segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A imagem refrescou, mas o (velho) Sumol é o mesmo



É simpático quando voltamos depois de um período de férias mais ou menos prolongado e damos com as coisas "diferentes" de quando as deixámos. Fui já de madrugada ao supermercado comprar refrescos e deparei com a nova imagem das latas de Sumol, a marca rainha dos sumos "Made in Portugal", sempre na vanguarda e pelo menos uma cabeça e um par de ombros de vantagem sobre os seus rivais da Trinaranjus e da Compal, os outros dois dos "3 grandes" do sumo nacional. Pode-se dizer que achei....diferente. Isto é daquelas coisas que a gente se vai habituando devagarinho.


Longe vão os tempos da primeira garrafa, esta de 1954, que segundo o meu pai custava oito tostões. Eu não sei muito bem o que isso vale à cotação actual, mas "naquele tempo" vinte escudos "chegavam para os nove dias das Festas de S. Pedro do Montijo". O meu pai falava uma linguagem numismática completamente alienígena, e os tais vinte paus que o meu avô dava lá para depois de S, João eram "vinte mil réis", o que parecendo muito, vale exactamente o mesmo que uma pataca, hoje. Ficava intrigado quando ouvia dele coisas como "deixaste cair cinco coroas", e tudo o que via no chão era uma daquelas antigas moedas de 2$50, ou vinte e cinco tostões. Para ele eram cinco coroas, ou seja, 50 centavos, uma daquelas rodelas feitas de bronze, com duas espigas na  coroa e um "50" tamanho família na frente, e a que ainda assisti à depreciação, desuso, e consequentemente extinção. Ele era do tempo em que essa moeda, que no Ciclo Preparatório "atrapalhava" e eu chegava a andar com os bolsos cheios delas, valia alguma coisa. Em 1950 e troca o passo, quem ficasse a dever 50 centavos a um amigo num dia, a primeira pergunta que ouvia desse amigo no dia seguinte era "onde é que está aquela coroa que me ficaste a dever ontem, ó meu bardamerdas do c..." (é possível que nos anos 50 os cumprimentos entre amigos quando se viam fossem um pouco menos "in your face"). O meu pai faleceu no tempo em Euro substituiu o escudo, por volta de 2001, acho que se pode dizer que partiram juntos, e o meu pai nunca conheceu outro numismal. Nunca se iria adaptar ao euro, demasiado arredondado para os heróis que sabiam que moeda era 23 vezes o valor da outra - passo e exagero - e como é que ia entender que 1 euro são "duzentosmirréis" (200 mil reis em aldeano)?


Assim nasceu o Sumol, em tempos de corporativismo, e da fábrica na Vialonga saía o "sumo do Império", e até esteve para se chamar "De Minho a Timor", mas numa estratégia de "marketing" de última hora, que se poderia considerar hoje "genial" ou "suicida", dependendo do resultado, decidiram chamar-lhes antes "Sumol". Nunca tanto poder saiu ou alguma vez sairá da Vialonga ("Longway", em inglês), que fica lá para Papos de Cona, ou Vila Franca de Xira, ou que é. Se vos disser que a Sagres também é ali feita, pode-se dizer que a Vialonga foi o verdadeiro centro de controlo durante e já depois do fim do Império, saindo dali a esmagadora maioria do que os portugueses bebiam. Ainda pensaram em levar para lá as Termas do Luso, mas abandonou-se a ideia, sempre muito pouco prática (é lá coisas com os cemitérios, e isso).
E antiga garrafa durou e durou, e nos anos 90 ainda se encontravam em certos cafés. Para baralhar os coleccionadores, a central da Vialonga encomendou diferentes tons de vidro, uns mesmo bastante escuros, quase pretos, e a prensagem vinha numa espécie de tinta-giz branca, sempre com datas diferentes, e uma composição bastante patusca, onde se lia coisas como "estabilizador: goma de guar e concentrado de cenoura (já sabes dos benefícios da cenoura roxa? não faz mal, eu também não). Era a bebida do último terço do Estado Novo: Futebol, Fado, Fátima e Sumol, que ficava sempre omitido desta trindade, por não se chamar "Fumol". E eles bebiam enquanto cantavam "Ena, lá vamos cantando e rindo". As etiquetas de papel desumolizaram o Sumol (não "desumanizaram", uma vez que...exacto), e para além disso são uma m...que ficavam empapadas e escorregadias com a água que vertia da garrafa, fruto da pujança dos...frutos.


Depois vieram as primeiras latas (quem é este javardo, que limpa o rabo às latas?), e desde que lembro existir e até vir para Macau, existiam dois sabores: laranja e ananás, e "mánada". Do Tri-Naranjus ainda apanhei laranja, que era bem jeitoso, dois que não me enchiam as medidas, que eram o ananás e a maçã, e aquele que eu mais gostava, de longe, o Trina limão. No entanto a Sumol manteve-se durante quase os seus primeiros 40 anos de existência com dois sabores clássicos do refrigerante com aquele gás imbatível, tão discreto e refrescante, até que...


...chegou o Sumol Maracujá, que só foi revolucionário por ter aparecido. Quando se bebe lembra um perfume, daqueles muito intensos que as quarentonas usam, que se lhes damos duas jocas, ficamos com a boca a saber a cosméticos o dia todo. O que não lembra a ninguém é fazer um produto da natureza do sumol com um fruto que não tem o sumo ou consistência da polpa que a laranja e o ananás têm. Como se isso não bastasse...

...fizeram o Sumol Manga, com o mesmo problema do Maracujá. Aqui o sabor era mais a cera para soalhos de madeira. 

Finalmente um triunfo, o Sumol de Limão, aqui na versão em lata, e numa embalagem que poderá muito bem se confundir com a marca de detergente para a loiça Sonasol (um produto da Henkel Ibérica Portugal, sediada não em Vialonga mas na Bobadela). Este Sumol limão era de longe bastante melhor que os dois anteriores, ao nível do Sumol de laranja, talvez, mas o de ananás continua imbatível, número uno. Até mesmo aqui em Macau os chineses preferem o Sumol de ananás, que ganhava em promover-se um pouco mais nesse segmento de mercado, uma vez que o consumidor de cá não compra porque o que não conhece, mas até hoje todos os que dei a provar gostaram bastante. As 30 e tal gramas de açúcar a dose é que também não dão uma grande ajuda, diga-se de passagem. 


Entretanto, e numa de estratégia de penetração nos mercados africanos da Lusofonia e arredores juntou-se a goiaba à já existente manga e apareceu o Sumol Tropical, num produto fabricado pelo Compal-Sumol, uma parceria que nos brindou também com o Sumol Zero.



E este ano, em Março, foi anunciado o Sumol morango, um investimento de três milhões de euros em produção, e que por acaso me deixa um tanto ou quanto curioso - fã de "strawberry mojitos" que eu sou.


O próprio logótipo da marca também evoluiu, agora para uma perspectiva mais "fruit ninja", mas é mesmo assim: a capa muda, mas lá dentro é sempre o mesmo Sumol, made in Vialonga, Portugal. From Longway to the rest of the world.


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