segunda-feira, 15 de setembro de 2014

As rifas de Satanás



Hoje não foi 1 de Abril, e em Macau parece que nunca é. Aquilo que consideramos digno de uma "peta" do dia designado para esse efeito pode aparecer a qualquer altura do ano, seja Janeiro, Julho, Setembro ou Novembro. E não se riam, pois perante o desfile de situações que "parecem mentira" mas são levadas a sério e com cara de caso, os próximos podemos ser nós. Com a facilidade que se transforma o nada em algo de "ilegal", ou um simples cartão de visita com uma imagem mais ou menos sugestiva em "pornografia", chega a ser assustador. Qualquer dia alguém dá um traque, é detido e posteriormente acusado de homicídio. Cheguei a pensar que depende da ousadia do autor da flatulência, e que nada acontece se o traque não incomodar o Governo Central, "atrapalhar a campanha de um candidato" ou "confundir a população", que depois fica sem saber de onde veio aquele odor a ovo podre, e não consegue aconselhar o seu autor a "ver um médico", pois aquele fedor "não é normal". Perante estas novas evidências, o melhor mesmo é precaver-se, e nos dias em que come uma feijoada mais caprichada, é melhor deixar umas cartas escritas para organizações internacionais dos direitos humanos, ou outras que defendam o direito de cada um peidar-se à vontade.

E que novas provas de que isto começa a descambar para o degredo são estas? Os folhetos "pornográficos" pois então, este "crime" da moda, esse "mal" da sociedade, que a corrói e por muito que o pêssego aparente estar fresquinho por fora, o seu caroço está podre e infestado de bicharocos. Portanto ficámos hoje a saber que o Ministério Público considera "urgente" rever a lei que regula a Venda, Exposição e Exibição Públicas de Material Pornográfico e Obsceno, que é de 1978 e está "obsoleta". Desta forma espera-se acabar com esse malvado vício que é deixar por aí à mão de semear aqueles tais folhetos que vemos ali em cima na imagem, que alguém determinou serem "material pornográfico". Digamos por instantes que sim, que é pornografia aquilo que ali está. A Inspectora Heidi e o Inspector Bambi olharam para aquilo, deram uns gritos com uma voz fininha e foram-se esconder na cabana dos sete anões ou enfiaram-se debaixo da cama dos três ursos, pronto. O problema não é tanto os folhetos em si, estão a ver? Há um problema maior, e depois seguir as pistas que deixou pela floresta antes de deparar com a casa de gengibre da bruxa, o Ministério Público chegou à conclusão que “os bastidores desses crimes (?) envolvem o crime organizado", que incluí coisas horríveis, como "a exploração de prostitutas" que são controladas "mediante o uso de drogas, entre outros” - por "outros" suponho que as prostitutas sejam também obrigadas a ouvir "rock'n'roll". Deixemos agora o universo dos contos infantis; aqui para mim houve alguém muito influenciável que não devia ter visto o "Taken", aquele filme onde a filha do personagem interpretado por Liam Neeson é capturada por uma elaborada rede internacional de tráfico de mulheres para a prostituição.

Portanto vamos recapitular a lição dada até agora: se eu apanhar um desses folhetos com uma imagem de uma tipa de biquini a fazer cara de quem está sentada em qualquer coisa alta e dura (ou então está com prisão de ventre), e ligar para ela, vai-me aparecer a "vítima" de uma elaborada teia de criminosos internacionais que exploram a prostituição, e das eventuais mil rufas que me custar a queca, 900 vão para que um desses criminosos (políticos incluídos suponho, tal como nos filmes) compre um novo iate ou helicóptero. Estou então a comprar uma rifa que me habilita a um sorteio na barraca de Satanás, mas nada me acontece, enquanto os tipos que andam por aí a deixar espalhados pelo chão estes passes-sociais para o Inferno estão com pressa para irem drogar as miúdas, que depois chegam ao consumidor - eu - todas submissas, molinhas, e se calhar até a delirar, dizendo que "me amam", e que aquela "é a melhor queca que alguma vez levaram". Se eu ignorar os olhos revirados e espuma a sair pela boca, até pode ser que acredite, e dou o meu dinheiro por bem empregue. Agora tenho uma dúvida, e se a miúda chegar até ao consumidor - eu - sóbria, vivaça, atenta aos meus atributos físicos e viris, ou à falta deles, qual é o procedimento a adoptar? Basta dar-lhe uma carga de porrada que a deixe com os malares encostados à nuca ou vem uma grama de "cavalo" incluída no pacote em caso de emergência? É que quando se lança a brisa destas teorias descabidas, colhe-se o vendaval das perguntas parvas e inoportunas. Esta é a mesma teoria usada para enfiar os drogaditos miseráveis na cadeia e deixar cá fora os "tubarões" que na semana a seguir aparecem nas Forbes referenciados como "jovens empresários" ou "grandes produtores de agricultura biológica". Pois claro, dissuadindo os peões, estes capetinhas de Lúcifer que andam por aí a vender a sua taluda, acaba-se com a prostituição no mundo, pois os "técnicos especializados" que andam a raptar garotas e a metê-las na prostituição já têm essa função, e se os obrigam a fazer trabalho extra não remunerado ainda se queixam ao sindicato. Palmas, que brilhante raciocínio, e dedução, também. Elementar, meu caro Watson.



Agora como vi alguém mencionar, e bem, nas redes sociais, nem todo este material é "pornografia". Este por exemplo, que é igual ou pior e vem escarrapachado no jornal mais vendido do território, e na maioria das vezes nas páginas centrais, não tem mal nenhum, pois está perfeitamente licenciado, deixando assim de ser "pornografia". Se ainda não entenderam bem, eis como funciona: cartão de visita com um número de telemóvel onde aparece uma menina a fazer olhinhos e morder uma luva com caracteres em chinês onde se leia "liga-me": pornografia, crime, tráfico de pessoas, quilos de heroína a serem descarregados à porta dos asilos e dos infantários. Por outro lado: tipas a meterem marsapos de meio metro de cumprimento nos três principais orifícios em simultâneo e mais alguns que se possam improvisar durante o processo: legal, desde que esteja devidamente licenciado, pague contribuição industrial, imposto de selo, ofereça dez dias de férias por ano e duas consultas gratuitas na clínica previamente autorizada pela empresa, e no fim do ano ainda vemos as "profissionais" a marcharem para a caridade no evento anual organizado pela sua entidade empregadora - são aquelas que andam mais devagarinho, e com as ancas mais afastadas, coitadinhas, dia-a-dia ali a trabalhar honestamente, e ainda levam com a concorrência de drogados, assassinos, traficantes de pessoas e, os piores de todos, os distribuidores de cartões de visita, os homens-bomba da escravatura sexual. É assim tão complicado ou já entenderam?

PS: Sim senhor, gostei muito deste artigo, muito arrojado, uma ironia pungente, um toque de sarcasmo, não muito, não se vão ferir as sensibilidades, nem pouco, apenas o suficiente para nos acelerar o ritmo cardíaco em duas batidas por minuto. No entanto fico com a sensação que tivesse o cozinheiro à mão um Jason Chao ou outro democrata a distribuir os tais "folhetos pornográficos", enfiava-os na panela e estragava o guisado. Ele há escolas de culinária que marcam para sempre os "chefs", para o bem e para o mal.

1 comentário:

  1. Aqui em portugal nao existe destas coisas,se queremos ir as putas vemos anuncios do correiodamanha online ou ni jornnal.

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