terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Miss Bimbamérica
O concurso Miss Universo teve lugar um destes dias não sei onde e isto é uma daquelas coisas que não interessam nem cobertas de chantilly com luzes de natal a piscar e sinos a dobrar: não se requer qualquer talento, arte e ou inteligência para se competir, e eventualmente até ganhar. Inteligência é até algo a evitar ainda mais que o acne ou as pontas de cabelo espigadas, e prova disso foi a Miss USA - sempre a Miss USA - que serviu mais uma vez de exemplo para a decadência que representam este tipo de concursos. Acho que nem Fong Chi Keong a dissertar durante duas horas sobre o tema das mulheres na política ou as virtudes do núcleo familiar islâmico chegava aos calcanhares de um concurso deste género em matéria de humilhação da condição feminina. Agora perguntam-me vocês: qual é a diferença entre a Miss América e a Miss USA? Ora então não sabem??? Que vergonha, pá! A Miss USA participa no concurso internacional Miss Universo, enquanto a Miss América concorre ao Miss Mundo. Se uma pergunta destas sair num concurso televisivo e no final o leitor ganhar o prémio, contento-me com 10% de comissão. Obrigado.
Desconheço o sistema de selecção ou votação ou apalpação que usam para determinar as finalistas, mas a Miss USA/América/whatever chega lá sempre por decreto, e este ano quedou-se pelo segundo lugar. Nia Sanchez, do estado do Nevada, ficou atrás da Miss Colômbia, uma tal Paulina Vega - tenho a certeza que daqui a um mês toda a gente se lembra destes nomes, de tanto "trabalho" realizado no âmbito dos títulos que agora ostentam.
Na fase mais deprimente concurso, quando as concorrentes exibem a cratera onde supostamente deveria estar a inteligência, respondendo a uma pergunta, Nia Sanchez fiz figura de bimba burra, honrando as suas predecessoras, numa tradição americana que começa a enraizar-se tanto quanto a torta de maçã e a obesidade mórbia. Quando o boxista filipino Manny Pacquiao, que para a sua evidente retardação mental tem como desculpa as pancadas que levou na mona, lhe perguntou "se tivesse 30 segundos para passar uma mensagem a um terrorista global, que mensagem seria essa?". Reparem como a resposta faz lembrar aqueles testes antigos testes da escola primária, onde a resposta que tinha que ser dada era quase igual à pergunta, com mais uma ou duas palavras e com um ponto final em vez de um deinterrogação (P: Qual é o maior rio de Portugal, que nasce em Espanha e desagua em Vila Velha de Rodão? R: O maior rio de Portugal, que nasce em Espanha e desagua em Vila Velha de Rodão é o Tejo).
Aqui a bimbona não deixou os seus créditos por mãos alheias, repetiu a pergunta sem saber o que estava a dizer e deu a resposta que tinha passado as duas semanas anteriores a recitar várias vezes ao dia: "Como Miss USA, a única mensagem que eu posso transmitir é a do amor, paz e esperança, e faria o meu melhor para transmitir essa mensagem para eles e para todo o mundo". Se a pergunta fosse "Que solução propunha para resolver o problema dos buracos nas ruas da Bobadela". a resposta seria "Como Miss USA, a única solução que eu posso propôr é a do amor, paz e esperança, e faria o meu melhor para apresentar essa proposta para a Bobadela e para todo o mundo". Assim parece fácil, mas requer alguma arte; no caso da pergunta mexer com questões sensíveis que dividam opiniões, nomeadamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto ou a contracepção, a tendência é para dar uma resposta que se inclua num dos extremos, fazendo-a ser timidamente aplaudida por uma das metades do mundo que anda sempre a tentar f... a outra, e censurada pela metade restante. Miss Universo: a caricatura da própria humanidade.
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