quarta-feira, 18 de março de 2015

Duas baixas no paquete Harmonia


Tivemos conhecimento esta semana de duas baixas entre os quadros superiores do Governo da RAEM: um coordenador-adjunto e um outro mais de peso, metaforica e literalmente falando. Primeiro foi André Ritchie que anunciou a saída do Gabinete de Desenvolvimento das Infra-Estruturas (GIT), e depois foi Wong Wan a deixar saber que iria abandonar a liderança da Direcção dos Serviços de Assuntos de Tráfego. Pasme-se. Portanto, que sinais podemos tirar destas saídas, que para quem conhece a realidade de Macau percebe logo que "trazem água no bico"?

O caso de André Ritchie é deveras lamentável. Não porque o rapaz se tenha desgraçado ou algo assim do género, mas porque é uma óptima pessoa, um tipo fixe, e não merecia ser instrumentalizado da forma que foi. Bom rapaz e de boas famílias - o seu pai é o dr. Alfredo Ritchie, entretanto aposentado, que dirigiu o hospital público durante vários anos, e a sua mãe é Anabela Ritchie, que foi desde 1991 até à transferência de soberania presidente da Assembleia Legislativa - André Ritchie é, mais que tudo, um técnico, neste caso um arquitecto, com a formação obtida na Universidade do Porto. Para ele o cargo que ocupava, bastante razoável em termos de perspectivas de carreira, e a que ascendeu de forma um tanto ou quanto "meteórica" era ouro sobre azul: estava numa profissão da área para a qual tinha vocação e formação, auferindo um vencimento que mesmo não tendo ao certo os dados seria bastante generoso, e exercendo-a na sua terra natal, junto da família e amigos - que mais um jovem pode querer? O problema foi quando lhe passaram para as mãos um elefante-branco que dá pelo nome de metro ligeiro, do qual tenho uma opinião que expressarei um destes dias, mas de forma bem original. Agora de saída após dez anos na Administração, André Ritchie vem dizer que "não está envolvido no projecto do metro ligeiro". Eu acredito nele, e ninguém diz o contrário, mas a memória não é curta e o arquitecto deu em tempos a cara pelo metro, o que é apenas normal, sendo ele o co-coiso das infra-não-sei-das-quantas, e tal, não surpreendo que tenha vestido a camisola da equipa e entrando campo para jogar, não imaginando sequer que o resultado estava combinado.

Wong Wan foi, por assim dizer, o homem errado na hora errada e no sítio errado. Aliás este senhor que me disseram vir do IACM, onde estava encarregadas das campas do cemitério (muito suspeito) para ocupar um cargo inútil num departamento recém-criado e igualmente inútil, é a personificação do próprio erro. Seguramente o dirigente mais incompetente que tivemos nos 15 anos de história da RAEM. Quer dizer, tivemos um que foi corrupto, temos alguns que não fazem a ponta de um corno, mas assim pelo menos passam despercebidos, e ele, coitadito, que não manda uma para a caixa. A DSAT foi criada supostamente para resolver os problemas do tráfego em Macau, mas além de não resolver nada passou a ser um bode expiatório. Até porque antes nem existia uma entidade responsável pelo caos do trânsito, e a PSP não tinha autoridade para ordenar ou organizar coisa nenhuma. Wong Wan foi o rosto de uma série de decisões infelizes e soluções inconsequentes, e em termos de projecção não ajudou mesmo nada o facto de ser morbidamente obeso. Antes de me acusarem de "atacar as pessoas pela sua aparência", deixem-me dizer-vos que sim, tem importância, pois com aquela moldura não conseguiu impor o respeito que era fundamental ter para aquele cargo. Quando aparecia na televisão a inspecionar a Av. Almeida Ribeiro aos domingos, juro que pensei que um dia ia vê-lo de babete ao peito, como quem interrompeu o almoço para ir lá ver aquilo, "que chatice". Agora pode almoçar à vontade.

André Ricthie já anunciou que vai trabalhar para uma empresa do sector privado, igualmente relacionada com a sua área de "expertise", e desejo-lhe as maiores felicidades, pois é um gosto tê-lo por cá. Quanto ao passado, pronto, esqueça lá isso, deixe a política para os políticos, que têm uma queda para o abismo, e no fundo deste, o esterco, e continue lá a desenhar casinhas, que é o que sabe fazer melhor. Quanto a Wong Wan, que curiosamente imitou Shuen Ka Hong, um outro ex-director, este dos Serviços de Trabalho e Emprego, anunciando a sua saída numa altura em que não assim tão debaixo de fogo, desejo-lhe igualmente sorte, claro, nem nada me move contra a pessoa em questão. Só o aconselhava era a pensar bem antes de aceitar novamente um cargo público de responsabilidade, e onde tenha obrigatoriamente visibilidade. Essa é uma empreitada para a qual o meu caro não está preparado, nem de perto, nem de longe. A esse respeito José Rocha Dinis escreveu na sua coluna de opinião no JTM que o ideal seria que para o lugar de Wong Wan viesse alguém com um conjunto de atributos que um "verdadeiro director" deveria ter, e que faltavam a este, e de grosso modo. Pois é, entendo onde quer chegar e não posso senão concordar consigo, mas o problema que se levanta aqui é outro: é que aqui nós não temos nenhum desses com as características que referiu. Será que o Ajax ou o Barcelona nos emprestam um dos muitos que lá têm?


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