Um enredo que dá medo.
Continuando na senda dos "artistas". Parece que do outro lado foi outra vez Carnaval esta semana, e não fosse a cobertura que é dada pela RTPi, eu nem dava por nada - aqui são "outros carnaváis", portanto. Mas onde a entrada da Quaresma é mesmo "a doer" é no Brasil, e este ano no Sambódromo aconteceu uma polémica curiosa, depois de se saber que uma das escolas recebeu 10 milhões de reais (dois milhões de patacas) do regime da Guiné-Equatorial, país africano que fica muito, mas mesmo muito longe de ser considerado "uma boa companhia". Coincidência ou talvez não, a escola em causa saíu vencedora, e não há prémio para quem adivinhar que foi a Escola Beija-Flor, praticamente a única que sabemos de cor o nome. Na quarta-feira de cinzas, depois dos corpos ficarem arrefecidos do calor, foram os ânimos a precisar de baixar de temperatura, e lá veio o director artístico da escola, Fran Sérgio, explicar que o (mui generoso) patrocínio não partiu do governo da Guiné-Equatorial, mas sim de "empresas brasileiras de construção civil" instaladas naquele país. Ahem, ainda falta mês e meio para o primeiro de Abril, ó Fran Sérgio, e ainda por cima o próprio embaixador da Guiné-Equatorial no Brasil, um tal Benigno-Pedro Tang, confirmou esta versão da história, mas convenhamos que se tratando de alguém que desfilou no último carro alegórico, não é uma fonte muito credível. Em entrevista à "Globo", o "camarada" ainda defendeu a honra do seu convento que de "convento" não tem nada, dizendo: "Quem se incomoda com isso é burro. A escola deu 4.000 fantasias para a sua comunidade graças ao patrocínio". Ui, a falta que fazia, as 4 mil fantasias, e nem entendo a razão do Fran Sérgio (nome delicioso, eh, eh) estar tão agitado, ninguém lhe pediu contas - a não ser os sócios e simpatizantes da Beija-Flor, que não se inibiram de manifestar o seu descontentamento nas redes sociais. Vai lá chamar burro a eles, ó Fran Sérgio.
Da esquerda para a direita: Laíla, Fran Sérgio e Farid Abrahão David - o "trio eléctrico" da Beija-Flor.
Eu normalmente não dou importância a este tipo de tricas sobre quem deu o quê, e quanto deu, e tudo isso. Sim, a Guiné-Equatorial é uma daquelas ditaduras sinistras, do tipo câmara dos horrores, e já aqui falei disso aqui em detalhe aquando da entrada daquele país na ACOLOP, mas não vai ser por não aceitar o dinheiro que os seus habitantes vão sofrer mais ou menos - se eles não aceitassem havia outra escola qualquer que ia aceitar, com toda a certeza. Sorte deles, que se "abotoaram" a uma pipa de massa, e aquela conversa do "dinheiro manchado de sangue" não passa de uma metáfora. É dinheiro igual aos outros. Agora os argumentos que os tipos usam para "limpar a barra", como costumam dizer lá, é que são tão ridículos que não chegam a ser risíveis. Peguemos como exemplo um tal de Laíla (sim, isto nome de homem), que é presidente da comissão de Carnaval da Beija-Flor, que diz maravilhas da Guiné Equatorial, mas ressalva: "Nós sabemos fazer carnaval. Eu não suporto política. Eu não falo de política". Muito bem, até não ficava assim tão mal, tivesse ele ficado calado a seguir, porque quando acusa de imprensa de "estar a atacar uma escola de gente honesta, para daí retirar proveito", ahem, alguém explica a esse mané o peso em incoerência e burrice patente nessa afirmação? Tudo bem que no contexto do Carnaval, quando ninguém leva a mal, ou lá o que é, se façam homenagens à Guiné Equatorial, ao Estado Islâmico ou ao raio que os parta, mas depois disso, tento na língua, meus amigos; a Guiné Equatorial não é "o paraíso". É uma merda. Mas nada me surpreende quando o presidente da Beija-Flor é um tal de Farid Abrahão David. Ui, com um nome desses só pode ser um anjinho. Ditadura? Qual ditadura? São cordeirinhos de Deus, "mermão". Vai, não vem que não tem. Fui.
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