sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Racismo é todos os dias (é quando um idiota quiser)



Duas leituras desta sexta-feira, uma do Ponto Final e outra do Hoje Macau, deixaram-me de antenas levantadas, pois debruçavam-se sobre aquele fenómeno que simplesmente não existe: o racismo. Fosse o meu sistema nervoso central semelhante ao Facebook, e nunca teria visto os respectivos artigos, pois o tal "racismo" estaria bloqueado, tal como aquelas tipas africanas que não sao mais que um "bot" criado por uma daquelas organizações supostamente a operar da Nigéria, e que procuram papalvos que caiam num conto da carochinha qualquer, e depois remetam dinheiro pelo correio de modo a "tratar dos procedimentos legais" que darão acesso a uma avultada fortuna que este generoso desconhecido resolveu partilhar connosco "por acaso", ou para salvar uma princesa do Biafra que se encontra em apuros e confinada a um campo de refugiados (um daqueles mesmo bons, com internet e tudo) após se ter dado o oitavo golpe de estado naquela semana no seu país. Para mim o racismo não é mais que uma ilusão, é como o arco-iris, só que monocromático (porque é racista, entenderam?). Quem acredita no racismo pode muito bem acreditar também no Pai Natal, e sair de casa às seis da manhã de Sábado com a caçadeira, e dizendo à mulher para não se preocupar com o almoço, que ele traz "meia dúzia de gambozinos". E cuidado, que um dia destes ainda se arrisca a comprar um lote de terreno na Lua. Mal por mal, acreditar no racismo só lhe vai custar mesmo a dignidade e o amor-próprio.

A esta hora alguns leitores devem estar a pensar que estou aqui a gozar com a vossa cara, e que o tal racismo existe mesmo, e manifesta-se, e viram numa reportagem da NBC e tudo. Pois é, eu sei que desde pequenos fomos induzidos a acreditar nessa treta de que alguém que nao escolheu lugar, condição social ou grupo étnico onde nasceu pode assim considerar-se superior ou sentir-se inferior a outro que nasceu em circunstâncias diferentes, e também nao lhe foi dado a escolher. Primeiro enfiam-nos o "Patinho Feio" pela goela abaixo, e assim transmitindo uma moral da caca que nos diz que mesmo nascendo feios como um pneu, poderemos eventualmente evoluir para uma lindíssima criatura, superior ate às que antes nos descriminavam, portanto nunca se deve perder a esperança ou dar um tiro nos miolos quando se ficar farto da crueldade alheia e dos comentários do tipo: "és preto da cor do diabo porque Deus odeia-te e mandou-te ao mundo para nós te pisarmos, cuspirmos e urinarmos em cima". No fundo trata-se da tal teoria da evolução de Darwin condensada no tempo de vida de um cisne, e com uma mensagem subliminar dos patrocinadores da fábula: a cirurgia plástica e estética.

Num "soundbyte" diferente tivemos um outro conto, este não infantil, mas infantilóide, e contado no cinema às gerações que pensam que "livro" é a primeira pessoa do indicativo singular do verbo "livrar": "Forrest Gump". Neste filme o herói que não sabe que é herói nasce estúpido que nem uma porta, o que à luz da teoria do "racismo" significa que "pediu para ser assim", qual alma generosa que preenche as vagas deixadas por outros nas mesmas circunstâncias que depois acabaram transformados em sabão azul-e-branco na célebre fábrica de cosméticos de Dachau. Existiam dois destinos possíveis para o pequeno Forrest: ou aos seis anos agarrava com ambas as mãos nuas num cabo de alta tensão para apanhar os passarinhos que estavam lá pousados, ou percorria os momentos mais importantes de quatro décadas da história dos Estados Unidos, período durante o qual conheceu pessoalmente três presidentes, ensinou Elvis a dançar, inspirou o tema "Imagine" de John Lennon, inventou o "smiley" e foi co-fundador da Apple, entre outras coisas - e tudo isto sem ter a mínima consciência do que estava a fazer. Pois, se eu não soubesse também escolhia a primeira opção, mas o filme tem três horas, e fossem dedicadas ao pequeno Forrest a fritar no fio da electricidade, e o Tom Hanks não tinha ganho o segundo Oscar. O mais interessante é que este filme comoveu gente na plenitude das suas funções cognitivas, e que por muito que estudem, trabalhem e batalhem nunca passam da merda, enquanto ali o Forrest tem-lhe tudo a cair direitinho do Céu em cima das mãozinhas.



Mas o racismo existe, garantem-me vocês. Claro, eu acredito. Olhem para a NBA, por exemplo. A liga americana de basquetebol é a coisa mais racista que só pode imaginar, composta por uma esmagadora maioria de jogadores negros, ali aos pulos para entreter os brancos, e em troca tudo o que levam é apenas uma míseros milhões de dólares por ano. Ainda têm dúvidas? Vejam os filmes do Spike Lee, por exemplo, esse santo que denuncia a existência de racista em toda a parte; por exemplo, fazem ideia da quantidade de filmes sobre "vikings" onde não aparece um único negro? E como é possível que ainda não tenha existido um Papa negro? Tudo bem, já tivemos um presidente norte-americano negro, mas para quando um presidente da China negro? E uma rainha de Inglaterra? Rihanna para rainha, já, seus racistas! Ainda bem que existe o hip-hop ou o rap (qual é a diferença, afinal?) que me deixam esclarecido: sou branco, portanto sou responsável por séculos de escravização e caso seja morto por um negro fica o universo equilibrado. Qualquer dia passo pela Cova da Moura ostentando roupa florescente com um desenho de um alvo na camisola. Fico feliz por saber que estes tipos do "hip-hop" que entoam aqueles "cânticos"(?) como aquele na adorável paródia do Eddie Murphy do vídeo editado que deixei em cima, e que até muitos brancos sabem de cor, têm tantas notas de dólar onde enxugar as lágrimas causada pelo fantasma da opressão dos seus antepassados.

Em suma: existe descriminação, sim, existe preconceito, claro, mas nada disto tem a ver com condicionantes geográficas ou étnicas. Há quem não goste de carecas, e há carecas em todos os países, ou quem pense que as mulheres não devem votar ou abrir a boca para dizer disparates - todas as mulheres, não apenas as brancas, pretas, loiras ou ruivas. O racismo foi convenientemente inventado por uns tipos que queriam obrigar outros a trabalhar para eles de "borla", e mais tarde o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e agora quem conduz o comboio do racismo são as "minorias", mesmo em lugares onde já são uma maioria. Não lhes dão o que eles querem? Racismo. Foram acusados de um crime? Racismo. Aquela tipa não quer rebolar com eles no palheiro? Racismo. E onde não há racismo ou há pouco racismo, chama-se o SOS Racismo para encontrar uma mina de racismo. Mas já falei disto tudo no outro dia, sim senhor, "racismo", e isto quer dizer que se vão matar uns aos outros, não é mesmo? Então quando acabarem avisem. Er...como, se estarão mortos? Sei lá, para quem consegue inventar algo tão absurdo como o racismo, arranja uma maneira de me notificar do Além. Agora vamos aos casos referidos na imprensa de Macau.

O primeiro é uma artigo de opinião do Ponto Final que não vou comentar, pois segundo o seu autor ou autora, isto é tomar uma liberdade que ele ou ela não me deram, e por um lado ainda bem senão ainda era acusado de expôr alguma desonestidade intelectual ou presunção falaciosa que sendo permitido fazer num artigo de opinião não está sinalizado como tal ("penso que", "na minha opinião"), mas é feito antes sob a forma de afirmação categórica. Adiante. O caso em epígrafe refere-se a um artigo da revista TIME que fala de mais um daqueles sonhos americanos da treta: um casal de fessureiras, perdão, de sapatonas, queria ter filhos. Uma vez não sendo isto possível, pois de acordo com mais 70% dos americanos "Deus não quis" - daí que uns odeiam Deus, outros odeiam os que odeiam Deus e todos odeiam-se uns aos outros - recorreram ao método alternativo, o outro que não seja entalar um naco de chicha de macho na chacha (epá agora até parecia gaúcho, oxente!): inseminação artificial. O problema é que o banco de esperma (deixe os seus depósitos pela caixa depois das seis da tarde, mas faça a colheita em casa, s.f.f.) enganou-se no pacote e mandou uma semente "afro" para o alvo útero de uma das fufas, aquela que se ofereceu para o "sacrifício" de cumprir uma função reservado às mulheres que gostam de...pénis! Não que tenham alguma coisa contra o pénis, e até gostavam de poder instalar um nelas próprias, caso isto funcionasse como o "software", o pior é que normalmente agarrado ao pénis costuma vir um homem! Blergh, que horror, um homem.

Assim sendo, tiveram uma menina que tem os olhos de uma das mães, o apelido da outra a tez de pele da Jennifer Hudson. Agora isto passa a ser um problema porque vivem numa comunidade composta por 98% de gente branca, e nem chegam a ser cem pessoas nessa comunidade (isto sou eu que digo, sei lá, mesmo que não seja verdade é a minha opinião). Portanto isto é mau, e agora vão processar o tal banco de esperma, alegando como principal motivo "dificuldades de integração" da criança na comunidade onde estão inseridas, o que as obrigará eventualmente a mudar para outra mais "diversificada". Agora o paradoxo, e permitam-me que me expresse em bom "americanês" já devidamente traduzido para o português: "Mas quem é que estas p***s destas fufas pensam que são ao discriminar uma criança pela cor da pele, se elas próprias são alvo de discriminação e preconceito?". Claro que nos média norte-americanos usam-se palavras como "intolerância" ou "ódio" ou ainda "casal homossexual" para substituir outras que utilizei nesta passagem, mas vai dar tudo ao mesmo: as tipas andam ali a lamber a alcatifa uma da outra, querem filhos e mesmo assim são esquisitas. Eu por acaso acho que elas estão cobertas de razão; não há nada de anormal em querer que os nossos filhos sejam parecidos connosco. Claro que se eu adoptar uma criança esquimó ou mauri da Nova Zelândia será evidente que não deriva da minha herança genética, mas no caso das tribadistas em questão isto levanta mais questões do que seria necessário. Imaginem daqui a uns anos quando a miúda for receber o Grammy para melhor intérprete de "R&B" do ano e for agradecer aos pais, ou neste caso "às mães". Vão logo comentar que não foi daquelas duas que ela herdou o ritmo e a "soul". Além do mais estes bancos de esperma não funcionam na base do "abre as pernocas e toma lá iogurte" - é suposto ter em conta o pedido dos clientes.

Os americanos são uns tipos fascinantes, e digo "fascinantes" como digo que a louva-a-deus é fascinante, ou a gonorreia é fascinante, ou seja, não deviam existir e o mundo estaria melhor sem eles. Além da cor da pele, dão uma suma importância a coisas que só dizem respeito à intimidade de cada um, e o que fazem com a genitália, e com quem. Bem, mas as coisas são como são, e vou passar a exemplificar, colocando-me no lugar de uma destas "chapinhadoras de abalone" - e para mim é muito fácil, pois não me obriga a mudar de gosto e no caso delas com elas até parece mais divertido do que no caso deles com eles (e menos doloroso, também). Agora vou mostrar como nem vale a pena tentar ser superior ao insulto e ao preconceito num lugar como a América. Portanto vou agora passar ao papel de...



...Jennifer Cramblet, que logo pelo aspecto percebe-se que é uma lésbica. Aquilo é mais que uma orientação sexual - é um "fashion statement" completo. Agora o mais interessante: foi esta senhora que há dez anos viu os ovários serem besuntados com manteiga de cacau, e deu mais tarde à luz um bebé de chocolate. Agora vamos supor que vai na rua, a gingar, mãos nos bolsos, como qualquer fufa que se preze, e chega ao pé dela um badameco qualquer que não sabe ficar calado e não tem mais que fazer, dizendo-lhe o que ela já está cansada de saber:

- "És lésbica!"
- "Muito perspicaz. E desde quando é que as pessoas passaram a ser identificadas pela orientação sexual?"
- "Uh...vai tu. Quantos sushis é que já papaste hoje, ó sapatona?"
- "Se o que entendes por 'sushi' é aquilo que estou a pensar, hoje ainda não, mas mais logo penso 'papar' - como tu dizes - o da minha companheira. E vice-versa".
- "Companheira o quê...é uma gaja! Como tu!"
- "Vês como não és tão idiotas quanto aparentas?"
- "É, é...devias era andar a levar com piças."
- "A sério? É assim tão bom? Olha, vou pensar nisso, obrigado pela recomendação e que não te faltem, já agora".

E neste momento o palermóide agredia-a com um taco de basebol ou cometia um acto que a embaraçasse ou humilhasse em frente a toda a gente. Porquê? Porque logo após o primeiro ou segundo remoque da sua parte, a lésbica devia começar a chorar, a puxar os cabelos ou entrar com a sua mini-van por uma loja de cristais, qualquer coisa que chamasse a atenção de estranhos ou até mesmo dos media. Depois disto queixava-se na televisão, uns tinham pena dela, outros não, um grupo de cada era convidado para um daqueles programas tipo "Pós & Contras" onde toda a gente berra, e arrota os mais incríveis insultos e disparates, e finalmente no Twitter a classe "intelectual da treta" manda umas "bocas" que todos consideram "oportunas", mas que normalmente são idênticas em género e grau às do rapaz no diálogo que dei como exemplo mais em cima, só que com um tratamento mais erudito, ou até relevando um refinado sentido de humor. Quem comete a ousadia de ser "diferente" na América não pode simplesmente pedir que o deixem em paz e que não o chateiem. Ao querer ser diferente, está a assinar um contrato que permite que o utilizem para a grande indústria nacional dos inúmeros preconceitos a que deram o nome de "racismo".



E é disso mesmo que se trata, de um negócio, e apenas isso. Envolve advogados, magistrados, políticos, grupos de desocupados agentes sociais, chega ao ensino, forma associações, mexe com "lobbies", chega mesmo a gerar novos "lobbyistas", elege congressistas, senadores e o raio que os parta. Se em Portugal há o "SOS Racismo", para plantar racismo aqui e ali, na América há um "trust-fund" do racismo. Assim um norte-americano que venha ao mundo na condição de branco anglo-saxónico, cristão e heterossexual, é ensinado a odiar os negros, que são selvagens, os hispânicos, que são drogados/traficantes/contrabandistas, os homossexuais, que o querem recrutar "contra à sua vontade" para o seu grupo e assim extinguir a humanidade, os asiáticos são péssimos motoristas, e em suma, a América é o melhor país do mundo, e sendo eles os melhores da América, são os melhores do mundo. Os negros, por seu lado, aprendem que não se deve confiar em nenhum branco, todos os males que os afectam são causados pelos brancos, e que se estão guetizados é porque os brancos assim o querem, e não vale sequer a pena tentar integrarem-se, pois seriam rejeitados, e mal um branco olhe para eles está a imaginá-lo de correntes nos pés a apanhar algodão ou com uma corda ao pescoço prestes a baloiçar no ramo de uma árvore. As únicas excepções são as celebridades: actores, comediantes, músicos, atletas de alta competição. Um branco pode apoiar a sua equipa da NBA inteiramente composta por jogadores negros e ao regressar a casa chamar "nigger" ao tipo que não lhe deu prioridade no cruzamento, e rir-se com o "talk-show" da Ellen de Generes, sem que isto o impeça de mandar umas "bocas" ao casal de lésbicas que frequentam o mesmo Deli que ele à hora do pequeno-almoço.



E como tudo isto começou? Simples. Um tal Abraham Lincoln, que tinha como objectivo unificar a América garantindo os mesmos direitos a todos os cidadãos ouviu um dia dizer que os escravos negros "queriam voltar para casa", ou seja, queriam ser libertados dos seus proprietários brancos e regressar a África, de onde foram sequestrados os seus ancestrais. Sim, era isso mesmo que eles queriam; se escutarem o cântico "When the saints go marchin' in", é isso que eles dizem lá. O problema é que os tais proprietários brancos, grandes latifundiários do sul, não queriam perder aquela mão-de-obra, e o impasse deu origem e uma guerra civil e tudo, da qual sairam vencedores os abolicionistas. Depois, "surprise, surprise", os ex-escravos não quiseram ir embora, afinal. E pensando bem, para quê deixar um país onde teriam garantida a mesma liberdade que os restantes cidadãos, enquanto que na África, que desconheciam por completo, ainda se arriscavam a ser novamente capturados e vendidos como escravos a outro país? E foi este ressentimento pelos anos de escravatura que causou todo este mal-estar a que assistimos: os ex-esclavagistas temiam a vingança dos escravizados, e estes últimos, uma vez mordidos, para sempre desconfiados. Mas depois ficaria tudo na mesma, só que o nome mudou para "segregação racial" - racismo sem correntes, portanto. No fim ficou tudo bem, pronto, todos votam, todos comem e bebem daquilo que lhes apetece, e epá, essa merda da escravatura acabou há 150 anos! Para quê arrastar o problema que uns gajos que morreram, foram enterrados e já nem cheiram levantaram? Sois gente ou sois cães de Pavlov, que respondem a impulsos?

Finalmente, a reportagem de Filipa Araújo para o Hoje Macau dedicada à comunidade filipina, e ao seu modo de vida. Este não é um tema novo, e de facto quer em matéria de condições laborais quer no que a qualidade de vida diz respeito, pouco mudou a comunidade filipina desde que tomei contacto com ela pela primeira vez, vai para mais de 20 anos. Pode ser que para nós portugueses pareça desumano partilhar o mesmo tecto com mais de dez pessoas, e quase todas estranhas, mas para eles tem sido assim quase desde sempre, e mesmo quando os precos da habitação eram mais acessíveis, regiam-se pela mesma conduta. Tudo bem, talvez não fossem doze a viver no mesmo apartamento, mas era comum encontrar casos em que eram oito ou nove. Os filipinos têm uma visão muito pragmática do seu papel aqui em Macau: vieram para trabalhar e não à procura de conforto ou qualidade de vida. Quem já teve a oportunidade de conhecer o interior daquele país, de onde são originários a maior parte destes trabalhadores migrantes, observou certamente que não vivem muito mais confortavelmente que aqui em Macau. Dormem no chão, em alguns casos três ou quatro casais mais os filhos. Portanto podemos dizer que o nível de exigência nunca seria o mesmo que o dos portugueses, que tantas vezes se queixam das rendas e dos aumentos das mesmas porque pretendem um estilo de vida próximo daquele que tinham em Portugal, onde não é tão difícil viver numa casa com perto de 200 m2 com garagem, dispensa e kitchnette, desde que não seja perto do centro de uma cidade.

Quanto à questão do vínculo laboral, aqui temos que ser tácitos. É verdade que um trabalhador não-residente não tem o acesso aos mesmos benefícios que um residente, quer permanente, quer temporário. Mas as coisas são o que são, e a modalidade do "blue card" consiste exactamente daquilo que promete, ou seja, muito pouco: uma mera autorização de permanência temporária com o fim de exercer uma tarefa, sem perspectivas de continuidade. Se há TNR que se vêm mantendo no território há 10, 15 ou 20 anos nesta condição, isso deve-se sobretudo à capacidade de encontrar um "sponsor", ou à generosidade do primeiro que tiveram, e que vem com eles mantendo uma relação laboral. É de facto injusto e até roça o desumano que as pessoas nesta situação contribuem também para o desenvolvimento de Macau, sem terem acesso aos cuidados de saúde e outros direitos, entre os quais os subsídios na educação dos filhos, uma vez que estes ficarão sempre dependentes do "blue card" dos pais - e querem o quê, se esta modalidade não prevê que venham para o território constituir família? A única alternativa é não existir "blue card" e não virem de todo. Contudo é fácil perceber que apesar de não ser tão lucrativo vir para Macau como era no passado, continuam a chegar trabalhadores das Filipinas.

Mas passando do generalista para o específico, e tendo em conta o tema deste artigo, leio uma caixa onde um trabalhador filipino da área da limpeza se queixa de "racismo", e tudo porque deixou uma casa-de-banho "limpa, e a brilhar", e a seguir o colega chinês sujou-a, estragando a sua obra, "por ciúmes". Aqui está um bom exemplo de como o racismo pode servir de desculpa para tudo e mais alguma coisa; o tal colega chinês não fez o que fez pelo facto do outro ser filipino, mas apenas para não dar a entender que não consegue fazer melhor. E vou dizer mais do que devia em relação a este assunto: vejo chineses a fazer exactamente o mesmo a outros chineses, e até em lugares da administração pública, quanto mais uma companhia de limpeza. Portanto isto é como tudo neste mundo, meus amigos. Se tivermos uma conta bancária recheada ou as costas largas, pouco importa se somos um chimpanzé ou o Brad Pitt. Caso tenhamos a aparência deste último mas sem ter onde cair morto, podem ter a certeza que o "racismo" entra aí a toda a força, e não vai haver SOS que vos valha.

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