sexta-feira, 3 de abril de 2015
Big Brother is f***ing you
Quando alguém que rasteja na lama vos diz que "não sabe como isto aconteceu", ou "como foi ali parar", o mais provável é que esteja a mentir, e quer apenas a vossa peninha, um "oh coitadinho", e já agora uns trocados para ir apanhar outro "pifo". É o exemplo desta criatura, um tal Peter Bennett, que há 9 anos era uma das personalidades mais mediáticas do Reino Unido, uma máquina de fazer dinheiro em potência, e hoje é um sem abrigo que depende da misericórdia alheia para poder dormir num qualquer canto da sala, ou com alguma sorte no sofá. A ascensão e queda de Bennett tem uma razão de ser, e que é comum a muitos casos do seu tipo nos tempos que correm: os "reality shows", e neste caso o maior (e pior) de todos eles, o "Big Brother". O mesmo tipo que esteve recentemente no programa de Jeremy Kylem na ITV Network, a contar detalhes da sua ascensão e queda, e depois outra queda, e a seguir mais uma, e em suma, este rapaz agora com 33 anos deu um novo sentido à expressão "do chão não passa" - nós é que não vemos o que está debaixo do chão, e quantas vezes mais se pode voltar e cair, a até que profundeza isso nos pode levar.
Este fenómeno da popularidade da popularidade meteórica trazida por "Big Brothers" e afins explica-se exactamente dessa forma - é como um meteorito: passa a alta velocidade, irradia luz, toda a gente olha, depois apaga-se, cai, e passado uns dias mais ninguém se lembra dele. Mesmo em Portugal tivemos o exemplo do tal Zé Maria, que para começar é um nome parvo para uma potencial celebridade (os "Zé Maria" que me desculpem, não me referia a vocês, pessoas comuns, mas sim às pretensas celebridades com o nome Zé Maria), o primeiro vencedor do "Big Brother", que depois do segundo vencedor ocupar o seu lugar no pódio improvisado da fama temporária das pessoas sem qualquer talento, entrou em depressão, tentou o suicídio (até nisso fracassou, o pateta), e pronto, até desconfio que sem poder exibir as suas macacadas na TV, tentou chamar a atenção dessa forma, rebaixando-se até ao ponto de cessar a sua existência para continuar à tona das revistas da especialidade. Até aposto que a "depressão" dele coincidiu com o momento em que começou a deixar de receber convites para festas do "jet-set" e outros eventos sociais. É um mundo cruel, esse, que mastiga as pessoas e as deita fora quando acaba o sabor, metáfora que o grupo de "rock" Táxi celebrizou no tema "Chiclets". Ora aí está, é isso mesmo que a canção queria dizer.
Agora este Bennett podia muito bem ter-se retirado graciosamente com a chinga de lana (calão mexicano para "pipa de massa") que fez com a sua participação no "reality show", qualquer coisa na ordem do meio milhão de libras, e isto só do prémio e de uma sessão fotográfica para uma revista de "showbiz" que ficou célebre na altura pelo elevado "cachet" que o modelo (ele, portanto) auferiu. Em vez disso Bennett resolveu ser "igual a si próprio", e o quer isto dizer? Simples, as pessoas votaram nele não por ser um erudito e ecléctico intelectual, adepto da reciclagem que chora quando morre um golfinho e com uma higiene tão cuidada que quando sua cheira a "eternity for man" de Calvin Klein, mas por ser um boca-de-trapos, um fala-barato que diz o que lhe vai na cabeça (e era melhor se não dissesse) e pontua as frases com caralhadas de toda a espécie. A sua queda para a vulgaridade e o discurso carregado de obscenidades deve-se, segundo o próprio, ao síndrome de Tourette, uma desculpa que os boçais encontraram para poderem ser ordinários à vontade e ainda esperar que os outros sintam pena deles. Nada a ver portanto com o facto de se ter viciado em ketamina há 15 anos, um hábito que só recentemente viria a deixar, como confessou no programa de Kylem. Os espasmos nervosos, o comportamento errático, a queda para dizer só disparates, tudo isso se deve a uma condição médica, o síndrome de Tourette, e não aos efeitos de um tranquilizante para cavalos que usado para fins recreativos provoca...isso tudo, exactamente! Coitadinho...
Portanto não é difícil imaginar o que fez Bennett com o dinheiro que angariou durante os seus 15 minutos de fama que por acaso duraram meses: estoirou-o em droga e em excessos próprios de quem pensa que o dinheiro nunca vai acabar, e se isso acontecer é só aparecer, e pimba, pagam-lhe só por ele existir - de tudo o que comprou com o dinheiro que obteve com as suas macacadas certamente que não constava um espelho. E não se pense que a decadência foi assim tão rápida, ou que não lhe foi dada outra oportunidade. É que pouco depois de vencer o "Big Brother" em 2006, Bennett iniciou uma carreira musical e tentou outros subterfúgios para se manter à tona do mar do sucesso, mas seria quando começou a tomar drogas psicadélicas que se viria a afundar. Na entrevista conta que o consumo de ácidos e outras drogas que em pessoas normais surtem efeitos nefastos, e no caso dele, que já era tantã, ainda foi pior, deveu-se "à morte de alguns amigos" (?). Estranho, para alguém que tem pouco mais de 30 anos, mas Bennett deu o exemplo de um amigo íntimo que morreu electrocutado numa linha de comboio "mesmo à frente dos seus olhos". Ora lá está, essa deve ter sido uma experiência fascinante, e não fosse pela morte que as descargas eléctricas induzem, inclusivamente chegando a cozer as vísceras, o amigo sempre se podia desculpar com "epilepsia" para justificar aquele comportamento. Tenho a certeza que esteja onde estiver, vai apreciar a homenagem que Bennett lhe prestou, submetendo-se a este calvário.
Apresento-vos agora a antítese: Aisleyne Horgan Wallace, que é o exacto oposto de tudo aquilo que Peter Bennett representa. Aisleyne foi educada numa família de Testemunhas de Jeová, estudou nos colégios mais conceituados e tirou o curso de "design" no London College of Fashion, e é actualmente desenhadora de moda, modelo, colonista, actriz, gente de bem e cheia de nota, tanta que nem sabe quanto, até porque nem precisa de gastá-la, tal é a rapidez com que as passadeiras vermelhas surgem onde ela aparece, e as portas se abrem à sua chegada. Em comum com Bennett tem o facto de ter participado na mesma edição do "Big Brother", tendo-se classificado no 3º lugar. E o que tem ela que ele não tem? Bem, educação, juízo, saber-estar, e sobretudo talento, muito talento, como podem verificar na imagem. E um talento muito natural também; tão natural é o seu talento quanto de morangos há no "strawberry milkshake" do McDonald's. A diferença é que usou o "Big Brother" para se projectar, para se dar a conhecer, e não ficou à espera de fazer carreira com isso. Se calhar nem se orgulha de ter participado naquela cagada, sendo que se trata (mesmo) de uma rapariga inteligente. Sobre a entrevista onde o vagabundo do ex-colega se confessa e lamenta, Aisleyne diz que "fica contente por saber que ele procurou ajuda para o seu problema", e que por vezes "temos que bater no fundo para então daí recomeçar de novo". E o que queriam que ela dissesse? Que se está a marimbar para o tipo, e que na choldra há outros com muito mais qualidades que ele? Só estaria a pecar por excesso de sinceridade, enfim...
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