quinta-feira, 25 de junho de 2015

Cooo-pingue?! NON!


Este é um excelente exemplo para demonstrar que levamos este mundo a caminho de um abismo sem fundo, e se fundo houver, está todo borrado de cocó. Na França, um palerma de um puto qualquer que fazia os exames de acesso à Universidade encontrou no exame de inglês uma palavra que não conhecia, e por isso toca de mandar um abaixo assinado à ministra da educação a pedir para cancelar o exame - em todo o país, entenda-se. Repito: este é palerma de um puto qualquer em França. Não é herdeiro da coroa tailandesa, e muito menos uma reencarnação do Panchai Lama. Por favor evitem elogiar este jovem biltre, que daqui a uns anos ele apanho-vos em Paris, leva-vos para os copos e pr'às gajas, e na manhã seguinte acordam com o saldo bancário em zeros e a escritura da Torre Eiffel em vosso nome, escrito na tampa de uma caixa de pizza. Alguém detenha este indivíduo antes que resolva ir para político! Socorro, Hercule Poirot! Acuda, Gendarme Cruchot, alguém chama Dupond & Dupont? Ajuda-me Van Damme! (não é preciso que me recordem que estes dois últimos são belgas: eu sei). 

Durante esta semana, a petição foi assinada por mais de 12 mil alunos franceses candidatos a uma vaga no ensino superior - "e porque não?", terão pensado eles, isto sabendo o que o franceses adoram a língua dos vizinhos britânicos, e como a dominam perfeitamente. O autor da paródia, um tal de Arthur, de 17 anos, diz que a palavra em questão "é tão rara e tão pouco usada, que só alguém com conhecimentos catedráticos de inglês poderia conhecê-la". Para este jovem enfant de la patrie, esta palavra, inserida num texto extraído do livro "Atonement", de Ian McEwan, só teria sido proferida uma única vez na história, por Shakespeare, durante uma crise de prisão-de-ventre que já ia bem para lá de uma semana. A palavra em questão é "coping", que quer dizer "encarar", "lidar com" - "John is coping with the death of a relative": "O John está a lidar com a morte de um familiar", ou "a tentar ultrapassar". Os signatários alegam que "não existe uma palavra na língua francesa que corresponda a esta". Eu aposto que existem até várias. Claro que isto é apenas o pé do repolho argumentativo dos miúdos, que têm assim uma boa desculpa para justificar uma eventual nota baixa.

Isto chega até a ser vergonhoso, e só mesmo a célebre rivalidade entre os dois lados do Canal da Mancha podem explicar tanta teimosia por parte dos jovens franceses. Seria o mesmo que se num teste de português surgisse a palavra "concomitante", e um aluno que não soubesse o significado começasse a disparatar: "Com o cu mete adonde, pá! Fosga-se, gandas padrófilos, vou chamaré o mê pai!". E lá chegavam os labrostas ao ME a protestar e exigir falar com o Nuno Crato: "Olha lá, ó panasco, anda cá fora dizer-me na cara que 'tás com o cu mitante, ou lá o quê é, que te encho de porrada e passa-te logo a c'michão, c...!" - urrava o pai, com a boca cheia de broa. "Ai valha-me nossa senhora, que estes malandros 'tão a ensinar prenografia e outras poucas vergonhas aos miúdes!" - acrescentava a mãe, exasperada. Para os franceses pouco importa, pois qualquer palavra que não saia da boca de Jerry Lewis, para eles não é inglês, não existe. Ainda tive a curiosidade de ir ver no Google translator se existia alguma palavra com grafia idêntica em francês que os pudesse ofender, mas nada: "coping", em francês, nada que possa ser interpretado como uma referência a vinhos, queijos e cavalos, os valores que os franceses mais prezam. 

O que é capaz de deixar o comum dos mortais atónito não é tanto a palavra - quem fez a PGA em 1992 lembra-se com certeza da controvérsia gerada pela palavra "prolixo", que constou nos cartazes de protesto como parte da frase "PGA prolixo" - mas a lata do moço, que não sendo capaz de responder à pergunta, vai directo ao ministro da educação. Pimba! isto é como nós chegarmos à caixa multibanco, esta não tem notas menores que 500 patacas (50 euros aí na tuga) e muito decididos exclamamos: "Isto já é demais. Tragam-me o ministro da Economia". O pior é que isto é um sinal dos tempos; qualquer dia os miúdos chegam a um exame e protestam com a professora: "Então isto assim? Uma folha só com perguntas? E onde estão as respostas? Depois admiram-se quando vos parecemos fúteis e palermóides". Ou então olham para folha, perguntam à professora se aquele é o único teste que trouxe, e depois de responder "não", mandam-na para casa redigir outro, "e desta vez traga uma coisa que se perceba, ó sua vaca tonta". E é tendência mundial, no fundo, "não sei o que isso é, portanto não interessa a ninguém (portanto cala-te)", "respeito as opiniões dos outros mas eu é que tenho razão", ou "isto não é meu, pode ir pró c... e desaparecer da face da Terra". Desta vez são franceses, das outras todos nós, às vezes...


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