sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Macau Club (um-dó-li-tá)
Em Macau. e no que diz respeito às questões relacionadas com a segurança, penso exactamente como o meu camarada José Rocha Dinis: o segredo é a alma do negócio. Ao contrário de outras áreas como a Economia, a Administração ou a Saúde, onde é do interesse da população ficar a par das linhas de acção, na Segurança não podemos exigir saber detalhadamente como vão as autoridades agir no sentido de debelar os problemas que lhe dizem respeito. No entanto podemos - e devemos - questionar as decisões depois destas produzirem resultados abaixo das expectativas desejadas. Tenho cada vez mais esta impressão que "aprender com os erros" é um conceito ainda por introduzir nos mais diversos aspectos do quotidiano de Macau. Aqui, regra geral, impera o orgulho, a vaidade, tudo fruto da teimosia, de não querer dar o braço a torcer. O que seria da humanidade se as grandes invenções tivessem ficado pelas tentativas frustradas, por um redutor "isto não dá, é impossível". E se perante a descoberta de que o fogo queima, o homem primitivo tivesse desistido de conquistar essa técnica?
Já afirmei aqui várias vezes (ganda cena, pá, tenho um arquivo mais catita que muitos jornais): gosto de Wong Sio Chak, tive contacto com ele antes de ser nomeado director da Polícia Judiciária, e acho que fez um trabalho competente à frente do departamento de investigação criminal, e não foram poucas as vezes - a bem ou mal - que tive necessidade de ali me dirigir, e posso dizer que não encontrei senão diligência, competência e um conjunto de procedimentos adequados às situações que ali me levaram. Posso mesmo dizer que tenho uma melhor impressão da PJ do que da PSP. Os rapazes da farda azul me perdoem, mas isto não é uma questão de "bons e maus", e trata-se meramente de uma apreciação pessoal. Uma vez deixando de ficar subordinado à autoridade de uma das Secretarias do Executivo para passar a liderar essa mesma Secretaria, passa a incluir-se uma responsabilidade política no desempenho das suas funções. Se há algo sobre o qual não me posso pronunciar é sobre as competências atribuídas a Wong Sio Chak quanto ao seu peso político. Certamente que quando afirma, como fez esta semana, que não existe uma lista negra, não estará a falar apenas por si, nem fazendo apenas uso do seu julgamento pessoal.
Fazendo uso do senso comum (mais uma vez), é difícil aceitar que os critérios que levam as autoridades são estritamente "pessoais", como sugere o sr. secretário. Custa-nos a acreditar que um simples agente dos serviços de emigração tenha a autoridade para impedir a entrada de alguém por ele próprio considerar essa pessoa uma ameaça para a segurança de Macau. Estamos aqui a falar do controlo de fronteiras, e não de uma entrada num bar ou discoteca, onde quem não cumpre o código de vestuário fica à porta. Nem se poderia justificar desta forma que uma criança de apenas um ano seja impedida de entrar em Macau por ter um nome idêntico de um conhecido activista de Hong Kong, que no dia desse incidente até devia ter qualquer coisa melhor que fazer do que vir testar a "sensibilidade" dos critérios de segurança da RAEM. É uma pedra na engrenagem do aparelho, uma vez que os sectores da pró-democracia sabem manipular bem esta falta de coordenação das FSM no que toca à barragem da entrada de certas individualidades no território. Agora se lhe quiserem chamar "lista de indesejáveis" ou outra coisa qualquer, tanto faz, mas que existe, existe. Se tanto insistem podemos dizer que não, não existe, se isso facilitar o trabalho dos homens da segurança.
Quem sabe se Wong Sio Chak deverá preocupar-se mais em "acertar as agulhas", quer ao nível das diferentes sub-unidades dos serviços que dirige, mas também ao nível político. Ainda esta semana, a mesma em que o Secretário nos garantiu que não existe a tal lista, tivemos o deputado Tsui Wai Kwan a tecer loas ao trabalho das autoridades no contexto de um ataque aos democratas, dizendo que "agiram bem" e "de acordo com a lei" (que lei é essa ainda estou para saber...), ao "impedir a entrada de elementos nocivos à estabilidade de Macau". Portanto, se existem estes "indesejáveis", certamente que os seus nomes estarão compilados numa lista, caso contrário, com seriam discriminados? Ou talvez fosse uma boa altura para arregaçar as mangas e fazer o trabalho como deve ser em vez de procurar apenas agradar o Governo Central com falinhas mansas. "Action not words", como dizem os "camones", devia ser este o lema das nossas FSM.
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