quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os ingleses são burros (e eu tenho razão!) - parte I


"O que nos diz esta fotografia a respeito da questão racial na Grã-Bretanha?" - perguntava o Daily Mirror, um daqueles tablóides britânicos onde o jeito para espalhar rumores, a capacidade de fomentar intrigas e de fazer interpretações mais do que livres de palavras, actos, e neste caso imagens, são um requisito sine qua non para que se pertença aos seus quadros. O que pode uma simples fotografia dos jovens da selecção de Sub-21 de Inglaterra a tomar uma refeição dizer da "questão racial na Grã-Bretanha"? Vêem-se por acaso ali farricocos e cruzes a arder? Saudações romanas ou o célebre punho estendido dos Panteras Negras? Cruzes suásticas ou célticas, ou qualquer outra simbologia conotada com movimentos extremistas conhecidos pelas suas posições anti-imigração, vociferando o descontentamento pela descaracterização do seu povo em nome da "multiculturalidade"? Não, vê-se uns jovens a comer, aparentemente num hotel, e não parecem existir quaisquer sinais de animosidade  ou descontentamento entre eles. Fazem uma cara séria, certo, mas talvez porque estão a disputar o europeu de futebol da sua categoria etária, que se está a realizar na República Checa, e por isso estão concentrados. Deve ser isso. Então o que se passa, afinal? Vejam agora a mesma fotografia ampliada e detalhada:


Vejam só, que horrível! Uma mesa ocupada inteiramente por jogadores brancos, e outra onde só estão pretos! Como sabem, "isto não pode ser", pois segundo as mil e uma associações que inventaram uma treta a que chamaram "racismo", com que plantam o ódio e a desconfiança nos locais mais insuspeitos, e  ainda LUCRAM com isso. Estes tipos deviam ser todos condenados a trabalhos forçados, ora a partir pedra, ora a remar nas galés, para aprenderem de uma assentada o significado das palavras "trabalho" e "escravatura". Segundo a lógica do "racismo", se você reparou que as mesas estavam "segregadas" (se calhar a culpa é dos checos, que colocaram em cada mesa um cartões onde se lia 'baunilha' e 'chocolate'), então você É UM RACISTA! Sim, porque "somos todos iguais", e por isso o que está a fazer é "descriminação". Se não reparou e achou tudo "normal", então...É UM RACISTA! Pois, senão como é que ia deixar passar em claro este caso gritante de segregação? Auto-segregação? Está a sugerir que se calhar os moços escolheram sentar-se assim porque lhes apetece e este não tem qualquer segundo significado? SEU RACISTA! Os meninos auto-segregam-se porque sabem que se se sentarem na mesa da outra cor (eu  acho isto até quase surrealista..."mesa de outra cor") vai haver merda da grossa. Se o branco se for sentar na mesa dos pretos, estes vão passar a refeição toda a entoar canções de "hip-hop" onde a temática é predominantemente o tratamento injusto dado pelas autoridades, nomeadamente os polícias brancos, que têm essa terrível mania de disparar contra suspeitos pretos. Em alguns casos estes polícias são dotados de visão nocturna e de raio-x, e conseguem disparar contra um suspeito encapuzado, em fuga, de noite e a 50 metros de distância, porque sabem que ele é preto! Até a bala é "racista". Se o preto se senta na mesa dos brancos, estes começam a "humilhá-lo", dando início a uma conversa de teor racial de conteúdo altamente provocatório e imbuída de preconceito, para que o intruso se sinta inferiorizado e nutra a semente que perpetua uma tradição secular de ódio - e já se sabe como os ingleses respeitam as tradições.


 E não é só; vejam como esta gente se dá ao trabalho de fotografar os atletas no ginásio, na piscina, nas sessões de ioga e etc., dando ênfase ao facto de brancos e pretos terem a tendência para se juntarem com os da sua cor. E? Portanto, as pessoas são obrigadas a serem acompanhadas por outras mesmo contra a sua vontade? E no campo, como é, os brancos só passam a bola a outros brancos, e os pretos aos pretos? Claro que não, que parvoíce, que gentinha mais ridícula, que devia era ir comer  as caganitas de ratazana que andam por aí a espalhar entre pessoas que têm metas e ambições que em nada se coadunam com este tipo de tricas da treta. Palhaçada.  O que devem sofrer estes miúdos, e o que deve sofrer o treinador, por exemplo. Neste caso também é outro palerma, este:


Calma, não se assustem, que o Júlio Isidro e o Príncipe Carlos não tiveram um filho juntos (que se saiba...). Este tipo que dá imenso jeito ter à mão quando se tem uma lata de conservas difícil de abrir é Gareth Southgate, e além do nome, que parece muito distinto mas traduzido para português fica qualquer como Garrete Portãosul (ah ah!) que o denuncia, vê-se logo que estamos na presença de um inglês puro-sangue - vem com o focinho de equídeo a condizer e tudo. Este tipo, que é actualmente o seleccionador dos sub-21 de Inglaterra respondeu à controvérsia que não é controvérsia nenhuma mas passou a ser, porque ele deu-lhe corda, lá está. E que bosta de resposta, a dele, que garantiu "não existirem barreiras raciais no seu grupo", e não há ali nada disso, e ele próprio jogou com este e aquele, que eram pretos, e esses por suas vezes jogavam com outros, que eram brancos, em suma, uma merda de conversa sem ponta por onde se lhe pegue. Nem tentando dar a volta ao texto se conseguiu safar, dizendo que "o futebol é uma expressão universal, onde não existe diferenciação" e blá blá blá. Tem razão, claro, e quem diz o contrário? O problema é o seguinte: se não existe problema, então qual é o problema? Devia era ter mandado esses "colas" à merda e dizer quem tem mais que fazer. Este gajo é tão bom a falar como a marcar "penalties" decisivos. Não se recordam?


Sim, este Southgate é o mesmo que falhou o "penalty" contra a Alemanha que ditou a eliminação da Inglaterra do Euro 96 frente à Alemanha, e que deixou envergonhado por ter desiludido uma nação inteira - o infeliz. Agora que tem que pegar na fita métrica e na balança para garantir que nas suas convocatórias inclui o mesmo número, peso e medida de jogadores pretos e brancos, bem podia aproveitar para dar um murro na mesa e dizer de uma vez por todas para se acabar com esta palhaçada, com esta ideia infeliz de intimidar as pessoas e condicionar tudo o que fazem e dizem. Mas pronto, estamos aqui a falar de um tipo que jogou durante toda  a sua de futebolista no Aston Villa, na posição de defesa-central, e por isso vou deixá-lo, antes que toda a gente caia para o lado de sono. Falemos antes de outro técnico inglês que andou a braços com esta fantochada do "racismo".


Este é possivelmente um dos expoentes máximos desta espécie de terrorismo enfeitado de palhaçada que é o "racismo", e que demonstra bem como pode ser usado como arma, manipulando o que se diz, e até o que não se diz. Em Outubro de 2013 a Inglaterra garantiu a qualificação para o mundial do Brasil no ano seguinte, vencendo em Wembley a sua congénere da Polónia. Dia de festa para os ingleses, pois muitos tinham dúvidas sobre as capacidades da nova selecção, com o experiente Roy Hodgson encarregado da tão necessária e já demasiado adiada renovação. Só que o The Sun, outra publicação que nos deixa a suspirar pelo que podia muito bem ter sido um muito mais útil rolo de papel higiénico achou que isto não seria motivo de interesse suficiente, e pegou numa conversa de Hodgson com os jogadores no intervalo desse jogo, dando-lhe uma cobertura de "questão rácica sensível", e aquilo é que foi vende jornais, e que se lixe a reputação, bom nome ou carreira das pessoas.


 O que aconteceu conta-se em poucas palavras; no intervalo da partida, o treinador Roy Hodgson destacou a excelente primeira parte do extremo-direito Andros Townsend, do Tottenham, e apelou aos restantes jogadores que lhe passassem a bola nas jogadas de ataque da equipa. Para ilustrar a táctica, recorreu a um exemplo: nas primeiras viagens tripuladas da NASA esses tripulantes eram macacos, que eram treinados para executar as operações mais simples dentro da cápsula onde viajavam para o espaço, que basicamente passavam por apertar botões ou puxar manivelas. Das primeiras vezes que mandaram, os macacos continuavam a ir, e faziam praticamente tudo o que era necessário dentro da nave. Aborrecido por se limitar a observar os macacos a fazer tudo, um dos humanos pergunta à base na Terra se não havia que ele pudesse fazer, ao que lhe responderam "alimenta o macaco". Com esta história Hodgson quis demonstrar como tudo o que os seus jogadores precisavam de fazer era passar a bola a Andros Townsend, ou "alimentar o macaco". Tratando-se de um jogo de futebol, é lógico que ninguém se ia lembrar de dar bananas ou amendoins ao extremo do Tottenham, e qualquer pessoa com dois palmos de testa entende a intenção do treinador da Inglaterra. Todas as pessoas menos uma: um outro internacional inglês, não identificado mas que se assume ser preto, terá encontrado no exemplo dado por Hodgson "racismo", e disse-se "ofendido". E porquê?


O tal jogador que se sentiu melindrado pela analogia de Hodgson - a fazer fé na notícia do The Mirror, que segundo a "maioria informada" foi em grande parte uma fabricação - é o único nesta história, além do tablóide, que faz a associação entre um primata e uma pessoa de pele escura. Reparem na imagem em cima, e escolham com qual destes nossos "primos" se identificam. E  notem como são multicolores, estes nossos parentes distantes, que connosco partilham a classe (mamíferos), a ordem (primatas) e até a sub-ordem (haplorrinis), e nesta última "perderam-se", por exemplo, os lemures, que evoluíram para outra espécie, e assim foi até ao nosso parente mais próximos, o gorilas e os chimpanzés, com quem partilhámos um antepassado comum há mais de seis milhões de anos. Depois fomos cada um para o seu lado: nós pelo caminho da inteligência (nem sempre, e neste caso de modo algum), e eles optaram por comer os piolhos da mona uns dos outros e a exibir o rabiosque vermelho. Opções. Conclusão: temos todos tiques de primata, porque é isso que somos, e não o podemos negar. A associação entre a aparência dos nativos da África e os macacos é uma coisa do passado, quando as pessoas conseguiam ser ainda mais ignorantes que hoje. Basicamente serve para alguns se fazerem de vítimas - foi como a escravatura, de que os africanos falam como se fosse um exclusivo deles e das colonizações.


Posto isto, quer Hodgson, quer os jogadores e em última instância a própria opinião pública ficaram furiosos com a polémica, e acusaram alguma imprensa de "querer relegar o sucesso da selecção inglesa para segundo plano", recorrendo para isso a "calúnias", e recordando que "é sempre assim" cada vez a Inglaterra obtém uma classificação positiva. A equipa técnica e os atletas chegaram mesmo a mandar uma carta de protesto à Federação, expressando o seu descontentamento, bem como o repúdio às acusações dirigidas ao técnico. Com a restante imprensa desportiva do lado da selecção e os grupos que apoiam as minorias e "combatem" o "racismo" a assobiar para o lado, não restou senão ao Mirror retrair-se, pedir desculpa, e dizer que tudo não tinha passado de um mal-entendido. Mas que raio de mal-entendido é este, se nem vão confirmar com a pessoa se ela realmente proferiu as tais afirmações, e ainda por cima no sentido em que as interpretaram? Imaginem que foram ao ponto de ir buscar para a conversa o facto de Hodgson, já no final da sua carreira de jogador, ter jogado alguns meses numa equipa da África do Sul, "em pleno apertheid"! O pior de tudo isto é que imediatamente após ser conhecida a polémica, Hodgson pediu desculpa! Puta que os pariu, eu mandava-os era ir mamar na quinta, e caso isso não fosse suficiente, demitia-me. Imaginem o que é estar a trabalhar sempre a olhar por cima do ombro, com o máximo cuidado para não ofender este e aquele, e ainda ter que pensar duas vezes antes de falar, e tudo sem ter feito mal a uma mosca? É isto o racismo, que os ingleses inventaram.

(continua)


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