segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
A entrevista
Imaginem que a III Guerra mundial começava com origem num filme. Parece disparatado, certo? Mas estivemos mais longe, especialmente atendendo ao novo patamar a que o sempre divertido governo da Coreia do Norte eleva a liberdade de expressão - ou neste caso, a falta dela. "A Entrevista", ou no seu título original "The Interview" é mais um daquelas comédias norte-americanas em que os tipos expõem o ridículo de todos os governos, regimes e culturas que nada têm a ver com eles, e de que eles pouco ou nada sabem. Assim a película conta a história de dois jornalistas de um programa televisivo sensacionalista que vão a Pyongyang entrevistar o presidente Kim Jong-Un - coisa normal, que jornalista americano nunca foi à Coreia do Norte entrevistar o líder do país que maior ódio nutre pelos Estados Unidos? Acho que até é uma das exigências "sine qua non" do estágio dos profissionais dos média e tudo. Sendo assim, a CIA chama-os à parte e pede-lhes que aproveitem e eliminem o "novo querido líder". Já agora, e porque não? Uma vez que vão estar num quarto sozinhos com o pior inimigo da América, e provavelmente nem serão revistados, porque "são apenas jornalistas" e o resto do mundo não passa de uma cambada de idiotas.
Os norte-coreanos podem viver no país mais isolado do mundo, mas o regime não dorme, e vem desde Junho protestando contra a produção do filme, que estreia no dia de Natal. Em 24 de Novembro a Sony Pictures provou um pouco da fúria de Pyongyang, ao ver os seus computadores atacados por um vírus informático que retirou e divulgou informação sobre a empresa, como folha de pagamentos dos funcionários, e provocou ainda a "fuga" de alguns filmes ainda por estrear, que assim ficaram acessíveis para "download". Não há como defender o regime norte-coreano, nem é isso que estou aqui a tentar fazer, mas não posso deixar de concordar com as declarações de Kim Myong-chol, director do Centro da Amizade Coreia-América (estranho, para um norte-coreano), que em Junho afirmou que este filme é "típico" da atitude imperialista de Washington, que considera os assassinatos políticos uma solução como qualquer outra para resolver conflitos, dando os exemplos do Afeganistão, Iraque, Síria ou Ucrânia, e do próprio presidente John Kennedy, do qual existe uma teoria que defende ter sido assassinado por agentes da CIA. De facto, o que diriam os americanos se de repente aparecesse por aí um filme estrangeiro com capacidade de distribuição no mercado internacional que tivesse como enredo uma tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos?
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