sábado, 28 de março de 2015

A vingança do chinês


A semana que passou ficou marcada por um atentado à liberdade de...tudo, porra! Sim, "imprensa" é uma coisa, e o Hoje Macau é outra, e desde meados do mês, finais da terceira semana deste Março negro para o jornal de referência de Macau, o ÚNICO em língua portuguesa do território onde o nome do mesmo ocupa METADE do nome da publicação está inacessível! Não sei quem, nem como, nem através de que meio ou em que circunstâncias, e muito menos porquê "atacou" o Hoje Macau, que no momento em que vos escrevo estas linhas encontra-se apenas em formato .pdf. Sim, é esplendoroso e sensual na mesma, mas não deixa de ser uma ausência de monta nos títulos da imprensa electrónica MUNDIAL, que não seja possível aceder a versão electrónica do jornal, e em vez disso tenhamos que nos desenrascar com a edição feita para iPads e quejandos - não digo "contentar" porque não dá para ficar contente. Como é que se fica "contente" perante um ATENTADO desta natureza, desta vilipêndiação, desta...desta...pedofilia jornalística! Isso mesmo, é preciso não esquecer que o Hoje Macau tem apenas 13 aninhos e meio. Cheira-me a obra de um Carlos Cruz das rotativas.

Julguei - como outra gente, que pensou o mesmo - que o problema era meu. Yep, nos dias após o escabroso ataque à imprensa livre pela via electrónica pensava tratar-se de mais uma birra do machimbombo a que chamo PC, deste cangalho onde no teclado repousam vestígios de mil e uma tostas mistas, borrões de coisas que se fumam e grude de poções açucaradas. Um dia vou levar o meu "rato" até à malta da CIA para averiguar se é biónico, pois foram tantas as vezes que o PC "encalha" e é exactamente no "rato" de descarrego a tensão acumulada, batendo com ele na secretária de madeira como se fosse um quebra-nozes que finalmente a sua párea numa casca inquebrável de uma amênndoa ou outra porcaria qualquer. Na verdade tento andado a procrastinar a compra de um computador, pois o cenário de esperar dois dias até que a loja transfira a porcaria toda que não me faz falta mas que me recuso a deitar fora de um computador para o outro arrepia-me até aos ossos. Mas enfim, a conclusão, para quem ainda está a ler isto e não mudou de página murmurando entre dentes "este gajo é maluco" (ou pior) foi esta: não foi do meu PC, mas do próprio "site" do jornal, que está desactivado. Voltando ao programa de lavagem "indignado": isto não se faz.

Como já disse mais acima, desconheço os termos em que ficou bloqueado o acesso à edição electrónica do Hoje, mas isso deixa-me duplamente fulo; se tivessem bloqueado outro jornal, já teria ficado indignado, mas tratando-se do Hoje a indignação vem em "super-size" com "extra-cheese" e uma cereja marasquino em cima - só que azeda e a saber a traques de cachorro. Desde que comecei a colaborar com o "Hoje", vai para dois anos e meio, têm-me acusado de "bater mais leve" ou até "fechar os olhos", fingindo que não vi quando a malta do jornal "mete a pata na poça". Ora essa, qual é o termo científico para definir essa presunção? Ah, já sei: paneleirice. Para mim nenhum jornal é mau, e os três diários mais o outro com o nome de uma marca de sabão macaco que é semanal e clerical têm todos o seu encanto, o seu charme, o seu "je ne sais quois". O que se passa é que por vezes o seu conteúdo inclui material que considero...outra vez, para não fugir do tom formal da minha retórica...ah, sim: que considero "parvo". Só que nem a publicação nem próprias pessoas que cometem estes infelizes "faux pas" (apenas na minha opinião, claro) são merecedoras de prisão perpétua a pão e água e acorrentadas numa masmorra por uma corrente apertada e curta. Toda a gente merece uma segunda, terceira ou décima-nona oportunidade, pá. Além disso os comentários que oiço sobre esta ou aquela reportagem e este ou aquele facto são perfeitamente mesquinhos, e sempre acompanhados de um julgamento fulminante em relação à pessoa que assina: "fulano É uma besta porque escreveu tátátá e tátátá, quando na verdade é tátáti e tátátu". Correcção, meus caros: não É, mas FOI, naquele preciso momento e naquele exacto instante, e se acreditam nessas tretas da astrologia, pode ser que tenha a ver com Mercúrio ter ficado na casa de Água Oxigenada, nunca se sabe.

Fico preocupado com o caminho que a humanidade leva, e permitam-se que fale assim neste modo tão generalista, e de mão cheia, mas é mesmo verdade: andamos a retroceder no processo civilizacional, e a nossa geração, a que veio a seguir à outra que nos queixávamos de ter deixado o mundo do avesso, consegue ser ainda mais casmurra, teimosa e asinina que essa. Estamos cada vez mais radicais, menos tolerantes, misturamos convicções com casmurrice, confundimos orgulho próprio com despeito, e não sei quem é que andou por aí a espalhar que falar mais alto que os outros com o dedo em riste, os olhos a sair das órbitas e a bufar feito um cavalo é prova mais que irrefutável que se tem a razão do seu lado. "Newsflash", pessoal: não é, e no mínimo transmite a imagem de que são tão vernáculos e sensatos como...olha, um cavalo, para não andar a complicar as coisas. Somos mais desconfiados, derretemo-nos com qualquer treta que nos impingem que envolva miséria, ou chocamo-nos com exemplos de crueldade e desumanidade à distância, mas somos capazes encontrar uma data de razões para justificar uma desgraça que tenha acontecido ao nosso vizinho do lado. Quem era ontem completamente anónimo e insuspeito, basta-lhe um dia mau para que se levante o tapete e se diga: "logo vi, este nunca me enganou". Mesmo não tendo visto o que estava debaixo do tal tapete, e sejam os outros a dizer-nos, nós acreditamos, claro, porque o fulano em causa é o tal que foi responsável por aquela coisa muita má e reprovável que soubemos que ele fez ontem - é o culpado desse e de todos os outros males do mundo. Vejo as pessoas em uníssono a repudiarem a violência ou actos de terrorismo, ao mesmo tempo que acrescentam "...e quem pensar o contrário, leva". Tanto extremar de posições que até parece que se esqueceu essa nobre tradição de se "estar nas tintas". Pois, pois, mas é mau, ficar indiferente a tanto mal blá blá blá, e "não estar contra é o mesmo que estar a favor" (uma mentira especialmente desonesta, mas em que muita gente acredita) e assim um dia "perdemos a liberdade". Concordo, assim como perdemos a liberdade de "estar nas tintas". Entendo muito bem.

Assim, senhor ou senhores, ou mera coincidência, ou espírito do mal que deixaram KO a página do Hoje Macau, deixem-me que vos diga isto: morram. Não, não vos estou a desejar qualquer mal, e nem vale a pena explicarem as razões que levaram a que tal trafulhice fosse cometida. É como quando nos dizem que alguém que nos é querido morreu decapitado, e depois insiste em descrever no mais ínfimo detalhe como isso aconteceu - o que está feito está feito. Recorrendo à sabedoria da internet que atribui a autoria de textos, frases ou citações a meia dúzia de autores diferentes, com uma amplitude que chega a ir de Confúcio a Einstein, permitam-me que termine com uma pequena metáfora insípida e inócua, só para dar um ar agravado de intelectual: cada inimigo que fazemos é como um saco de pedras que levamos para toda a parte, todos os dias; quanto mais inimigos, mais pedras são as que trazemos connosco, e maior o cansaço e o desgaste que nos levam à angústia, e nos prendem os movimento e nos impedem de ser felizes, até ao dia em que mandamos as pedras pró c... e rebentamos os miolos com um tiro. Posto isto, tudo o que desejo é que a normalidade seja restabelecida, que o Hoje Macau volte ao pedestal cibernético onde pertence, e só depois desejo aos supostos "hackers" muita elegância. Porquê "elegância", perguntam vocês? Porque é mais "elegantes"que iam ficar depois de um ataque de disenteria aguda, que era aquilo que mereciam.

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