sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

África no seu pior



Está a realizar-se a Taça das Nações Africanas, que desde 17 de Janeiro tem como palco a Guiné-Equatorial, e que teve ontem e na quarta-feira as meias-finais, que determinaram a final entre Costa do Marfim e Gana, inquestionavelmente as duas maiores potências do futebol neste continente. Enquanto os marfinenses bateram a República Democrática do Congo por 3-1, ontem foi a vez dos ganeses carimbarem o passaporte para a final, ao vencerem a equipa da casa por 3-0 no Nuevo Estadio de Malabo. O jogo foi mais fácil do que as circunstâncias em que decorreram os últimos instantes, pois marcava o relógio 82 minutos quando os adeptos do Gana começaram a juntar-se atrás de uma das balizas, alegadamente devido ao arremesso de objectos por parte dos apoiantes guineenses. A partida esteve interrompida durante meia-hora, e foi necessária a intervenção da polícia militar, ao mesmo tempo que se viam helicópteros a sobrevoar o recinto de jogo. Já com o estádio vazio, as duas equipas disputaram o resto do encontro, tendo apenas deixado o cronómetro correr, uma vez que estava já encontrado o vencedor, e estragada a festa.

A Taça das Nações Africanas, ou CAN, na sua sigla francesa, como é mais conhecida, realiza-se de dois em dois anos, e até 2012 era realizada em anos pares, mas a partir de 2013, com o torneio na África do Sul, passou-se a disputar em anos ímpares, para evitar coincidir com os mundiais de futebol. Marrocos era inicialmente a sede do torneio deste ano, mas devido aos receios do vírus Ébola a organização foi alterada para a Guiné-Equatorial, uma pequena ex-colónia espanhola com uma história recente que pouco abona a seu favor. O torneio é habitualmente realizado durante Janeiro e Fevereiro, para evitar os rigores do Verão africano. Este período é durante o decorrer da época desportiva na Europa, o que leva a que muitas equipas do velho continente fiquem privadas de alguns jogadores, e aliando a fadiga ao receio de lesões, as próprias equipas são em regra bastante equilibradas, o que leva os técnicos a adoptar mais conservador. Sequência disso, é notório durante a fase de grupos a adopção de cautelas em excesso por parte das equipas, o que este ano ficou bem patente, com 13 empates nos 24 jogos da primeira fase, com quatro equipas a terminar sem vencer ou perder qualquer jogo - no grupo D foi necessário recorrer a sorteio para determinar o 2º classificado, uma vez que as seleções da Guiné e do Mali terminaram iguais em todos os critérios de desempate: nos pontos, no confronto directo entre ambas, nos golos, quer marcados, quer sofridos. Como se já não bastasse todos estes problemas, imagens como estas no vídeo acima pouco ajudam à promoção do futebol africano. Vamos esperar que pelo menos a final de Domingo entre Costa do Marfim e Gana dignifique o desporto, e limpe a honra do continente africano.

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