sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Um calor do ca...
Foi hoje de 1 de Agosto, e tudo aqui esteve um fogo posto. Rima, e é bonito, mas mais bonito seria ficar em casa, debaixo do ar-condicionado, ou na cama a recuperar das horas de sono perdidas com os problemas que têm aparecido para resolver (nada de grave, mas chato na mesma). Andar na rua de casa para o trabalho e do trabalho para casa é que não dá, e ainda para mais com uma hora para almoçar, e mal está a arrefecer o motor, lá precisa ele de "arrancar" outra vez. Deviam pensar em adaptar Macau à população activa durante estes meses mais asfixiantes, sei lá, mas no que me toca já ficava contente se me viessem buscar a casa no carro da companhia - desculpem se estou a ser egoísta. Estar "acalorado" devia ser uma razão para meter um dia de baixa. Vou ver se consigo um médico que me passe um daqueles atestados malucos, do tipo "o funcionário tem um síndrome raro que o faz acordar às vezes por volta do meio-dia", e onde ficasse claro que era incurável, e qualquer procedimento disciplinar contrariava o mais básico respeito pelos direitos humanos.
Passar Agosto em Macau não é mau de todo, e recomendo. Férias judiciais, muita gente fora (a malta mais aborrecida faz sempre férias neste mês), e tudo a trabalhar mais a menos a meio gás, deixando os ossos mais duros de roer para Setembro, quando os miúdos já estão na escola e há mais tempo para pensar. Enquanto os saem, outros regressam, há amigos e conhecidos que vêem até cá matar saudades, e miúdas super-giras, de férias das aulas da universidade na Inglaterra, Austrália e todos os sítios que as tornam ainda mais giras, pois aprendem a ser mais cosmopolitas e a cada ano vão mostrando "vistas mais largas", que abriram os horizontes - sem malícia, entenda-se. Agosto tem estes predicados todos, mas o problema é o calor. O calor e a humidade. E o tufão. Qual tufão? Boa pergunta, mas sempre que o tempo está assim e mal se consegue respirar, a culpa é sempre "do tufão" - e não há maneira dele cá chegar. Gosta de chatear, é só isso. Mas quem olha para os termómetros e vê que no máximo fazem 32º celsius, vai pensar que estou a exagerar, mas o problema mesmo é a humidade. Ainda estou para saber que foi o sacrista que deixou a porta da sauna aberta. Um problema comum a outros países e territórios da Ásia, é certo, mas nesses pelo menos há sempre um sítio aberto onde corre uma brisa que seja, e aqui em concreto é só concreto (ena, esta foi boa, e saíu sem querer).
É lixado fazer planos com este tempo. Esta manhã só entrava depois das dez, e assim aproveitei para tratar de uns assuntos, ir a dois ou três sítios, aproveitar aquela hora para fazer os outros trabalharem para mim, só para variar. Sai-se de sítio "a" para "b", demora-se menos num do que no outro, e suam-se as estopinhas. O suor escorre que é um caso sério, e já prevenindo esta eventualidade trouxe comigo uma camisa para trocar, caso já tivesse perdido três quilos de peso em cima daquela com que saí de casa. Parei na entrada de um prédio ali para bandas do Mercado de S. Domingos, um lugar discreto e ideal para não dar muito nas vistas, e antes de vestir a camisa limpa aproveito para limpar o excesso de perspiração com a outra já suada. Olho para trás e está um palerma de um velho parado à entrada do prédio a olhar para mim, como se eu estivesse a praticar nudismo e se calhar fosse recomendável chamar a polícia, ou então "gostou de mim" - sabe-se lá, nem em Agosto os malucos tiram férias. Mandei-lhe um berro no meu melhor chinês rufia, que domino, de tão habituado que estou a ouvi-lo no dia a dia em toda a parte: "tai mei-ah???" (está a olhar para onde?). Pôs-se na alheta, o gimbra, e talvez eu tivesse reagido de cabeça quente; pudera, com o sol que já tinha levado em cima dela e ainda eram só nove e meia. Pelo menos deu para me recordar que ando a precisar de cortar a "gadelha".
Chego ao trabalho e ainda preciso de me sentar uns dez minutos e beber um litro de água gelada, enquanto me abano com qualquer coisa que dê para fazer de leque improvisado para voltar pelo menos à temperatura ambiente. Quando volto para casa enfio-me de imediato na banheiras, e apetece-me apertar o pescoço a quem se mete na frente e me faz demorar mais dois segundos nesse Inferno que é andar na rua. Isto preocupa-me, pois apesar de sempre ter sido calorento e nunca me ter conseguido habituar a este clima, ando mais sensível ao calor a cada ano que passa. Se fosse mulher diria que são aqueles sintomas que precedem a chegada da menopausa, os "afrontamentos", ou lá como se chamam. Ando com uns quilinhos a mais, sim, tenho negligenciado o exercício físico, confesso, mas não tenho bebido álcool assim por além (neste tempo sabem melhor os suminhos e a água com gás), e a última vez que medi a tensão estava tudo normal. Depois vejo os meus colegas a queixarem-se também, e mesmo aquelas sonsinhas que aproveitam a hora de almoço para andar às compras e não lhes escorre uma gota sequer pela testa abaixo diziam com um tom afectado que "estava muito calor". Que alívio, afinal não sou que estou doente, ou a morrer. Quer dizer, lá estar a morrer estou, estamos todos. No meu caso é mais grave ainda: estou a começar a ficar velho. Ou então ando com o RAM f... por culpa deste calor. Um calor do ca...
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