que ela carregou no detonador, ou sequer que sabia antecipadamente dos ataques, mas tenho quase a certeza que ela já esperava alguma coisa assim. O fim-de-semana passado foi um ver-se-te-avias de Le Pen nas televisões, enquanto a Europa tremia perante a ameaça de novos atentados - que nunca aconteceram, apesar da seriedade com que alguns foram encarados. Interessante ainda os dois "faux-pas" em Bruxelas e Hannover na quarta-feira, em dois jogos particulares entre selecções, que não passaram de falsos alarmes. Falsos alarmes? Então esse Estado Islâmico não é suposto querer rebentar com isto tudo? Então do que é que estão à espera? 


Olha que anjinho, a receber os maometanos com um beijinho - mas só os que nasceram em França, atenção! Mas que confessam a religião islâmica, coitadinhos, mas são "franceses em primeiro lugar". Vamos guardar esta ideia dos "muçulmanos franceses", e agora vejam a data desta notícia: 10 de Outubro, há pouco mais de um mês. E fala de uma vez que Le Pen se referiu aos muçulmanos a rezar nas ruas comparando-os com "os nazis durante a II Guerra Mundial". Isso queria ela! E de facto, esta comparação...


Valeu-lhe uma ida a tribunal, para responder por "discurso incitando ao ódio". É o que ela faz com uma alternância de "integradora". Isto foi no dia 20, oito dias depois de ter estendido a mão aos "muçulmanos franceses". E reparem como ela diz que este julgamento é "uma violação da liberdade de expressão", do direito de chamar "nazis" aos muçulmanos - o paizinho dela chamava-lhes de "cães", o que também deve ser uma "opinião" que ele é "livre de expressar". Aqui estes tipos dos grupos anti-racismo e associações de imigrantes caíram que nem uns patinhos: se for condenada por chamar alguém de "nazi", quem é que a vai chamar a ela de "nazi" sem cair numa contradição? Ela odeia tantos os nazis, que chamou os outros que tanto odeia de nazis. Se a sra. Le Pen pensa que ninguém a chama de "nazi", vão chamá-la de outro nome, mas só depois dela acabar de fazer de "nazi". Por falar em Le Pen e nazis...


Recuemos a Abril deste ano: Jean-Marie Le Pen não está contente com a direcção que a filha deu ao partido, promete "suicidar" o FN se for expulso, e logo a seguir Marine "veta a candidatura do pai às eleições regionais de Dezembro - do próximo mês, portanto, a 6 e 13. Ah mas que atitude corajosa,  privando o pai maluco de participar numas eleições aos 86 anos, e depois dele ter cumprido uma das tradições do seu partido: legar o holocausto, que no fundo é parte de uma das plataformas da FN: o anti-semitismo. Isto só pode querer dizer que Marine Le Pen é uma grande democrata que não odeia ninguém; é uma defensora dos franceses...e agora a grande mentira em que toda a gente acredita, DOS EUROPEUS. Dos muçulmanos já sabemos que não é, porque...


...vai fechar as mesquitas, com o pretexto da segurança. E quer que a França recupere o controlo das suas fronteiras? Que decisão tão europeísta, para a Europa lhe bater palmas pela coragem com que "enfrenta o terrorismo" - era o enfrentas. Mas atenção: só as mesquitas radicais, que ela diz ir fechar. E há outras?


Este comentário de uma ministra francesa em 2011 faz-nos saber que esta discussão do "islão moderado" não é nova. A senhora diz que a situação é "inquietante", e deve saber do que fala, pois é de "origem árabe". Ah, eu também, mas podia ser de origem madeirense, ou islandesa, porque "árabe" não é a mesma coisa que "muçulmano" - é uma pessoa natural da Arábia, da península arábica. Os países do magrebe, que são os três que a notícia refere: Egipto, Tunísia e Marrocos, que não são árabes no sentido geográfico, mas sim étnico, ou seja, são do mesmo pote genético, religioso e cultural, com algumas diferenças, dos naturais da Arábia  - a língua oficial é a mesma para todos, o árabe. Os cristãos coptas do Egipto, por exemplo,  podem-se incluir na categoria de "árabe", pois é a língua com que comunicam, e dão a missa cristã, onde Deus se diz "Allah". Ser de origem árabe e tecer este tipo de considerações sobre o Islão pode dar a entender que se fala com "conhecimento de causa". Como já elaborei agora mesmo, não necessariamente. 


Voltemos a Abril deste ano, quando Le Pen ainda era apenas vista como "extrema-direita e herdeira do nazismo", e ainda não "a protectora contra o horrível Estado Islâmico". Alguém me explica o que é que não querer comer alguma coisa tem a ver com religião? "Ah sim, sim, pensam que isto é o Islão ou quê? Querem não comer porco, vão...". Acabem essa frase para mim por favor, é que eu não consigo imaginar o que é "não comer" seja o que for; acho que "nunca comi". Além do mais, fico sem saber de que religião são os vegetarianos (e há vegetarianos adolescentes sim, e logo em França), ou se também vão passar fome. "As ementas das escolas não devem ficar reféns de preceitos religiosos", diz ela, como se alguém tivesse pedido alguma coisa: havia um prato e uma alternativa, e agora passa a não haver alternativa? Mesmo que alguém considere comer carne de porco sinal inequívoco de civilidade, e ausência de barbárie, não se trata de nenhuma imposição - impor seria fazer outra coisa para atender ao capricho religioso, e assim são todos obrigados comer o mesmo, sem alternativa, e a julgar pelo fervor vai ser todos os dias porco. Esta ameaça - provocação seria questionar, aqui ela já vem dizer o que faria no lugar da escola  - serve exactamente para quê? Aproximar-se dos "muçulmanos franceses", que também têm esse tabu alimentar, ou combater o terrorismo? Eu não vejo mais nenhuma proposta dela que não tenha uma intenção de "lixar" os mouros. Mesmo os franceses, claro.


Uma sondagem publicada há dias fala de uma vitória nas regionais para Front National, com 27% das intenções de voto. Apesar de ser mencionado naquele artigo que os atentados de sexta-feira 13 tiveram "influência na tendência de voto", uma outra sondagem realizada um mês antes deu-lhe a mesma percentagem, e desde o início do ano que se vem falando de uma vitória de Le Pen. Nada de preocupante, pois estas eleições são um "think locally", pois para as presidenciais ainda falta um ano e meio, sendo seguro que estas eleições serão ganhas por ela...


...quando é que vai tratar daquele que é praticamente o seu único cavalo de batalha, o Estado Islâmico. Todos os dias ameaças, todos os dias terroristas infiltrados entre os refugiados, e quanto a esta última parte, quanto mais se especula, mas vídeos confirmando isso mesmo chegam. A propósito, já que o medo se justifica pelos vídeos a anunciar que vão "atacar", e sempre para "muito breve", onde é que está o vídeo com a ameaça dos atentados de sexta-feira, os únicos que levaram a cabo? - sem contar com aquela "islâmica" que chutava prá veia que se fez explodir no outro dia. E ameaças, mais ameaças, e ainda mais ameaças. A quem?


Há 3 dias apenas: ela exige medidas que durante anos nunca foram possíveis de imaginar tomar em França,e mais uma vez, tudo pelo terrorismo, sempre com o Estado Islâmico à proa. Em cima podemos ver uma outra notícia que fala de uma manifestação organizada por uma associação anti-imigração na Alemanha. Recorde-se na Alemanha não podem existir partidos cuja orientação seja a da FN, mas existem outros "parecidos", mesmo que com pouca expressão nas urnas. Não me parece assim tão relevante que hajam outros grupos a manifestar-se, pois têm aparecido como efeito colateral do pânico, e se que este vem aumentando, é normal que aumentem essas manifestações. O mais assustador de tudo isto é a dependência da sra. Le Pen pela presença da ameaça terrorista, e ainda mais bizarro se torna quando sendo a única pessoa que ameaça directamente com retaliação  SE FOR ELEITA, anuncia medidas para deter a imigração, e até conhece um tipo que "é terrorista" e "entrou com refugiados", vai para onde quer e anda como quer, como se não temesse o EI! Vocês que não são ninguém e tratariam o EI por "exmo. sr. dr. terrorista" se deparassem com um pela frente, estão de cabelos em pé com possíveis atentados, malas no chão, objectos abandonados, e ela, que diz querer encerrar as fronteiras quando os terroristas garantem que "vão atacar na Europa", e têm a "islamização" em projecto, devia ser o seu alvo nº 1! Não, desculpem -me os apologistas de uma eventual identidade secreta da sra. Le Pen como Power Ranger, mas é suspeito que desde a mesma noite que ocorreram os atentados tenha sido a estrela do baile, e com tantas ameaças do EI com mensagens ambíguas, já devia era estar escondida debaixo da cama. 


E porque não está? PORQUE MENTE! Vejam nesta entrevista na Radio Inter France na quinta-feira como ela foi apanhada em falso, ao ter citado a ministra da justiça francesa de forma manipulativa, e vejam ainda a reacção dela. O apresentador do programa confronta-a com uma frase que ela diz, no contexto do Governo francês estar a ser "demasiado brando" com a crise, com a ministra da justiça Christiane Taubira a dizer "temos que entender os jovens que foram para a Síria", e depois de ladrar coisas como "porque foram, ora essa, são criminosos, assassinos, bau bau bau", o costume, e posto isto diz que "entender os jovens é o trabalho de um assistente social, e não de uma ministra", concluindo que Taubira "devia demitir-se". O locutor Patrick Cohen questionou a interpretação das palavras da ministra da parte de Le Pen, e ela, já vociferando, ia dizendo que "não, não" enquanto prometia mais porrada nos terroristas e em toda a gente que os apoie mais aos refugiados. Boa! Foi aí que Cohen passou a gravação com as declarações de Taubira, onde se ouve a ministra dizer: "Temos que entender O PORQUÊ dos jovens sairem"! Está ali tudo, podem ouvir! Vão dizer o quê, que "não faz mal", porque ela "diz as verdades", como vi por aí em 3000 comentários? Bem, aqui mentiu, e foi confrontada com isso e ficou furiosa. Quem me diz que "as verdades" são mesmo verdade. São, claro que são, e sabem o que mais? O bêbado da taberna da esquina também "diz verdades" e não votam nele se concorrer a presidente, pois não? Quer dizer, alguns votam, poucos, pobres diabos, e há os que dizem que votam, mas à última da hora mudam (felizmente) de ideias.

Se alguém que ainda não está inebriado pelo charme da ideologia bacoca que esta senhora defende responda-me a isto: 1) quando é que ela vai apanhar os bandidos e 2) depois disso, vai fazer o quê para valer a pena metê-la como presidente? 


Reinstaurar a pena de morte e DECAPITAR os terroristas? Quer dizer que os terroristas que cortam a cabeça às pessoas vão ter a cabeça cortada por OUTRA TERRORISTA? "Oui, oui, faz sentidô, la dernier fois qui nous chop-chop la tête fui avec guilhotinaaa...assim a última ficar primerra". - esta é a lógica de quem vai pagar as gasosas no clube de crochê: "Primeira semana paga a Lita e a Coca, terceira semana a Coca e a Vina, e no fim, a Vina, e como a primeira foi a Lita....". Isto em política, é mau. Nós podemos até querer muito ver os terroristas sofrer, paradoxalmente comportando-nos como eles, mas isso é o que sai da boca para fora em tempos de "azedume", pois quando é para fazer abaixo-assinados para libertar os condenados à morte de Bali ou levanta-se o debate sobre a pena capital, não faltam pessoas "nervosas" que escrevem lindos poemas que começam com "A vida foi Deus que nos deu/Só Deus pode tirar". Ahem.  Ok, digamos que batemos palminhas como as focas quando a cabeça dos terroristas cair no cesto de vime, e os franceses estiverem todos na Praça da Bastilha de ceroulas e peruca branca com caracóis a berrar "oueeee, oueeeee", muito bem. E depois de tirar a carica aos terroristas todos, como é? Fica a pena de morte em vigor, e pode ser que ele encontre outros terroristas de outro terror que não é assim tão terrível, faz o mesmo, e se for alguém inocente, tem direito a julgamento, pois, pois, o que é que pensam? Só que no outro parágrafo fica bem patente as novas "interpretações" que vão por ali aparecer. Cuidado.

Não vou entrar em alarmismos desnecessários, pois normalmente estes castelos de areia a maré os leva. No posso é deixar de fazer comparações com este uso da informação e contra-informação com outro personagem defensor da mesma ideologia. E os tempos são outros, mas com internet para poder desmentir certas "falsas verdades", há quem insista em lhes dar crédito - não admira que tenha tentado tirar "nazi" da frente, mas a gente chama na mesma. Espero que pelo menos os neo-europeus se vão convencendo que com ela no poder e a possibilidade da França deixar a EU em cima da mesa, quando forem a França vão esperar na Alfândega como toda a gente. Mas ainda bem que não vai votar gente tão "nervosa". Ainda perdia a cabeça.

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